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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

12.05.17

EU, CORREDOR, ME CONFESSO


The Cat Runner

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Encontrei muitos peregrinos nestas duas últimas semanas.

Quando digo muitos quero dizer muitos mesmo.

Vinham todos da Estrela do Sul, lá do lado longe, que lhes oferece a caminhada obstinada, que se-me atravessam ao caminho, de frente, fé.

Durantes as duas últimas semanas encontrei e cruzei-me com muitos peregrinos, todos os dias, enquanto corria no meu santuário espiritual, junto ao meu rio de afectos. Via-lhes no rosto, afecto, felicidade, ou quando saía da auto-estrada, para entrar no meu mundo secreto, casa, família, trilhos.

Todos os dias, nas duas últimas semanas.

As imagens que guardo são dos dias de corrida.

 

 

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Raramente tenho corrido em outro sítio, nas duas últimas semanas, que não no jardim, no passeio ribeirinho, um caminho meu e dos peregrinos como eu, não somos todos?

Um caminho que se revela ao quilómetro 120, que o marco assinala-o, à entrada do jardim, do lado esquerdo de quem se dirige ao seu santuário, que aquele é o escolhido por mim, por ora

Um caminho, dizia, que está no eixo-central da rota dos peregrinos e no caminho da minha vida, dos meus passos.

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Mas, longe dali, a uns dez quilómetros, a distância que normalmente corro, passam peregrinos a toda a hora, mesmo em frente à minha janela. Observo-os enquanto espero que o portão abra. Observo-os até chegar à ponte, depois da rotunda, depois do pastel de nata e do café quente.

Eu, levo o meu destino e a minha fé nas minhas sapatilhas, eles levam a sua fé e os seus corações dentro do seu próprio destino, em peregrinação, quilómetros, mais quilómetros, mais quilómetros...

Imagino as dores, o cansaço, as chagas, as bolhas, o inchaço, imagino, imagino também as forças, a crença e a convicção, a fé e a capacidade de se superarem, aquilo que os move, aquilo que os guia e aos seus passos, imagino os momentos que antecedem a chegada, imagino o momento, aquele momento que tudo, até ali, guiou.

António Rego é católico, cristão, é Cónego, Jornalista, baptizou os meus dois filhos, é meu amigo e meu confessor, que eu, pecador, confesso-me, raramente a ele, todos os dias a mim próprio.

Dizia:

“As pessoas não perdem o juízo quando fazem estas coisas. Não é irracional. Isto faz sentido para as pessoas. A peregrinação tem um lado emocional”, disse-o em Fátima.

A Andreia Vale, que corre, que é jornalista acrescentou: “ oiço isto e penso que é tão parecido com as provas de corrida”.

Foi exactamente isso que senti, quando me cruzei, enquanto corria, com um enorme grupo de peregrinos, cajado nas mãos, capas de chuva, amarelas, tantos, de uma só vez.

Foi exactamente isso que senti quando me deixei ir por eles adentro, em contra-corrente.

Foi exactamente isso que senti.

É exactamente isso que sinto sempre que acabo uma corrida, seja ela qual for.

Não fosse a vida uma corrida, um acto de fé.

Uma procissão de fé, a corrida, como a vida de um simples peregrino, como eu, corredor, me confesso.

 

 (Agradecimentos: Huwaei P10 Leica Watch2)