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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

13.11.18

O QUILÓMETRO 22 - "AMOR ETERNO" - ( DIA 79 DA MARATONA )


The Cat Runner

 

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Eu confesso que não fiz de propósito.

Corri, aqui, o quilómetro 21, o da meia maratona, numa corrida que entremeou as palavras dando-lhes um carácter metafórico; a meia maratona, a metade da vida.

Se eu quisesse que fosse de propósito não ia conseguir que, o quilómetro 22, o primeiro depois da viragem da metade, o início da segunda parte da corrida, coincidisse com o dia do meu aniversário.

Hoje faço 49 anos.

I-na-cre-di-tá-vel !

Eu nunca imaginei chegar até a esta fase da “prova”, eu nem sequer me imagino a correr para o fim da corrida.

Leva-me este dia de aniversário de volta a Berlim, à minha primeira maratona.

Estreei-me com 48 anos, era um jovem.

Uns cinco quilos depois - tenho-me baldado um tudo nada -, que precisei de me desligar da obrigação de correr, dou comigo a pensar se algum dia eu irei correr mais uma qualquer maratona, tirando esta, a da vida, esta eu, se pudesse, correria eternamente.

Não me apetece morrer, um dia, sei lá.

Mas, não somos (até ver) eternos.

Há-de estar a pensar: o que é que a maratona tem a ver com o aniversário dele, a não ser a ligação entre a meia maratona e a segunda metade da vida?

Pois bem, digo eu, que sou quem está a escrever e a correr, tem muito a ver.

Já percebeu que eu não me limito a contar episódios que me aconteceram na maratona, em Berlim, eu pego nesses episódios e comparo-os com pensamentos, meus, reflexões, minhas, situações que vivi, e crio estes textos, corro esses quilómetros.

Também já reparou, por isso, que eu não retrato, em rigor, cada quilómetro que corri e que aqui escrevo. Senão, isto não tinha piada, era cansativo, mais do que correr a maratona, e ninguém  ia ler o que eu escrevo, com tanta dedicação e alma.

Foi uma fórmula que eu decidi seguir e que tem resultado, as pessoas leem, anseiam pelos textos, as que leem, porque se divertem, aguardam pelo próximo quilómetro e isso, tal como na maratona, em Berlim, faz com que eu não páre e siga até ao fim.

Chama-se incentivo, apoio, atenção, chega a chamar-se afecto, eu acho. Eu acho que as pessoas que me leem têm afecto por mim e eu tenho imenso respeito por elas, de outra forma não seria capaz de escrever, sem respeito.

É um turbo que dá power nesta corrida saborosa, por vezes dramática.

Escrever é dramático, para quem escreve, embora seja saboroso.

Muito bem, eu hoje faço anos, eu corri a minha primeira maratona, faz daqui a três dias dois meses e, tal como naquele domingo de Setembro, também hoje, neste dia especial, bastante especial (em breve explicarei porquê, que agora não posso, nem devo) recebi uma mensagem daquelas que jamais irei perder de vista, jamais irei deixar escapar do meu coração, jamais irei permitir que dela não me lembre.

Tal e qual como a mensagem que recebi em Berlim, depois do maior feito da minha história, a nível fisico e mental.

Muitos parabéns, amor da minha vida”, apitou o telefone, bem cedo.

Agradeci-lhe e disse que comecei o dia a correr.

“Gosto de saber que comecaste o dia dos teus 49 anos cheio de energia”.

Disse-lhe que vamos ficar juntos para sempre, como sempre lhe prometi.

“Sim…juntos até sermos velhinhos”.

É uma ideia que temos desde os nossos 15 anos, altura em que nos conhecemos e começamos a namorar, até hoje. Acabar a nossa vida, juntos, velhinhos.

"Muitos parabéns, velhote", esta ela nunca me tinha dito. E não me soou mal de todo, dito por ela.

Esta mensagem, devido a circunstâncias, que serão conhecidas em outra altura, encheu-me os olhos de sal, rasos de Lezíria, como canta a canção.

Fez-me sorrir de orelha a orelha mas, aquilo que provocou em mim, foi uma clara definição que há muito eu tinha perdido de vista: eu sou um homem feliz!

Foi a Carla, o grande amor da minha vida quem me enviou a mensagem.

Foi a ela que eu escolhi para ficar a meu lado a vida toda.

Foi a mim que ela escolheu para ficar a seu lado a vida toda.

Apesar da vida.

Apesar das armadilhas da vida.

Apesar das distâncias da vida.

Só a vida tentou trair o nosso amor, nunca conseguiu e nunca irá conseguir, porque ele é para sempre. Para lá da vida, até.

Agora, entrado na segunda parte da maratona, tenho a certeza que ficaremos de mãos dadas até que apenas a morte no separe. Apenas ela.

E, nem isso será um dado garantido, porque nós seremos um só, para lá da eternidade.

Quando estava entre o quilómetro 41 e o 42, o último da maratona, em Berlim, numa altura em que estava emocionalmente de rastos, como acho que nunca tive, dei de caras com a Carla, numa lateral da avenida, a escassos metros das Portas de Bradenburg.

Foi o maior dos abraços das nossas vidas.

Hoje, não será possível dar-lh esse abraço, não seria tão forte e intenso, como aquele, será difícil abraçar-nos, como naquela manhã. Mas, sería tão mas tão bom.

Fundimo-nos e assim ficámos, para sempre.

Hoje recebi a mensagem que me encheu os olhos, a alma, o coração e o sorriso.

Naquele dia de domingo, a Carla publicou a foto desse nosso abraço, dado em Berlim, na recta final da maratona.

 

O sonho ia ser real, como quando sonhámos ser marido e mulher.

Nunca antes ela tinha tido tamanha manifestação de amor, por mim, publicamente, tirando o dia do nosso casamento.

Ela gosta de passar discreta. Eu gosto dela assim.

Naquele dia não, naquele dia, depois daquele abraço, ela sentiu, decidiu, que o mundo devia saber a nossa história, a sua versão.

Naquele dia, naquele domingo, ela publicou a foto do abraço, a mesma deste texto (repetida, hoje, deliberadamente) com uma mensagem que me calou ainda mais fundo do que aquela que eu recebi hoje.

Dizia assim:

“Foi este o momento que fez tudo valer a pena”.

A Carla, desde o início, soube aquilo que significava para mim correr uma maratona, o simbolismo, a transcedência, o ir para lá de tudo, para tudo provar, para tudo selar.

Aquela fotografia selou o ciclo.

O ciclo terminou.

O ciclo começou.

A mensagem dela falava dessa fotografia.

A mensagem dela falava de nós.

Hoje, aqui, digo-te eu, digo ao mundo, não chega dizer-te obrigado. Não chega, nem nunca chegaria.

Uma palavra não chega para uma vida inteira, quando dois são um e assim serão, para todo o sempre.

Havemos chegar a velhinhos, de mãos dadas, lado-a-lado, como sempre sonhámos.

Como eu te prometi, quando eramos miúdos e eu comecei a namorar com a miúda mais gira do liceu.

Amo-te, para sempre, meu amor.

Entrámos no quilómetro 23.

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