DICOTOMIA
Há uma dicotomia que me interessa:
Deus e o Diabo.
Acredito nos dois.
Em algumas alturas dá-me jeito acreditar no Diabo, para puxar de dentro de mim o meu eu mais durão, do bairro, das cicatrizes e das vitórias cheuias de marcas na Alma.
Em outras alturas eu sou deus. O meu, por isso em letra pequena.
O deus, que quem quiser que eu seja. Eu, desde logo.
Acredito em Deus, mas de uma forma que só consigo explicar a que me olha nos olhos e sobe ao patamar da inteligência imaterial.
O resto são dates, não são flirts emocionais intensos.
Não debato, normalmete, porque anda sempre tudo a pensar em merdaas tão sem sentido, que acho melhor assim, ou debato com quem quer debater, porque são coisas que conseguem subir além do imaterial. É isso que me interessa na vida,
Calma.
Também gosto de desfazer uma cama.
Casamentos, não.
Deixe-me só voltar à dicotomia que me interessa.
Não consigo ter a inteligência imaterial do Valete.
Como em um jogo de cartas.
Diz assim:
Eu não sou a única força transcendente deste universo
O Diabo também existe, é o senhor do mundo perverso
É ele que divide e atrai os homens ao pecado
Tu tens que resistir, o Diabo é obstinado
Eu dei-vos livre arbítrio, liberdade total
Cabe a cada um de vós decidir entre o bem e o mal
É a falta de moral que traz desordem e desgraça
Se viverem por mim o mal deixará de ser ameaça”.
Eu vivo entre Deus e o Diabo. Todos os dias.
Dou por mim a pensar qual é qual, qual chegou primeiro, porque é que outro chegou depois, que é quem, que és tu, que me olhas de frente nos olhos, com a coragem que mais ninguém tem, nem sequer a coragem de ousar pensar em fazê-lo?
O que é Deus?
O que é o Diabo?
Que és tu?
Quem sou eu?
Quuem são eles?
É a vida, amiga(o)! Isso, é a vida, mesmo, viver. Liberdade.
A vida dos que vivem.
Não é a vida dos que já morreram mas não deram conta, porque não vivem, não viveram, porque não conseguem entender que é esta dicotomia que os domina, para sempre, até quererem. E, a todos. Deus e o Diabo.
Quem é que está nesse olhar, que me fixa, Deus ou o Diabo, ou os dois?
Em qual devo acreditar?
Em nenhum, respondo, porque a credito no que quero acreditar e, é isso que me leva de volta ao Valete.
Valete é um rapper português, que admiro há anos, porque faz intervenção.
Não é um daqueles rappers, das redes sociais, talentosos, mas com meias até ao joelho.
Valete é barra brava à séria.
Valete é mais cru na escrita do que eu sou e o que eu Amo revoluções...(reticências)!
A tinta que sai da medula dele é ainda mais carregada que a minha, mas o gajo inspira-me, quando eu me esqueço de ser o gajo que sabe sobreviver na selva dos humanos. Quando me obriga(m) a pensar no que ninguém pensa. Apenas uma música. A música tem tanta magia que não escro sobre ela neste texto. Tem que ser em outro.
Às vezes a pessoa vai a baixo.
Cada um tem os seus dias, não é?
Então (muleta assumida), dizia Valete, sobre a minha dicotomia:
Tu fazes muitas críticas, acusações e perguntas
Agora vou abrir o jogo só para ver se tu aguentas
Deus só existe fantasiado na vossa mente
Eu sou Diabo, o único ser superior existente
Vocês são minha criação, feitos à minha semelhança
Por isso é que o mundo é um palco de malevolência
Quando praticam o Bem é só um acto de desobediência
Vossos instintos naturais são o ódio e a ganância
Terão sempre a ditadura, a escravatura, a opressão
Descriminação, censura, repressão
Minha função foi criar-vos para auto destruírem-se
Para fustigarem-se, invejarem-se e consumirem-se
Pa' mergulharem na imperfeição, erro e pecado
Enlamaçarem-se no mal que eu tenho libertado
Deus só existe fantasiado na vossa mente.
Revejo-me no que ele escreveu, mas de uma forma diferente, oposta, a essência é, no entanto, a mesma.
Deus só existe fantasiado na nossa mente porque é a forma de ele existir, mas falta acrescentar, fantasiado na fé, no imaterial, no propósito. No verdadeiro Propósito!
Por isso fantasiado, porque a mente é uma espiral cheia coisas inusitadas,
Há, sempre, no que queres, no que quero, no que queremos, que se quere, um propósito maior.
De outra forma a vida resume-se a “tarraxar” com a vida, no social, na praia, em restaurante de luxo, merdas banais, mas “tarraxar” não é isso.
“Tarraxar” é colar pernas entre pernas, gingar, lenta, mas de forma tão saborosa que os olhos cerram e os lábios abrem-se num sorriso “que escapa”, enquanto a música faz sua parte.
Os corppos cola-se, transpirados, mas os olhos mantêem-se cerrados.
A cena é:
Que olhar é esse, afinal?
Deus, Diabo?
Que canto é esse onde te sentas a beber um café sem açúcar, mas cheio e doce de magia?
Quem és. Quem sou. Quem somos. Triologia.
Um canto qualquer, porque Deus é quem nos guia. Se eu dou deus sou o meu condutor.
Porque é nele que busco a sabedoria.
Sou maluco mas não sou parvo, sempre atento porque o diabo esconde-se nos pormenores.
O Diabo.
Ardiloso, que se insinua nas sombras, sussurrando tentações.
Gosto dos dois. De Deus e do Diabo, sou assim e, então?
Recebo-os com cavalheirismo, no olhar, porque olhar não é só olhar. É olhar e ficar e querer.
O Amor.
É o ópio dos poetas.
Não sou poeta mas sou viciado no Amor.
Ele, sim, imprevisível, arrebatador, indomável. O Diabo e Deus são meio previsíveis, afinal, forma inventados pelo homem.
O Amor, não. Ninguém o inventou porque ele inventa-se a cada momento.
Deus tem soluções antes dos meus problemas.
E, o Diabo guarda o meu templo, à porta,
Mas, nesta dicotomia passa a haver um” triálogo”; Deus, Diabo, Amor.
Enquanto o Diabo semeia o caos é o Amor que se atreve a pòr os pés à parede.
Deus assiste e analisa. Apenas.
E, chegado ao cruzamento , a placa mostra me Diabo para a esquerda, Deus para a direita, Amor, em frente e chego a uma conclusão, no meio do caos que provoca o renascimento:
Sou deus e sou o diabo.
Mas, há aqui magia, porque ainda estou a olhar para a placa com as indicações.
O Amor que desarranja tudo, talvez vá em frente.
E, tu, quem és?
Já te olhaste bem ao espelho, lá dentro de ti?
Se não viste Deus, o Diabo e o Amor, morreste e não deste conta disso.
E, morrer também é uma opção.
Só há um momento na nossa vida que não é nossa escolha: quando nascemos.
Isso é o verdadeiro empoderamento.
Não escolhemos nascer, não há como, mas podemos escolher, a partir dessa fracção de tempo, tudo o que somos e também tudo o que queremos, porque, até o Amor.
O Amor pode escolher-se, disse-me a vida.
E, não há como meter um leão dentro de uma jaula e senti-lo livre.
A minha dicotomia ficou aqui resolvida, com este texto, é para isso que serve este blog.
Quando Deus e o Diabo, seja quem for que apareceu primeiro, me vierem chatear, saco da arma mas não disparo.
Aviso: respirem lá fundo, porque disparo Amor. Sou um snipper que dispara setas.
E, ficamos assim, senão tenho que acabar a citar um dos meus ídolos:
Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.
- Albert Gabi Einstein -