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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

12.06.19

EU JÁ FUI ISTO E AQUILO


The Cat Runner

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A vida é dez porcento do que nos acontece e noventa porcento de como reagimos.

Comprovei isso nos últimos tempos.

Chegou a hora de reagir.

Comodismo.

Acomodamo-nos.

E, assim ficamos.

Há nove meses corri uma maratona.

Hoje, não consigo correr cinco quilómetros seguidos.

Comecei a ganhar peso – a engordar -, comecei a fumar, comecei a criar hábitos maus, errados. Eu sabia que eram errados.

Passei o último ano deitado no sofá, ou quase. Horas a mais. Muitas horas a mais.

Tenho estado fora do circuito activo.

Quando tudo isto começou, aliás, tudo isto começou porque estava à beira de um “burnout”, uma neologismo engraçado que não mais é do que exaustão. Quando tudo isto começou soaram campaínhas dentro da minha cabeça.

É também esse alerta que quero deixar;

cuidem-se, só assim faz sentido, abdiquem, arrisquem, ousem, mas cuidem-se.

Vivi um ano e meio em contra-ciclo, à noite.

Eu vivia de noite, enquanto o mundo vivia de dia.

Profissionalmente foi assim. Pessoalmente, como consequência, também.

Estava a tocar na fina linha que nos separa da normalidade aparente e da anormalidade constante.

Antes que queimasse, como muitos colegas meus – nem imagina quantos -, antes disso fui ao médico.

O médico mandou-me parar imediatamente, descansar, viver, comer, rir, estar com os meus filhos, olhar o sol, sentir a brisa, correr, sim, mandou-me, ordenou-me que corresse e mandou-me ser feliz.

Ordenou-me que me afastasse e eu afastei-me.

É o que tenho feito no último ano, tentar ser feliz.

É uma carga de trabalhos, ser feliz.

Ser feliz é uma equação que não vem em nenhum exame.

Agora, preparo-me para regressar de onde saí e ocupar o lugar que me pertence.

Mais um ou dois meses e, creio, estarei em condições de recomeçar, porque é de um recomeço que se trata. A todos os níveis, profissional, pessoal, físico, mental e como eu adoro recomeços.

Há sempre uma caminho que desafia, quando se recomeça.

Só que olho-me ao espelho e não gosto do que vejo.

Envelheci, neste último ano, embora o rapaz do ginásio lá em Lisboa me tenha dado 35 anos.

"Juro", disse ele.

Ainda há gente simpática.

A roupa deixou de me servir, sinto-me pesado, não me sinto bem comigo. Já nem me sinto giro. A sério, vezes houve em que me senti giro. Houve vezes em que senti que só tinha 35 anos.

Pior, não me sinto saudável, de todo.

Mentalmente estou pronto, fisicamente não estou saudável.

Eu sei, deve estar a pensar, não é normal estes "tipos da tv" abrirem-se tanto ao mundo, mas eu penso exactamente ao contrário.

Penso que os "tipos da tv" tem o dever de, através do exemplo, em imensas áreas da nossa vida, alertarem, avisarem, aprenderem, também.

É disso que trata este texto, não tanto da minha história.

Um alerta, para quem o aceitar.

Eu já fui isto e aquilo.

Irei ser eu, de novo.

Cheguei a um ponto em que o exercício já não produz resultados e não posso intensificar o exercício por causa do peso a mais.

Continuo a treinar, mas sem a intensidade de outrora, sem o prazer de outrora, sem os resultados práticos de outrora.

Mais do que correr caminho.

No Muay Thai estou sempre desejoso que o treino acabe e só lá vou de vez em quando.

Nada disto era assim.

Não pode ser assim, porque eu já fui isto e aquilo.

Transformei-me numa palavra que acabo de inventar: sedentário-activo.

Já tentei tudo, treinadores, PT´s, programas na internet, tudo, bom, tudo não.

É aqui que esta história começa a ter interesse, pelo menos, para mim.

É que tudo tem que ter um fim. E, tem !

Eu já derrotei uma depressão grande, há quase vinte anos, eu já derrotei o “burnout”, há cerca de um ano, eu até já corri uma maratona, algo que, provavelmente, nunca irá conseguir fazer, caro(a) leitor(a).

Não se ofenda. É mesmo assim, há coisas que são como são. Provavelmente fará coisas que eu nunca farei. É por aí. Não se ofenda.

Nem siga o meu exemplo, mas olhe para o meu alerta.

Foi esta paragem quase-voluntária,  longa e forçada, que contribuiu para o meu desleixo. Não encontro palavra mais adequada. 

Comecei a não sentir motivação, para nada.

O sofá, pouco mais.

Ter corrido uma maratona foi um erro.

Um momento impactante, marcante, inesquecível, mas um erro.

Nunca o devia ter feito. Roubou-me todo o prazer e sem prazer o homem é apenas uma coisa qualquer.

Roubou-me o prazer de correr e eu roubei-me o resto.

Comodista. Acomodei-me. Errei.

Tudo isto é exactamente aquilo que não deve acontecer. A ninguém, muito menos a alguém, como eu, que já esteve onde quis estar, como quis estar, quando quis estar.

Eu já fui isto e aquilo.

Puxei, uma vez mais, da minha resiliência, a mesma que me fazia terminar as meias maratonas depois de um esforço imenso e lancei-me o tal desafio: voltar à normalidade aparente.

Work in progress.

Amanhã tenho uma consulta marcada com uma nutricionista.

Começo do zero e, quando regressar à televisão, o mesmo é dizer à vida activa, quero chegar no meu melhor, como sempre.

Quero voltar a ter prazer em fazer televisão, algo que me foi retirado, se calhar por mim próprio, quero recomeçar a correr (muito) como fazia há um ano e a ter prazer, quero que a roupa me volte a servir, quero voltar a olhar-me no espelho e sentir-me giro, quero ser feliz.

A felicidade divide-se em duas metades.

Uma é estar longe do que é tóxico. A outra é voltar para lá, depois da desintoxicação.

Sinto falta, saudades, de tudo.

Eu disse que amanhã vou a uma consulta de nutrição.

O objectivo nesta fase é acelerar o metabolismo, utilizando a gordura como fonte principal de energia.

Inclui-se nesse objectivo perder dois quilos por semana, oito, num mês.

Nessa altura estarei de regresso à minha vida profissional, entretanto, com alguns projectos novos, que estou a desenvolver, pelo meio (a seu tempo darei conta) e entrarei na fase II do plano.

O objectivo nesta fase é esgotar as reservas de gordura e identificar os elementos que promovem a perda de peso.

São mais quatro semanas.

Um quilo, a menos, por semana.

Estamos a falar de doze quilos.

Daqui a dois meses estarei com o meu menor peso dos últimos quinze anos.

Chegado aqui, à última fase, com o organismo reeducado, com hábitos de vida alterados, com a alimentação bem encaixada no meu perfil físico e psicológico, o principal objetivo é ser capaz de manter e gerir o peso.

Estarei, seguramente, a praticar desporto, como antes, terei deixado de fumar, farei uma alimentação saudável, variada e equilibrada. Estarei a trabalhar. Sinto falta de trabalhar.

Acho que é aquela cena da crise da meia idade, como se quando eu fizer 50 alguém me garanta que vivo até aos 100.

Meia idade my ass.

É uma das minhas palavras preferidas: mudança.

Fica o meu compromisso;

daqui a dois meses, no máximo, estarei de volta e voltarei como nunca antes o fiz ou estive.

Quem me conhece sabe que se há coisa que sou é determinado, obstinado, resiliente, capaz de cumprir aquilo com que me comprometo, sobretudo, comigo próprio.

Depois, pode ser que volte a caber dentro do ecrã da televisão.

Mas, isso já não depende de mim.

Pelo menos dentro dos fatos irei caber, de certeza.

Não sigam o meu exemplo.

Quando entramos pelo cano é difícil sair dele.

Eu sei sair.

Já saí várias vezes.

Estou a sair, neste preciso momento.

Q

 



 

 

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