ALICE A REPUBLICANA
Dia 5
05/10/2016
Da consciência...
Alice é filha da República.
Lido assim, depressa, quase que parece outra coisa, mas não, filha da República.
É, portanto, uma gata republicana, quer queira, quer não.
Ou então é uma ing(r)ata.
É que eu agradeço o dia que passamos juntos – e acho que ela também.
O primeiro feriado dela, e o meu primeiro, neste século, creio, que os feriados são todos meus, mas a trabalhar, os que o anterior governo acabou e os que não acabaram, e estes que regressaram.
Foi o meu primeiro feriado, em tempos, o primeiro dela, desde que nasceu e chegou à nossa república.
Devemos isso à República, não sejamos ing(r)atos, sejamos apenas gatos, sem érres pelo meio.
Até pode parecer que Alice já tem consciência cívica e política.
Ainda não, ainda só começou agora a confrontar-se com o “raspador”, feito de sizal, com formato de rato, um estranho rato, achatado, comprido, rectangular, às cores, imóvel, a não ser que o arrastem por um cordel.
Ainda não tem consciência política, nem cívica, é uma jovem gata vadia, mas vai tê-las, com o tempo, que tem tempo. Cada vez mais bonita e inteligente. Uma gata assim até pode ser apartidária, mas nunca será apolítica.
É que, cá em casa, adoptámos desde sempre, a lógica da República;
Somos um país, temos os ministros e a assembleia, gerimos os destinos e os orçamentos, e também somos fustigados pelos castigos que os nossos aliados e amigos da Europa nos infligem, todos os dias, ou tentam, nos últimos anos.
Todos, cá em casa, temos as nossas tarefas e objectivos, trabalhamos para o bem comum do nosso país, e recebemos refugiados, como a Alice, como se tivesse sido sempre um de nós.
talvez tenha sido, sim. Num outro tempo.
Recebemos uma refugiada, a Alice.
Não recebemos mais, não passámos a ser activistas acérrimos dos direitos dos animais, ou amantes de gatos, conhecedores, não, nada disso se tornou verdade.
A política, na nossa república, cá em casa, é confrontar o país com a realidade e tomar decisões e medidas.
Alice apareceu pelas mãos do destino, foi recebida, tratada, acarinhada, começa cada vez mais a ser amada, mas apenas ela, a Alice que a Maria salvou. É um caso de amor.
Eu gosto de metáforas, e esta é perfeita.
Agora, novas políticas e novas discussões devem ser pensadas e postas em prática.
É que Alice, ao quinto dia na nossa república, viveu o seu primeiro feriado, o 5 de Outubro, e isso permitiu-lhe começar a perseguir tudo o que mexe na sua, por agora, cidade, a cozinha.
É lá que ela vive.
O nosso país trata como deve a organização do território.
O conselho de ministros decidiu que Alice só terá acesso ao resto da casa, sozinha, quando estiverem reunidas as condições para avançar com a medida.
Dia 5 de Outubro, feriado nacional. A Républica voltou a fazer anos.
Renasceu, pode dizer-se.
A República, e a Alice, essa gata republicana.
Cá em casa até nos vestimos a rigor para comemorar o feriado.
Há t-shirts muito giras.
Há gatas muito giras.
Viva a República.