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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

26.04.24

Farewell


The Cat Runner

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A palavra farewell não é tão pesada quanto a palavra adeus.

A palavra adeus não sabe as reticências que encerra a palavra farewell.

Um dia, as duas decidiram sentar-se uma vez à mesa, frente-a-frente.

A primeira e última vez cara-a-cara. Farwell e adeus.

Fundiram-se e ali ficaram, a tentar saber os segredos da corrente do rio, que caminha para a foz, onde se dispersa, foge e se transforma no mar.

Na outra margem, os olhares vêem os instantes silenciosos que fazem as palavras perderem-se em ecos surdos. Um grosso vidro serpara aquilo que nada conseguia separar.

A despedida, sem o pesar da partida, porque a palavra farewell vai para lá do adeus e fica muito antes dele, pode ser doce porque é sempre cortante.

Quase como uma promessa que jamais será cumprida.

Aquele momento, em que a possibilidade poderia ser, dois em um, entre o paradoxo do medo e da coragem.

E, foram.

E, escolheram não o ser.

O medo que sussurrava dúvidas e incertezas que serão sempre isso, reticências.

Olhares presos, que duas margens libertaram de um passado, em instantes de silêncio e de medo de olhar em frente.

Morreu ali a segurança do conhecido, embalada pelas correntes do rio, que correm para o desconhecido, onde as oportunidades e os horizontes são infinitos. Deu lugar a nada, porque o oceano não tem tamanho.

Um confronto onde o conforto se torna desconfortável.

O farewell, a encruzilhada onde o destino se desenha com traços carregados, porque o adeus não se desenha, mata!

As lágrimas como o rio que termina no horizonte, do outro lado das coisas, naquela outra margem, desconhecida, naquele momento singular, o silêncio.

O até breve, de lágrimas que caem a conta-gotas e se confundem com sorrisos involuntários, denunciados pelo canto da boca.

A certeza que o tempo se encarrega de dizer que é a grande certeza.

E, o sol desceu e o adeus chegou e o silêncio foi tudo o que ficou e o olhar que ecoa e os sorrisos sem conseguirem promessas e os infinitos e os reencontros e o vento.

O vento traz a melodia que nem as palavras  conseguem agarrar, o vento entra pelo lado da cozinha, nunca entra pela porta da frente.

Aceita e resiste, voa e agarra-te, larga a lembrança e saboreia a inevitabilidade, deixa a dieta e come liberdade, mata os fantasmas e torna-te fumo branco, porque a única coisa constante é a mudança.

Um instante. 

O farewell não permite que caiam lágrimas, com  brilho de esperança, é a única parceria que tem com o adeus.

O farewell engole o adeus, porque mesmo na despedida há promessas de novos começos, novos encontros e, sem querer, acaba por ser uma celebração, de um caminho partilhado, numa mesa, com vista para um rio.

Num mar, numa praia.

As palavras começam a desvanecer-se, enquanto um volta a ser dois, almas que se desagarram, se libertam e se tornam nevoeiro, quando voltam os dias cinzentos.

E, num momento, de costas voltadas, o repente, o abraço e o beijo.

O farewell é um adeus e sabe-o bem.

Só que diz adeus com muita educação, simpatia, como que a dizer, não é adeus.

Mas é!