ATEU GRAÇAS A DEUS
Já fui crente.
Agora creio pouco. Em quase nada.
Falo de medicinas alternativas e das outras mais convencionais.
Na verdade, há uns anos, por necessidade, vi-me obrigado a recorrer a várias terapias, bastante diferentes, não-convencionais, na procura de uma âncora que travasse a maré e me levasse a bom porto.
Eu fiz de tudo; desde taças tibetantas, a cantos cósmicos, hipnose, consultei psiquiatras e psicólogos, não búzios e cartas não, mas também experimentei a acupunctura, e mais uma coisas das quais nem me recordo o nome.
Eu acreditava. Tinha fé. Procurava.
É um pouco como com a religião.
Eu sou ateu, graças a deus, por isso escrevo O nome em caixa baixa, fica o registo.
Em relação à religião, não acredito, de todo.
Em relação às medicinas, acredito, um pouco, muito grande.
Eu vivo, por vezes, um purgatório inclinado em direcção ao inferno.
Escapo-me sempre para o céu, mas não deixo de correr o risco.
Exactamente, correr. É aí que tudo acontece.
Temos por hábito falar dos 10 kms, ou da meia maratona, como se fosse como comer um bitoque.
Com uma oralidade extremamente fácil, afinal a língua não se cansa muscularmente, tirando uma ou outra afta.
Não é como comer um bitoque.
Correr é mais fácil, porque o bitoque às vezes vem quente, as batatas, pelo menos.
É mais fácil, mas não é fácil. A não ser correr por palavras, e mesmo assim...
Imagine que caminha daqui até ali. Caminha.
Sim, no dia a seguir tem dores, dói-lhe tudo, encontra músculos que nem sabia que existiam.
Caminhou.
Já pensou se fosse a correr?
Tal e qual.
No dia seguinte a uma prova média ou longa, as escadas que vejo ali em frente, duplicam o número de degraus, a cadeira onde me sento transforma-se num pedaço de pedra virtual. Dura.
Por muito frio que esteja as pernas estarão sempre em sobre-aquecimento.
Aparecem dores onde menos se espera. Juro.
Até um dente já me doeu (pode rir, que é mentira).
Há sempre dores após uma corrida longa, o esforço é brutal, e só o sente quem corre, porque correr na ponta da língua cansa imensamente menos. Também lhe garanto.
- "A meia maratona? Isso é na boa. Quantos quilómetros são?".
Normalmente é assim que se passa.
- "A meia são 21 kms, mas o pior é a recuperação"!
Há quem demore dias, até voltar a correr, eu, por exemplo (agora sim, pode rir).
É preciso recuperar, e para recuperar cada qual tem os seus truques, as suas técnicas e os seus tempos.
Foi por que isso falei das medicinas alternativas, no início deste texto.
Até porque não é só de cansaço que se trata.
Depois de uma corrida longa há lesões que podem aparecer.
E as lesões impedem o treino, a fadiga não.
A fadiga dura dias, semanas, até as dores de cabeça aparecem, por isso, Helder Flor, especialista em osteopatia e medicina tradicional chinesa, que trabalha diariamente com atletas de alta competição, diz que:
"É tão ou mais importante estar preparado para uma pós-maratona, como para a maratona em si".
Não deixa de ter razão.
Quando realizamos exercício físico intenso, é sabido, o corpo perde água, perde muita água.
A água assume papel fundamental em todas as fases, "mas em particular na recuperação do organismo", por causa da homeostase (manter o equilíbrio) do organismo.
Chá de malva, ou chá de gengibre ajuda, diz Helder Flor.
O processo de hidratação fica mais facilitado, desta forma.
Dormir bem. Parece óbvio. Ajuda.
Estiramentos e massagens, óleo com fartura, encontrar pontos tensos e dolorosos, estimulá-los, pressioná-los, respirando fundo. Os pontos cedem, garanto, e o alívio é imediato.
Os runners experientes sabem disto, os mais curiosos, ou os que agora estão a começar talvez não saibam, se souberem, bom, resta mudarem de parágrafo ou de blog. Mudem só de parágrafo, sff.
Também existem ervas, umas podem ser comidas, outras fumadas, estas a que me refiro provocam um friozinho daqueles gostosos e só são aplicáveis para este fim; recuperar após uma corrida longa.
As plantas de natureza fria, como a Arnica ou a Hortelã-Pimenta, esmagadas, embebidas numa toalha, ou esfregadas nas zonas afectadas, provocam uma sensação de frio, que pelo menos ajuda a esquecer a tensão, na maioria das vezes também ajuda a esquecer as dores.
A carne é fraca!
Por isso, comer bem também é uma imposição.
Helder Flor, osteopata e especialista em medicina tradicional chinesa aconselha quem corre, e depois se confronta com este quadro de stress físico e mental, que utilize os seus próprios pontos de acupunctura, juntamente com as ideias já referidas.
Esses pontos estão todos no Google.
Depois de os encontrar faça-lhes uma massagem. Vai ver que agradecem.
São vários pontos, todos eles importantes, afinal você quer ficar sem as dores que a corrida provocou.
Por exemplo, o Ponto 36E, localizado abaixo do joelho, o Ponto Vesícula Biliar 34, ou o Ponto Estômago38, são vários, e todos eles, gentilmente estimulados, produzem milagres.
Pois, neste momento deve estar a pensar: o Gato sabe disto.
Sabe nada, o Gato estava a ler enquanto escrevia.
Mas, o Gato sabe que estes pontos todos, e mais alguns, existem porque o Gato já recorreu à acupunctura para tratar da canseira. E tratou-a.
É, de todas as possibilidades aqui mencionadas, aquela que mais resultados tem na recuperação, depois de uma prova longa.
Dia 15 do mês que vem o Gato vai correr a meia maratona do Douro e espera que até lá as dores vão dar uma volta a outro lado qualquer, embora não pareça.
Confesso, já comprei uma caixa de agulhas, que aquilo das picadas não custa nada.
Correr custa muito mais.