QUE EXCITA
(Foto by the Cat )
Quando era puto andei na vela.
Fiz uma regata.
Vila Franca-Alhandra. Norte-Sul.
Fui parar de baixo da ponte Marechal Carmona, bem no lodo. Atascados.
Não me perguntem como aconteceu. Acho que foi a corrente.
Foi a minha primeira e única regata, na vida.
O "Tavinho" estava fulo.
Eu confiava nele.
Diz que a culpa foi minha.
O tanas. Ele é que dizia que tinha experiência. Na verdade, chegámos antes dos outros todos.
Depois, os anos foram passando , a vida correndo,ao sabor do vento que a empurra.
A vela passou a ser algo colateral à minha existência.
Até há quarto ou cinco anos.
A minha empresa decidiu entregar-me o projecto America´s Cup.
Corrdenar editorialmente a operação.
Correu bem.
Depois vieram os MOD, os RC e mais uns quantos.
Chegou agora a Volvo Ocean Race.
Ok, vamos lá trabalhar.
Foi através do trabalho que comecei, finalmente, a perceber a dimensão da coisa.
Esta regata transatlântica é uma operação gigantesca e coordenada ao nanograma.
A organização tem dois set´s de vantagem.
Enquanto estão a desmontar a Race Village de Newport já montaram a de Lisboa e de Gotemburgo.
Talvez assim tenha uma noção do que isto é.
Isto é desporto. Isto sim, desporto. Ao mais alto nível.
Comecei a perceber a dimensão da coisa e a envolver-me intensamente, ao ponto de fazer coisas pouco habituais.
(Foto by Ana Colaço, miss RFM)
Apelo a sua inteligência para não questionar a parte de estar envolvido e a distância jornalística.
Se não era outra coisa qualquer que não jornalista.
Não é fácil criar distância, quando conhecemos um reporter onboard, um assessor de imprensa amigo, que nos dá boleia para o hotel, um skipper olímpico, simpático, ou um português que nos obriga a torcer por ele e pela sua equipa por causa da sua simplicidade e talento.
Não é fácil, nem eu quero que seja ao contrário.
O desporto, dizem, é feito também de amizade. E, como eu gosto de amigos, verdadeiros, raros.
Na vela tenho feito muitos amigos. Pessoas de profundo respeito.
Por isso, daqui a pouco, vou deitar-me, levantar-me e às cinco da manhã, vou com o Carlos Rodrigues para a doca de Pedrouços, para a Race Village da VOR.
Vamos trabalhar e vamos ter com os nossos amigos.
(Foto by the Cat )
Só começamos a fazer directos às sete da manhã, mas combinámos ir às cinco porque queremos estar lá para ver a ver a chegada dos veleiros, onze dias depois de terem saído de Newport.
Queremos dar um abraço aos nossos amigos, queremos sentir o reencontro deles com as famílias, queremos continuar a viver dentro do filme.
Às sete da manhã desligamos o interruptor.
Entramos em directo.
Ser jornalista tem destas coisas. Vivemos dentro da acção para a contar.
Ser humano tem destas coisas. Vivemos dentro da acção e sentimo-la.
Por mim estarei até ao Jornal da Uma em directo. A fazer directos de uma prova desportiva. Voltei ao desporto.
Isto sim, desporto.
Aqui sinto-me bem.
Tão bem que apostei comigo que um determinado amigo, que correu comigo nos Estados Unidos, vai correr comigo na mini maratona da Accenture. Ele é que ainda não sabe.
A mini maratino da Accenture é uma corrida solidária.
Dia 30 de Maio.
Cinco quilómetros que começam e acabam na Race Village, em Pedrouços, por entre veleiros e lobos do mar.
Uma corrida com o Tejo sempre ao lado. Às nove e meia da manhã. Melhor?
Nem comprando.
A mini maratona Accenture é uma corrida solidária, por isso os prémios vão para instituições de solidariedade social à escolha dos vencedores e segundo uma lista apoiada pela organização.
A Accentur faz 25 anos e decidiu comemorar com a Volvo Ocean Race Stopover Lisboa.
A prova é organizada pela Boulevard e pela Associação Correr Lisboa.
Partimos do palco, dentro da Race Village, vamos até ao Padrão dos Descobrimentos, pela Avenida Brasília e voltamos à Race Village.
Tenho para mim que vou sugerir uma reportagem em movimento.
No fim vou receber uma medalha e dar um abraço ao meu companheiro de corrida. Um amigo novo. Grande.
Só que ele ainda não sabe.
Agora vou dormir que daqui nada vou estar num "excita", valha-me deus (se ele existir).