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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

01.09.24

Quando a Realidade É Apenas O Começo


The Cat Runner

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A sombra do tempo distorce-se nas dobras da imensidão do espaço, onde uma estrada azul-mar retoma a um ponto que nunca foi um início, apenas um intervalo, um meio.

Como subir uma pequena ladeira, caminhando sem saber se já tinha pisado aquele chão de areia molhada, que se contorce em espirais sob os meus pés.

O céu, está pintado com as cores que são dele, como naquele intervalo, com cores que não existem, como um espelho cego que reflete memórias de uma felicidade que talvez nunca tivesse sido vivida. Reflexo que se prolonga como as correntes do mar, que sussurram segredos em línguas que os meus ouvidos esquecem assim que as palavras entram neles, e me questiono se aqueles sons, alguma vez, tenham preenchido o vazio da minha existência.

As ondas rebentam ao contrário, erguem-se do mar e rompem em direcção a uma altura só que pode ser medida por olhos que conhecem a gravidade. O inverso.

Uma sensação de déjà vu que mergulhava em cada passo, na pequena ladeira, como se o caminhar fosse uma repetição de um sonho que nunca tinha sonhado.

Havia uma casa ao longe, ou talvez fosse apenas a ideia de uma casa.

As paredes ondulavam, dissolvendo-se em névoas que não pertenciam a este mundo, e as janelas reflectiam rostos de pessoas que nunca conheci, mas que pareciam carregar o peso da minha própria saudade.

Entrei, ou pelo menos senti que entrei, e os quartos multiplicaram-se como memórias partidas, cada um com uma versão diferente de mim.

 Uma versão em que talvez tivesse sido feliz, ou talvez apenas iludido por essa felicidade.

Não havia relógios, mas sentia o tempo escorrer pelos dedos, como areia fina da praia, que se perde no vento.

Tentava lembrar-me se já estive ali, mas as respostas desapareciam antes de se formarem.

Era um regresso a um lugar onde que nunca fui, nunca foi, ou que talvez sempre tenha sido.

E no fundo, a pergunta que ecoava neste silêncio absoluto era se alguma vez saberia se já tinha sido feliz, ou se a felicidade era apenas uma miragem criada pela incerteza do nunca?

Como a vastidão do mar.

Hoje, voltei a um sítio onde se avista o horizonte e o silêncio fala baixinho.

Sei lá se já fui feliz!