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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

11.03.16

O TRIUNFO DOS PORCOS


The Cat Runner

PORCOS.jpg

 

- Ainda bem que vieste.

Vou contar-te uma coisa; ando para aqui a contas com um bloqueio.

- Por causa dos suínos?

- Quais suínos?

- Não foste hoje fazer directos do bloqueio dos produtores e criadores de porcos, por causa da...

- Fui, mas o que é que isso tem a ver com o meu bloqueio?

- Desculpa, não te queria ofender.

- Não ofendeste, embora indirectamente me tenhas chamado porco.

- Não digas uma coisa dessas, pá.

- Foi o que aconteceu. Pelo menos eu senti-me.

- Aquilo deu em nada.

- Acho que eles só queriam pressionar.

Disfarça...

- Então qual é o teu bloqueio?

- Mental (gargalhada).

- Mental...

- Há montes de tempo que não me sai uma ideia para escrever.

- Idiota.

- Menos.

- Menos idiota, na verdade é isso.

- Isso, embora me soe de novo a ofensa gratuita.

- Há ofensas pagas?

- Não, mas às vezes há ofensas legítimas.

- Em legítima ofensa?

- Ou isso.

- Mas porquê?

- Sinceramente, achas que isso é pergunta que se faça?

- Porque não, não somos amigos?

- Somos, mas há pessoas - poucas - a ler isto.

Achas normal vir para aqui responder-te a esse tipo de perguntas?

Acaba-se já aqui. Está entendido?

- O chefe manda!

- Mando-te é para aquele sítio...

- Pára, há pessoas a ler isto!

- Bom, normalizemos.

Sei lá porquê, é um bloqueio constante.

- Se calhar porque andas pouco a pé.

- Eu?

Sim, eu corro de carro, estiveste a fumar cenas?

- Não, meu, passas a vida no carro ou no trabalho.

Andas pouco a pé, pelas ruas, vês pouco, não...

- Calma.

Não o quê?

- Não te confrontas com as histórias das pessoas, passas a vida dentro de um casulo que quase inferniza.

- Achas que ando bloqueado de inspiração por causa...Eu conto histórias de pessoas, não preciso andar nas ruas, embora ande, achas...

- Acho, claro que acho.

- És capaz de ter razão.

Esta tarde um amigo sugeriu-me escrever sobre as coisas pequenas da vida, que são as mais importantes.

- Posto isso decidiste consultar-me.

- Isso.

- Isso o quê?

- Pá, não ia voltar a escrever sobre o facto de precisar de estar sózinho, de tempos a tempos, e depois sentir um imenso vazio.

- Certo.

- Também não vou maçar outra vez as pessoas com aquela coisa de sermos mais humanos, menos maus uns com os outros...

- Sim, já chega de lamechas. Tenho reparado que tens passado os últimos tempos nisso...

- Podia escrever sobre corrida.

- Podias?

Se calhar se tens ido correr hoje até podias, assim...

- Assim o quê, pá?

Estás a insinuar que ando a cortar-me...

- Não, só que podias ter ido.

- E depois estava, como das outras vezes, até às tantas a escrever...

- E então?

É fim de semana.

- Não me digas nada, vou estar a trabalhar no fim de semana da meia maratona.

- Jura?

- Juro (agora dizia uma asneira).

- Ganda galo.

- Primeiro, porco, agora...

- Pelo menos tens o sentido de amor intacto.

- E o de humor também.

- Ias a dizer...

- Ia a dizer que podia ter escrito sobre a cena de hoje dos porcos.

- O triunfo dos porcos.

- Nem vê-los. Não vi nem um. Nem na televisão, não vi televisão.

- Então escrevias o quê?

- Olha, escrevia sobre aquele par de horas em cima da ponte do Pragal a detectar camiões com sinais de suinicultura.

IMG_8980.jpg

 

- Deve ter sido interessante.

- Por acaso foi. Fazia vento que se desunhava.

Mas via-se bem o Cristo - Rei, a Paula é uma bacana e os PSP que estavam connosco ajudaram a matar o tempo, salve seja, que não houve recurso a armas de fogo.

- E bloqueio?

- Zero. O trânsito flui normalmente no tabuleiro da ponte 25 de Abril, para esta hora da tarde. Alguma intensidade de trânsito, por causa da hora de ponta, mas nenhuma ocorrência a registar.

- Disseste isso?

- Achas?!

Não, mas podia ter dito.

- E os porcos?

- Zero. Nem um. Mas fazia sentido, Setúbal, Montijo e Alcochete têm muita pecuária e suinicultura, podiam ter entrado por ali.

- Então porque é que não entraram.

- Entraram, mas o grosso veio do Oeste, pelo Oeste e pelo Norte de Lisboa.

- Entraram?

- Ya, só que devem ter-se enganado ou assim, e vieram a conta gotas, quero dizer, eu acho que vieram.

Sabes quantos camiões passam todos os dias na ponte 25 de Abril?

- Não faço a mínima.

- Nem eu, mas são muitos. E com marcas de rações, de talhos, e por aí fora...

- Pois, devem ser muitos.

- Alguns traziam um cartaz com a cara de um porco, os porcos têm cara?

- Essa obriga-me a pensar.

- Rápido, estamos quase a acabar.

- Desenho.

- Queres um?

- Não, os camiões traziam desenhos de porcos...

- Mas não eram porcos inteiros, nem era só focinhos de porco.

- Sim, mas os porcos não têm cara, acho eu.

- Também acho. Há que fale em cabeça de porco.

- Os porcos têm cabeça, disso não tenho dúvidas.

- É um facto.

E pés.

-Também traziam pés de porco?

- Pézinhos.

- Isso quase dava um cozido à portuguesa, em directo.

- Só fiz quatro.

- Claro, os porquinhos têm quatro pézinhos.

- Outra vez?

- Desculpa. Saiu-me.

- Não traziam nenhuns pézinhos de porco, até porque os porcos não tê pés, patas.

Eles têm patas. Eram cabeças de porco desenhadas.

- Calma, acalma-te. Os porcos não têm cara, nem pés. Pronto.

- Pronto.

- Pronto.

- Estamos sem assunto?

- Parece!

- O meu amigo bem dizia que devia escrever sobre as pequenas coisas da vidas...

- Que são as mais importantes?

- Que são as mais importantes.

- E escreveste. Escreveste sobre os porcos. Coisas pequenas...

- Isso são leitões, é crime, mas sim, de facto, se olharmos na perspectiva da salsicha fresca com lombarda, sim, posso dizer que foi isso que aconteceu.

- Amanhã vais ao sushi com os putos, já que estás outra vez pai solteiro?

- Não. Eles acham que sim, mas não.

Vamos ao Chico comer uns pézinhos de coentrada.

- De porco?

- Não, de coentrada.

Se me voltas a chamar porco juro que nunca mais olho para ti.

- Seu porco!

- Porco, mas triunfante...

- Foi por isso que te sugeri o título do texto: O Triunfo dos Porcos.

- Bem visto.

Queres vir amanhã almoçar?

- Não posso, tenho pézinhos de porco.

- O que isso te deve custar a andar...

- Já tenho ortopedista marcado.

- Depois dá notícias, um abraço.

- Agora só na segunda feira.

Fica bem, até amanhã.

 

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