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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

25.10.15

ENSINASTE-ME A CORRER


The Cat Runner

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Ainda não te contei da meia-maratona de domingo, pois não?

Não foi por mal, eu sei que já passaram oito dias, mas sei que entendes, como sempre, só não te contei, ainda, porque nunca mais te vi, junto à máquina do café, sempre na dobra, quando as moedas não me chegavam.

Mas correu-me bem, não te preocupes, daqui nada já te conto.

Sabes, o que me incomodou foi o texto.

Ele esteve pendurado nestes últimos oito dias, por tua culpa. Nem vais acreditar.

O Word aberto, em branco.

Quis lá correr, mas não tive forças, até hoje. Hoje corri sem forças, mas fui até ao fim. Escrevi.

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Lembras-te do meu ritual depois das corridas?

Interrompi-o, por tua culpa.

Querias o quê?

Sabes que eu gosto de escrever logo a seguir, mas quando me contaram, olha que passaram oito dias, que tu estavas pestes a ir embora, eu não consegui, e ainda hoje, não consigo lembrar-me de quem me deu a notícia. Só me lembro que não escrevi.

Foi no Facebook. Isso lembro-me. É sempre no Facebook que tudo acontece, já viste?

No Facebook morre-se, vive-se, corre-se, luta-se, opina-se, mal-trata-se, elogia-se, engata-se, reencontros, desencontros, é lá que o mundo paralelo funciona, já não é no "Second Life". (ouvi-nos a rir às gargalhadas).

Para te ser sincero, eu ia escrever sobre a corrida, como faço sempre, depois de cada corrida, depois de descansar, eu sei, as sestas fazem milagres, já me disseste (outra vez as nossas gargalhadas, mas não deu.

Sabes porque é que gosto de conversar contigo sobre as minhas corridas, não sabes?

Lembras-te daquele fim de tarde de domingo - os domingos, se calhar por serem dias de corridas, cruzaram-se nas nossas vidas -, quando as moedas para o café me falharam e as costas me doíam das horas sentado no estúdio?

Tomámos o café e eu disse-te que ia começar a correr, estava a ficar gordo, velho, impossível de me aturar. Lembro-me da tua resposta:

- "Começa a correr, não imaginas a transformação que vais sentir na tua vida, corre com alegria, a sério, não esforces, começa devagar, o teu corpo vai-te conduzindo, e tudo o que precisares estás à vontade". Dizias sempre, no fim: estás à vontade.

Ensinaste-me a cena das batidas cardíacas, as transformações do corpo e do organismo durante a corrida, falávamos pouco da TVI. Era a corrida...a nossa corrida, onde, no fim, somos todos iguais, como agora mesmo.

Falávamos de coisas felizes.

Tu foste o meu grande exemplo. Aquele que sigo.

Tenho em mim que começaste a correr depois de teres ganho uma batalha impossível. Nunca te o disse.

Pois.

Meses mais tarde, entre rápidas trocas de palavras nos corredores, naquela vida que sabemos ser tão efémera, como a fama, sempre a correr, perguntaste-me:

-"Tens corrido?".

-"Claro, já não páro mais".

E via os teus olhos a brilhar, por saberes que eu estava a ir bem, que eu estava, sobretudo, a ir.

Fartaste-te de me perguntar isso, sempre que nos cruzávamos e, curiosamente, nunca corremos juntos (também não tinha andamento para ti, nem para a tua gentileza e bondade contagiantes).

Meses mais tarde, numa dessas breves conversas decidiste emprestaste-me o livro do Haruki Murakami, aquele que mudou totalmente a perspectiva que eu tinha sobre a corrida e sobre a vida. Eu contei-te. Demorei meses a devolver. Li-o quatro vezes e percebi, finalmente, os cheiros, a brisa, as corres do rio e das árvores, o nascer e o pôr-do-sol, e pus imensa gente a correr, até os meus pais, imagina (caminham), por causa do amor que me apresentaste e pelo me apaixonei no primeiro passo.

E falávamos sempre da Carla e dos vossos tempos na rádio, na mítica Renascença, e dos nossos colegas dos tempos pioneiros da televisão nova.

Foste a única pessoa que me falou do velho Cipriano, que morreu com uma cirrose. Tu eras único, pá!

Gente tão nobre e boa, que a vida nos deu.

E querias sempre saber como estavam o Rodrigo e a Maria.

E ficavas feliz por saber da Ana Paula e dos miúdos dela.

Sabes, nunca bebemos um Nespresso os dois, embora a máquina já lá esteja há meses, mas a correria, efémera, não nos deu tempo. Já não temos mais.

Está bem, eu conto-te.

Quando me "disseram", eu decidi deixar este texto à espera, o tempo que fosse preciso, até lhe dar vida, porque este texto é sobre a vida, a alegria, o prazer de viver.

Fui estúpido, percebi-o ontem, quando entrei no restaurante, e o João me mandou a mensagem.

Não se deixa um texto à espera, mesmo que a espera seja por um amigo especial.

Pela primeira vez na minha vida consegui aguentar-me (ando a aprender umas coisas, com a idade e as perdas).

Não contei logo à Carla. Só no fim do jantar.

E dei notícia a mais uns três amigos nossos, tu sabes que há muita gente tua amiga e que gosta muito de ti.

Merda, eu sou um fraco ao pé da tua grandiosidade. Não me aguentei nada.

A meio do jantar vim fumar cá fora, e fumei, e voltei, e entrei, e saí, e fumei, e um homem chora.

Mesmo os homens que fumam.

Foi só ontem, sete dias depois, que desliguei a ficha.

Se me pagasses o café eu ia deixar-te ralhares-me, em tom meigo, por ter este texto ter ficado tanto tempo pendurado, porque a alma me prendia as mãos e me apertava o coração.

Foi ao terceiro cigarro, enquanto aquela mensagem me enchia os olhos de salgado, que me revoltei, mais comigo do que com a vida.

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Tu ias sempre querer saber a verdade da corrida, o amor que tanto nos aproximou, com afecto de irmãos e respeito de homens. Foi uma corrida estranha, carregada de emoção nos corações, e eu tive medo de falar sobre isso, nestes dias.

Encontrei pessoas, dias depois, e emocionámo-nos. E demos abraços.

Tu ensinaste-me a correr.

Eu sei que ias repreender-me por não ter escrito sobre a felicidade que gostavas de partilhar, mas não deu.

Então, eu conto-te.

Aquilo foi brutal.

Desculpa não te ter dito que não me tinha preparado e que ia fiado no Muay Thai, ias chamar-me maluco pela milésima vez, mas é verdade.

E correu bem. Corri bem, que quem corre sou eu.

Não corro oito horas seguidas, não corro cento e tal quilómetros como tu, mas se calhar um dia...o desafio foi teu.

Mas devias ter visto; chovia muito, muito miudinha, fresco como convém, e umas rajadazitas de vento, que a malta atravessou cheia de ganas.

Devo dizer-te que já conheço muita gente das corridas, é engraçado, parecemos uma tribo que já se conhece pelos nomes, se calhar somos (um dia aceito o teu convite para experimentar os trilhos).

Bom, nesta altura já eu ia a caminho de Santa Apolónia, sem bilhete, já tinha galgado aquelas três ou quatro subidas, bem, aquela primeira, ainda na ponte é lixada, mas eu já a conhecia.

Nem sabes a quantidade de gente conhecida que vi a caminho da estação dos combóios, apareciam de todo o lado, de lado, de frente e antes da partida.

A Isabel Silva, o Filipe Gil e a Mulher, a Rita e o marido - ele também corre -, o Rui Silva, o Jorge Máximo, o Rogério Azevedo, a Sara Antunes Oliveira, a Andreia Vale, montes de malta com quem me tenho cruzado em provas, gente boa, como tu.

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Não, desta vez não me "enganaram".

Achas que não me tendo preparado ia entrar em loucuras?

Mas entrei.

(Parece que te estou a ouvir: ganda maluco!)

Comecei a cinco minutos e pouco por quilómetro, mano, baixei os cinco quilómetros em dois minutos.

O mais estranho é que não me sentia cansado. Eu não, mas os gémeos, e não me venhas com batidos e magnésios e cenas, os gémeos gritavam a plenos pulmões.

Não dá. Ponto. Ponto nada. É resistir que depois passa.

Pimba, tempo dos oito quilómetros abaixo.

Vou-te ser sincero, os gémeos ardiam-me como se não houvesse amanhã, mas não ia parar para alongar, porra, ia com a camisola amarela Zé Fortes, a camisola amarela não se veste para desistir, pelo menos esta.

Ela é uma capa cheia de super-poderes.

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Ali perto dos viadutos da Expo a Andreia Vale vem de trás, sem me ver a cara, passa por mim pela esquerda, ela corre com uma bola de cristal magica, estava eu a fazer uns cem metros a passo, a ver se as dores iam embora:

- "Zé, estás bem?"

- "Sim, os gémeos, vai descansada, obrigado..."

Só que é aquilo que eu te digo sempre, ao fim dos sete/oito quilómetros deixo de ter dores. Estranho. Eu sou estranho, à minha maneira.

Baixei o tempo dos dez quilómetros. Vês?

Ia olhando para as bermas, o Filipe Mendonça tinha dito no Facebook que ia apoiar os amigos (ele vai à maratona de Nova Iorque, por isso não correu a meia).

Acreditas que foi mesmo?!

Antes, e na terceira e única vez que caminhei cem metros, para alíviar os gémeos -senti o pulmão aberto - , aconteceu o mesmo que tinha acontecido com a Andreia, a Sara passou por mim, preocupada, ela também adivinha as caras (risos) e ficou junto a mim alguns metros, apesar de lhe ter dito que ia bem - os tempos que estava a fazer provavam isso - mas, ela manteve-se ali, junto a mim, até ter a certeza que eu estava bem.

Só depois foi embora, pelo menos perdemo-nos.

Queri dizer-te uma coisa, depois de ontem ter recebido aquela mensagem que todos esperavamos, depois de te teres ido embora, decidi não calar mais coisas, coisas de afectos, eu nunca lhes disse, mas admiro a Andreia e a Sara, como pessoas e como runners.

Elas não sabem, mas já me inspiraram, agora ficam a saber, e ficam a saber que aqueles dois momentos que me proporcionaram foram de uma intensidade mágica.

A corrida foi mágica, mano.

Na véspera recebi um email a dizer que me tinha esquecido de enviar a inscrição. Entrei em stress.

Minutos depois tinha outro email com um dorsal e o convite de um grande amigo, ias gostar de o ter conhecido, para ir com ele para a partida.

Em menos de nada estava fora e depois dentro.

Não vais acreditar nisto; aos quinze quilómetros tinha voltado a bater o meu tempo.

Aos cinco, oito, dez e quinze.

Senti-me especial.

Só que quando voltamos para trás, a seguir a Santa Apolónia, mesmo na cruva, no momento de curvar, tocam-me no ombro.

Era o Nuno Barreto, da Etic.

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Ia com ar cansado e as dores voltaram aos meus gémeos.

Eu gosto de correr meias-maratonas, mas a surpresa a partir dos quinze/dezasseis quilómetros dá cabo da minha calma. O que aí virá?

Eles iam todos a passo na última subida, no último quilómetro, depois da rotunda, onde está aquela loja de artigos desportivos, ao pé da Sport TV.

Eu tinha feito o último terço da corrida ao lado do Nuno, pensava que a vantagem dos dois primeiros terços me ia permitir ficar abaixo das duas horas, mas não.

O tempo ou o Nuno, escolhi o óbvio.

Na subida disse-lhe:

-"Nuno, vou apertar, espero-te mais à frente".

Coisas do Muay Thai. Um dia explico-te.

Sabes, a malta diz que eu estava com cara de esforço, nessa altura.

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A malta quando um dia sentir as mãos invisíveis, daquelas dezenas de estranhos, na berma, e os gritos, a malta nesse dia vai perceber que um homem chora, mesmo quando corre.

Mesmo os que correm.

Aquela recta, antes de virar a direita, para a recta da meta, é sobrenatural, ver tanta gente ali, com cartazes, de um lado e do outro da estrada, a baterem palmas, a sorrirem para nós, incondicionalmente, as máquinas fotográficas, tudo faz com que aqueles últimos quinhentos metros pareçam intermináveis.

Tiraram-me tantas fotografias. Ias gostar de as ver.

A Rita até me perguntou, no dia seguinte, lá na nossa fábrica, se eu tinha um fotógrafo privado.

(Estou outra vez a ouvir as nossas gargalhadas).

Sabes qual foi o maior empurrão que tive, e que fez com que a uns oito quilómetros da meta eu percebesse quão cansado já ia, ao mesmo tempo me deu a coragem para me esquecer desse cansaço?

O Filipe, o Mendonça, ele fez o que disse que fazia, e eu vi-o, e ele viu-me, e eu vou tentar vê-lo na maratona de Nova Iorque.

O grito dele ainda me ecoa.

Quando virei à direita, e entrei no empedrado da meta, agarrei na mão do Nuno e gritei, mas gritei mesmo:

-" Embora, vamos dar o resto, anda, acelera".

Fui aos gritos, com ele.

Ele queria largar-me a mão, para eu ir sózinho, mas eu ando no Muay Thai - também ainda não te tinha contado. Ando a ficar forte. E elegante.

(Senti o teu toque no ombro, enquanto soltas mais uma gargalhada humilde).

Acreditas que cortámos a meta de mão dada, firme, à homem, eu e o Nuno?

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Mal passámos a meta demos um abraço, espontâneo, forte, à homem.

Pois foi, bati o meu tempo na meia-maratona, à homem.

Não, ia lá para ficar mal na foto? Na foto não.

A medalha é linda.

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O resto do dia foi a fazer gelo, nos joelhos, nos gémeos, na alma, e a ver o que iam metendo no Facebook e no Instagram.

Bem, eu sou de fácil emoção, mas quase toda a gente dizia o mesmo, que tinha sido uma corrida fantástica, toda a gente tinha baixado os tempos, felicidade, estava toda a gente muito feliz, estranhamente feliz.

Foi isso que me impediu de escrever este texto sobre nós e sobre o nosso amor, até hoje.

Hoje fui correr.

Não houve medalha no final.

Não era para ir.

Fui com o meu amigo que me levou para a partida, oito dias antes, no dia em que soube o que te aconteceu.

Ias correr, no mesmo dia em que eu ia correr a meia maratona, tu ias correr a tua.

Eu fui, e corri. Tu não.

Eu não sabia. Só soube depois, senão, tinha ido na mesma, como fui hoje.

Eu não era para ir hoje, e a corrida não teve medalha.

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Sabes, na quarta e na quinta corri, na sexta e ontem fui treinar Muay Thai. Não me apetecia ir hoje.

Mas fui. Fui por ti. Por mim.

Porque sabia que querias que eu fosse e que escrevesse, eu sei que me lias sempre, e o quão isso me deixava orgulhoso, sabia que era isso que querias, mesmo antes do risco de eu te massacrar com as minhas epopeias da corrida, mas lamento dizer-te, foste tu que me puxaste para isto e me emprestaste o livro do Haruki Murakami.

Fui correr esta corrida pela corrida que não chegaste a correr. Porque tinha que ser assim. É assim que presto tributo aos meus grandes amigos.

Fui lavar a tristeza com a água que caiu dos céus e dos meus olhos.

Não imaginas o que me custou.

Choveu o tempo todo, estava fresco, como gosto, como no domingo passado, mas não imaginas.

As minhas pernas arrastaram-se durante todos os dez quilómetros.

Só quis chegar ao fim, fui-me arrastando, e aos cinco quilómetros, por incrível que pareça, estava abaixo da meia hora - eu disse-te que o Muay Thai está a tornar-me besta, boazinha -, mas nunca as dores me largaram.

Eu sei que conheces a superação.

E a história repetiu-se.

Cheguei tão em cima da hora que só tive tempo de atravessar a multidão, chegar a frente, pedir a minha camisola, colocar o dorsal - devias ter-me visto, na mesa da esplanada, no Rossio, a colocar os alfinetes, só tive tempo de sair dali e começar a correr, nem tive tempo para pensar em aquecimento, alongamentos, só para correr.

Fui por ti e pela corrida que não fizeste.

Fui pelas corridas que nos faltavam fazer. Fui com dor de pernas e de alma. O gelo não esfria o coração.

Quando cortei a meta, ergui as mãos ao céu, olhei-te, agradeci-te, chorei.

Um homem chora quando acaba uma corrida.

Mesmo os que correm.

E emocionei-me mais umas quantas vezes, quando o senhor de amarelo me abraçou e me disse que gosta muito de mim e do meu trabalho - que tu ajudavas a ser melhor -, quando vi o Nelson, que só conheço do Facebook, e também ele me deu um abraço, emocionei-me no meio da multidão, para não me verem, apesar de me olharem.

"Olha, o da TVI..."

Diziam, enquanto quem o dizia tocava no ombro do parceiro.

Fui assim até aos Restauradores, com o sal misturado com a chuva nos olhos.

A brasileira do café, na Rua do Ouro, meteu-se comigo, brincalhona.

Ela a mandar-me bocas quando me baixei para apanhar a moeda, a dizer que tinha ido correr e não me conseguia levantar.

Contei-lhe que tinha ido correr por ti. 

Como os olhares mudam, quando dizemos que fizemos alguma coisa por alguém, mesmo que esse alguém sejamos nós.

Quando cheguei ao parque dos Restauradores, quase não tinha moedas suficientes para pagar, como quando nos encontrávamos junto à máquina do café.

Lá me safei à tanga, tal e qual aquelas alturas em que ninguém tinha vinte cêntimos e eras tu, sempre tu, que me  pagavas o café.

A propósito, corri abaixo da hora, achei que te devia dizer, assim de saída, para sorrires mais ainda.

Só não me deram uma medalha no fim.

Achas que eles sabiam que eu tinha ido correr por ti?

Não penses que te safas, fico à espera da resposta.

E do Nespresso, só que desta vez pago eu.

 

 

 

 

 

 

 

 

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