Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

30.11.18

O QUILÓMETRO 25 - PALESTRA MOTIVACIONAL GRATUITA -( DIA 82 DA MARATONA)


The Cat Runner

IMG20181130175705EasyResizecom (1).jpg

 

Faltam 17 quilómetros para chegar ao fim.

A escrita já vai cansada, dura, mas resiliente.

Adoro desafios, passo-me com desafios, são os desafios que me guiam todos os dias há 49 anos. Dia-após-dia.

Mais que não seja, o desafio de me levantar da cama. É um desafio, sobretudo, em dias como estes, frios, chuvosos, nebulosos, como eu gosto.

Sou um tipo às cores, mas gosto do Outono e das suas tonalidades, do seu frio, aconchegado pela lareira. Foi um aparte.

Adoro desafios e, correr é cada vez mais um desafio, porque a idade também vai correndo e tudo pesa muito mais, ano-após-ano, há-de lá chegar e constactar.

Correr passou a ser um desafio constante na minha vida há já cinco anos. Ou só há cinco anos.

Soubesse eu o que sei hoje.

Vejo-os, aos corredores, passar a alta velocidade e fico feliz, não com aqueles malandros que não sabem mudar de esquina, mas com aqueles malandros que começaram a correr, inspirados nas minhas corridas e, hoje são autênticos bichos. Com esses fico feliz.

Fazem-me lembrar os jornalistas, a quantidade de jornalistas que formei, ao longo destes anos, que me passaram pelas mãos e que hoje estão aí, a fazer as suas coisas, felizes, sem serem malandros, ou ainda assim, malandros.

O malandro aqui é no sentido positivo da palavra, seu eu quisesse dar o sentido mais próximo usava a palavra cabrões, ou filhos da puta, ou assim.

Não faça juízos errados da palavra malandro, neste texto, aqui tem um significado fofinho

Malandro que é malandro não estrilha, muda de esquina.

Sou um tipo que quase toda a vida viveu acima do seu peso, há quem viva acima das suas possibilidades, mas esta frase faz-me lembrar aquele governo que nos ia matando a todos.

Não gosto dela, só a adapatei.

Quando me nasceu esta louca ideia, poucos acreditaram que eu conseguisse correr uma maratona. Não me conheciam bem.

Muitos me apoiaram, depois de começarem a acreditar. E, começaram a conhecer-me melhor.

Fico e sou feliz por mostrar e provar o contrário.

Fui para Berlim com 79 quilos, uns três quilos a mais do que devia, mas fui, e fiz, e acabei e tornei-me maratonista.

O grande campeão Carlos Lopes dizia-me há uns meses, em Viseu, quando lá estive a convite do meu amigo Jorge Quaresma, na última prova em que participei do circuito Running Wonders, que eu não era maratonista.

Insinuou que nem eu nem a maioria dos que correm maratonas, por prazer.

Claro que, ao pé dele, nem um protótipo de maratonista eu seria e, por estranho que possa parecer,  concordei com o campeão, que me inspirou e inspira desde Los Angeles.

Ainda assim, respondi-lhe: "eu sou maratonista"!

Ele sorriu e deu-me uma suave palmada nas costas.

Ele foi profissional das corridas, eu sou profissional da comunicação, como outros são profissionais de outras áreas.

Garantidamente, Carlos Lopes nunca faria um “directo” ou apresentaria um telejornal tão bem como eu, por isso ele nunca seria um homem da comunicação.

Por isso, eu não sou maratonista. O que ele disse, da forma como o disse faz todo o sentido.

Sou apenas um tipo que começou e terminou uma maratona.

Por isso a maioria dos “malandros”, com aspas, e não malandros, sem aspas, onde me incluo, nunca serão maratonistas. O Carlos Lopes é.

Só que isso não nos retira, a uns e a outros, o orgulho de dizermos que somos maratonistas, que corremos uma maratona, porque para nós é isso que somos, é isso que nos sentimos, foi isso que fizemos.

Eu corri a maratona de Berlim e tornei-me num homem diferente, mais feliz, mais de bem com a vida e com os outros, não só por ter terminado aquilo, mas porque sei que continuarei a inspirar homens e mulheres (gordinhos) a tornarem-se activos, saudáveis, felizes, como eu. Isso eu sei.

Os últimos cinco anos provam o que digo.

Na verdade, a distância que eu mais gosto de correr são os dez quilómetros, que me deixam à beira do abismo, mas  inundado de prazer por todos os poros.

Só corro meias maratonas ou porque fui embaixador oficial de um circuito (uma vez), ou porque de tempos a tempos gosto de me colocar à prova, para lá dos desafios diários.

Ver como estou e o que consigo fazer, só por isso, ok, também porque como conheço centenas de pessoas das corridas, aproveito para matar saudades e, divirto-me.

Faço umas trê sou quatro meias maratonas por ano. Chega-me.

Não que as meias me dêem prazer, muito menos a maratona.

Mas, pelos motivos acima explicados.

Quanto aos cinco quilómetros, aquilo, para mim, é uma espécie de ejaculação precoce, pouco mais.

Os dez quilómetros, isso sim.

E, vou confessar, os dez quilómetros que mais gozo me dão, em prova, são os da São Silvestre de Lisboa, a cada 29 de Dezembro, em cima do Natal.

É magia.

As luzes, a cidade, as pessoas, o cheiro das castanhas assadas, a névoa, os abraços.

Magia.

Nas corridas longas, o meu "problema" é simples, por isso corro-as, de tempos a tempos, cada quilómetro que eu venço numa meia maratona (e na maratona, porque hei-de correr mais umas quantas) traz-me uma alegria imensa, aquele sentimento da superação ja tantas vezes falado, mas que é real, aquela sensação que me empurra, porque se eu quero, eu consigo.

Um mantra.

Se eu quero eu consigo.

Tem tudo a ver com motivação. Inspiração. Assim levo a vida. Assim vim de Berlim.

A maratona foi um dos meus maiores desafios, desde os treinos até o dia da prova. Todo este processo obrigou-me a olhar para a vida de maneira diferente e ao cortar aquela meta percebi que tudo aquilo que queremos só depende de nós, nunca dos outros, somos nós que comandamos a nossa vontade, a nossa força, o nosso querer, somos nós o nosso próprio exemplo. Foi isso que conclui, para além da maratona, não me canso de sublinhar isso, eu acabei aquele cena.

Mostrei a mim mesmo o controlo emocional que desconhecia, os limites físicos que nunca tinha enfrentado, a vontade de chegar, de ser o que sou. Vim de lá com isso.

Aprendi a ser mais humilde, a jogar como a minha própria fragilidade, mas também aprendi a força que tenho.

Aprendi a usá-la, a meu favor.

Aprendi a usar tudo isto, nestes meus desafios diários, que é viver, sobreviver, tentar ser exemplo, tentar ser feliz, tentar fazer quem me rodeia feliz, e já lá vão 49 anos.

Desde Setembro que sou outro homem. Em todos os aspectos. Obrigado, Berlim.

Depois da me tornar maratonista, apesar do meu querido Carlos Lopes achar o contrário, fiquei com uma certeza;

Para mim, o céu é o limite.

O inferno é só o caminho para lá chegar.

Entre mim e Deus, venha o diabo e escolha.

Que a mim não me agarram.

Sou um malandro, sem aspas.

A quantidade de vezes que eu já mudei de esquina, nesta rua da vida.

A maratona de Berlim só veio mostrar-me o caminho.

Entrámos no quilómetro 26 !

 

( Be Happy )

 

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.