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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

17.06.15

A MAIOR SUPRESA DA CONDIÇÃO HUMANA


The Cat Runner

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Conheço a Mafaldinha há mais de dez anos.

Conheço-a bem, somos amigos, temos uma enorme estima um pelo outro. Não é difícil ser amigo dela. 

Tudo começou quando recebi uma mensagem dela, corria - lá está, corria, correr -  o ano de 2004.

Eu tinha acabado de começar - escrito assim mesmo - um negócio que quase me arruinou a vida, literalmente.

Armei-me em cozinheiro e abri um restaurante. Montei-o de raíz e tudo ali tinha uma história e uma explicação.

As paredes castanhas que eram a minha Lezíria, as paredes azul-claro que eram o meu rio Tejo, uma parede que suportava um texto gigante escrito por mim, no qual explicava quem foi Sancho Pança. Era assim que se chamava o meu restaurante que era o mais bonito da vila e o mais perigoso, porque quase me arruinou a vida.

Só que eu gosto de renascer, das cinzas, sobretudo, em tudo; nos negócios, nas relações, no trabalho, no exercíco, nas amizades. Sempre que me deitam ao chão ou sempre que caio por culpa própria costumo levantar-me.

Sempre foi (fui) assim.

Depois de conhecer a Mafaldinha passei a ser ainda mais assim.

A mensagem que ela me enviou em 2004 era muito simples: um pedido de entrevista. Naquela altura eu era uma estrelinha da tv - depois fui estrela cadente, mas não decandente - que vivia na vila e que tinha acabado de abrir o restaurante mais bonito da vila mais bonita. Ponto.

Era para o semanário Vida Ribatejana, a entrevista. Eu já tinha trabalhado na Vida Ribatejana. Agora já não existe. Era o segundo jornal semanário mais antigo em Portugal, a seguir ao Açoreano Oriental.

Disse que sim. Digo sempre que sim porque não gosto que me digam que não.

Não fazia ideia de quem era a Mafalda Ribeiro, a nossa - dos seus amigos - Mafaldinha.

A resposta à minha mensagem foi surpreendente.

"Muito obrigado. Se quiseres vê o meu blog para perceberes a forma como escrevo e para teres mais informações minhas. Bjs. Maffy".

Assim fiz, assim fiquei a saber, na hora, quem era, sobretudo como era a Maffy. 

Uma inteligência sem par. Ponto, outra vez. (Quando coloco um ponto destes pretendo dizer ponto com veemência. Ponto).

Para evitar qualquer impacto visual ela remeteu-me inteligentemente para o seu blog. Li a história da vida dela, vi todas as fotos dela e, como toda a gente, por ela me apaixonei, enquanto pessoa.

Por isso, quando ela entrou no Sancho Pança, ao colo de uma amiga, já aquele gelo, o tal impacto que comigo nunca acontecería, tinham caído por terra.

Ainda guardo a entrevista, Maffy!

A vida foi correndo, como nós e o contacto nunca mais se perdeu. 

Depois, muitos anos depois, foi a minha vez de a entrevistar por causa de uma reportagem sobre o Som e o Silêncio, um projecto da nossa amiga Paula Teixeira, mulher do Jaume Pradas.

O Jaume e a Paula são alguns dos melhores amigos da Maffy.

Tudo o que se possa dizer sobre a Maffy é redundante mas nunca é de mais.

Mas eu tenho uma coisa a dizer sobre ela e não é redundante, nem a coisa, nem ela.

Convidei a Maffy para aqui escrever, depois do jornalista Alexandre Évora, entremeada com um contacto falhado com o Nelson Évora, para escrever aqui no sítio onde o Gato corre a escrever.

Sabia que não recusava. Levou tempo. Ainda bem.

Ainda bem porque é o texto mais belo, aqui alguma vez escrito, mais belo ainda do que ela, porque foi dela que saiu o texto, da sua cabeça, do seu coração.

É o post anterior, gente. Leiam. Já muita gente o leu.

Nesse texto ela descreve, em rigor, o que sentimos enquanto corremos. O que sentem os que correm. Só esses o conseguem sentir. E ela já o sentiu e agora não quer parar mais.

Não me vou alongar sobre isso.

Remeto para os sorrisos que as fotos nos dão, o sorriso dela. A alegria, como se vê.Foto4 (1).JPG

Foto by Cláudia Sampaio

 

Houve, no entanto, uma frase que me ficou a saltitar dentro da cabeça.

É a passagem em que ela refere que lhe deram uma semana de vida, quando nasceu e, 30 anos depois, ela soube o que era sentir o vento a bater-lhe na cara.

Foi esse vento que lhe abriu ainda mais o sorriso.

O dela e o do outro herói desta história, o Jaume, o catalão imensamente talentoso com a música, que não corria - pelo menos com regularidade.

Eles prepararam-se para a corrida da vida da Maffy e do Jaume.

Eu acompanhei essa preparação através das redes sociais. Entusiasmei-me. Parecia que era eu quem corria com eles e empurrava o Jaume enquanto ele empurrava a supersónica cadeira da nossa Maffy.

Envolvi-me. Envolvo-me sempre, em tudo, muito.

O meu convite para ela escrever aqui foi feito antes de saber que ela ia correr a sua primeira corrida.

Garanto que, depois de ler o texto anterior, é possível correr sem sequer os pés tocarem no chão, tal e qual como é possível voar sem sair da terra, ainda que exista o risco da queda fazer barulho, tal como na corrida deles havia o risco da Maffy cair, o que sería sempre uma situação grave.

Ela correu, eles voaram e, no fim, no fim remeto para os sorrisos das fotos outra vez.

Foram eles, na verdade, que me emocionaram, que acabaram de me ensinar porque é que corro todos os dias.

Jamais irei parar de correr, a não ser que algo me aconteça, porque irei lembrar-me sempre dos sorrisos, das letras, das palavras, das frases, do feito. Jamais, Maffy e Jaume.

E, jamais irei esquecer a vossa corrida, que estive para fazer connvosco,  porque o texto mais belo alguma vez aqui escrito bateu todos os recordes de visualizações.

As visitas ao Gato rondam as 200 por dia.

Ontem, terça-feira, tocámos nas 3 mil - três mil - visualizações e o texto foi partilhado nas redes sociais quase 200 vezes.

Também devido a este aspecto material jamais irei esquecer a corrida deles. A vossa corrida. A nossa corrida.

Para o mês que vem a minha colega Rita Rodrigues assina um texo, enquanto convidada.

A Rita trabalha comigo.

Em breve teremos um projecto conjunto que vai surpreender meio-mundo.

A Rita também corre todos os dias. Faz todo o sentido o convite que fiz.

Se calhar, um dia destes faço-lhe mais um convite.

Rita, assim que a Maffy e o Jaume indicarem o dia em que vamos correr os três, eu e eles - já me convidaram - por puro prazer, felicidade partilhada, sorrisos largos de costa a costa, prometo mandar-te um sms.

Não tão surpreendente quanto o que a Maffy me enviou em 2004 mas, isso tu sabes, surpreender depois da Maffy é impossível.

Ela é a maior supresa da condição humana.

E, nós somos todos muito mais felizes porque a temos na nossa vida.

Todos os dias. E, agora também corre. Acho que era a única coisa que lhe faltava fazer na vida.

E, isso não é para qualquer um; é só para os "eleitos", ou para aqueles que tem essa sorte na vida, como nós.

Agora vou correr porque estou parado há dois dias e isto não é só vir para aqui mandar umas bocas. Há que trabalhar.

Agora vou correr, tão mais feliz, depois de terminar este texto, agora mesmo.