Anjos e Diabos

Há silêncios que são mais ruidosos do que qualquer confissão.
Uma confissão é menos ruidosa que um silêncio.
É nele que o jogo começa.
O tabuleiro da tensão, onde cada movimento é calculado e, ainda assim, desesperadamente entregue ao destino, que não existe.
Caminho proibido, exatamente por isso o único que interessa.
Mas é mais do que um jogo entre sombras.
Chega a ser arte de esperar, de retirar, de avançar, de observar, de seduzir, de sorrir um sorriso que só sorri de tempos a tempos, em cada cem anos.
O corpo fala baixinho. Quase num sussurro.
A forma como a mão repousa no copo, a inclinação da cabeça, a pausa antes da resposta—tudo é uma frase completa.
Aqui não tem arestas cortantes; é macio e envolve, é estranho, sem-medo.
É o risco de quebrar uma linha invisível que separa o deve ser do quer ser.
Há um prazer particular em saber que se está na fronteira, a equilibrar o sensato e o resto.
O prazer não é o final.
É o começo, a promessa contida no ar antes da tempestade.
É a antecipação do toque que ainda não se cumpriu, a imaginação a desenhar cenários que a realidade confunde.
Nesta dicotomia, onde cada um é um virtuoso da dissimulação, as palavras são cortinas de fumo.
O que realmente importa é o que se lê nas entrelinhas.
As entrelinhas fora das linhas, a respiração que se altera ligeira e depois fortemente, na forma como a vertigem entende.
Há segredos que exigem a rendição total.
O maior deles é que, quando o jogo é jogado com intensidade, a derrota é, ironicamente, a única forma de vitória.
A entrega é o troféu.
E o risco?
O risco é o que torna tudo tão irresistível.