É FAVOR PUXAR O AUTOCLISMO
Ou então chamem a Inquisição ( a verdadeira) e matem todas as bruxas.
Quem nunca teve a mesma sensação que eu tenho, às vezes, muitas vezes, cada vez mais vezes, que atire a primeira pedra.
Apedrejamento;
parece-me ser uma punição muito mais leve do que viver diariamente a violência latente, no Facebook.
É isso que quase todos(as) fazemos, atiramos pedras e vomitamos ódio gratuito, na melhor das hipóteses, porque vivemos lá, mesmo quando lá não estamos.
Vivemos dentro da caverna virtual.
No Facebook conseguimos ser os animais primários que somos e que na vida conseguimos disfarçar, uns melhor, outros nem tanto.
Portanto, estão autorizados(as), a partir deste momento, a apedrejar-me, mas agradeço que o façam de forma terna. A pessoa tem sentimentos.
Aliás, quase todas as pessoas têm sentimentos, mesmo muitas das que vivem no Facebook, até algumas dessas pessoas, e na verdade o facebook tem as costas largas, mas também tem uma atitude pedagógica – devia –da qual se demite como se não tivesse culpas no cartório, e tem.
O Facebook é responsável pelos atos tresloucados que lá se vivem.
O Facebook, se levarmos isto a sério, tem responsabilidades, sim, na exacta medida que é uma plataforma de comunicação, e como tal, não pode demitir-se do seu papel de correia de transmissão.
O povo é que é sereno.
Ninguém fala do Twitter, até mesmo do pobre Instagram, que lentamente começa a ser poluído pelos desertores da rede azul do rapaz de cabelo aos caracóis.
Nestas plataformas também vivem pessoas, porra!
E, as pessoas têm sentimentos.
Que falta de respeito (ao menos no Facebook falta-se ao respeito sem se dourar a pílula).
Olha, toquei na palavra-chave.
Porra.
Respeito.
É esta, não é a anterior, a palavra que é a chave, respeito.
É fundação inquestionável entre pessoas (de bem), é ele que por assim dizer rege as sociedades desenvolvidas e esclarecidas.
Quando os pares não se respeitam, a sociedade está suja, como esta, ou alguém tem qualquer dúvida?
O estado a que as coisas chegaram, tão rápida, como violenta e impunemente, provocam-me várias vezes o desejo de fechar as minhas contas nas redes sociais e voltar a ser uma pessoa normal.
Sim, porque nós não somos pessoas normais.
Nós, às vezes, nem somos sequer pessoas.
O Facebook serve para ameaçar de morte (depois verifica-se um perfil fofo, com a foto de um fofo bebé ao colo), para insultar alguém ( depois verifica-se que a foto de capa até é dentro da agência bancária onde trabalha o hooligan virtual, ou a foto na oficina, porque não?
Isto toca a todos, engenheiros, trolhas, jornalistas, políticos, vai tudo na corrente porque nesta arena só há sangue com a mesma cor), também serve, o Facebook, para ter opinião até sobre assuntos que nem merecem opinião ( e depoias caem, as opiniões por terra, ai os gatinhos nas fotos…), na verdade o Facebook é uma plataforma de comunicação que pertite que seres humanos se degladiem sem misericórida.
Os donos da plataforma não cuidam de manter e de garantir os níveis mínimos de urbanidade, de respeito, aquilo que se exige numa comunidade, os mínimos, porque quando se diz que o Facebook é um manicómino é porque nunca se esteve dentro de um manicómio verdadeiro.
É porque as ofensas gratuitas continuam.
Ofendemos os doidos, todos eles bem mais sãos que a maioria daqueles que usam o Facebook.
Acho que já toda a gente teve esta sensação, a mesma que eu tive e com a qual comecei este texto, alguns passaram das palavras aos actos, outros foram e voltaram porque a droga é da boa, outros, esses felizardos, nunca utilizaram as redes sociais, nunca tiveram estes dilemas e estas dúvidas existenciais.
Eu fui uma vez alvo de um vómito massivo. Uma única vez.
Não é, por isso, que escrevo este texto, sobre esse assunto escrevi na altura.
Escrevo porque me recuso a aceitar que seres humanos que pugnam por mostrar valores, ideias, posições condizentes com a vida em sociedade, fazem-no na sua vida, no seu quotidiano, e recuso-me porque são exactamente esse patamar de pessoas que se perdem em cegueira virtual, como se aquele fosse um mundo hermeticamente fechado.
Não é.
Não foi nada comigo, como diz o outro.
É com os outros.
Começa a ser-me insuportável utilizar as redes sociais. Estar, ser, ver, fazer.
Começa a ser horrível, quando te descentras, quando percebes que num ecrã de computador existe o maior número de psicopatas por byte quadrado, do que presos nas cadeias, ou doidos no manicómio.
As redes sociais, são, aparentemente, terra de ninguém, palco dos ajustes de contas virtuais.
Fora dali é tudo tão monótono, não é?
Pois é!
No Facebook ajusta-se contas com a namorada que o traiu, com o amigo que o enganou – no meu caso não fazia mais nada -, com o chefe que é um merdas, com o jornalista que deve defender a liberdade, mas que não a deve utilizar em seu proveito, ajusta-se contas com o vizinho, com o senhor da bomba de gasolina, com o médico, com o professor, com os cornos da cabeça de cada um, como se diz no Ribatejo. Não se ofendam nem desencadeeim uma Jihad contra mim, já me chegou uma.
Aqui, nas redes sociais, ajustam-se mais contas, executam-se mais sentenças, que em qualquer tribunal penal.
A coisa fica por ali, normalmente dura umas 24 horas, às vezes um pouco mais. É raro.
Os fortes apenas têm poder nas veias durante 24 horas, depois desligam o computador e vão pegar no bebé ao colo, ou vão à porta do banco ou da oficina fumar mais um.
Na exacta medida em que os donos do Facebook continuam a permitir, de forma irresponsável e totalmente impune, que a plataforma receba as frustrações, as raivas, as ideias pequenas, as ameaças – algumas tem piada e sentido de humor - o ódio de cada um sobre cada qual, nessa exacta medida há aqui algo que me escapa.
Se eu, não aqui, que aqui sou um simples cidadão pacato, mas enquanto jornalista ofender alguém, ameaçar, faltar à verdade, respondo em sede de processo penal, posso ir preso, é verdade, não sabia?
Não tem que saber tudo, senão vai já opinar…
Pois eu jornalista respondo nos tribunais, tal como eu cidadão, tal como o advogado, o mecânico, o bancário – não o banqueiro -, o padeiro, o desempregado, o desportista, o político, na verdade, se algum de nós ofender, injuriar ou ameaçar outro, na rua, em casa, num café, nos media, nas redes sociais, na verdade poderá ter que responder em tribunal.
Ameaças não.
Houve uma vez, contaram-me, um colega foi ameaçado por um tipo extremamente forte, um duro dos teclados.
O colega, que é daqueles que não gosta de mostarda respondeu ao “Adamastor” com um convite, que se encontrassem para que a ameaça fosse feita olhos-nos-olhos.
O “Adamastor”, corajoso, publicou a mensagem:
Jornalista ameaça nas redes sociais.
Isto da coragem não passa por um teclado.
Isto da justiça não passa por um teclado.
Isto da urbanidade não passa por um teclado, nada disto que se vive actualmente passa por onde quer que seja porque não é admissível numa sociedade bem resolvida.
Só mesmo no Facebook do irresponsável Marck, que oferece espaço para outros irresponsáveis se exporem ao mundo.
Quinze minutos de fama.
Fama?
Três coisas, antes de sair do wc:
- Como a Inquisição sobre os jornalistas, sobretudo os da televisão, se vive agora nas redes sociais, nestes tempos modernos, porque basta tossir e já estás online, se calhar é chegada a hora de responder com a mesma moeda, afinal todos – ou quase todos – temos uma actividade profissional, família, amigos, filhos e essas merdas, todos temos vida, e não é só a dos outros que poderá ser manchada, ou o patrão que poderá não gostar de nos ver a dizer: eu mato-te, filho da puta, sem vírgula, que normalmente estes tipos não percebem muito de gramática. Olho-por-olho, se calhar.
- Ou simplesmente sair.
Ninguém gosta de viver num cano de esgoto, ainda por cima se os humanos forem os dejectos.
- Bem sei que o rapaz dos caracóis pagou milhões e milhões aos advogados para não ter que assumir as dores de parto dos outros. Se legalmente tem esta passadeira vermelha e exclusiva, moralmente devia fechar-se em casa, até que o papel higiénico acabasse.
Puxem o autoclismo, se faz favor.