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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

09.03.24

OS PIRATAS E O ESCORPIÃO


The Cat Runner

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O mar acalma.

Acalma quando os ventos vão de feição e depois da tempestade passar.

Dois momentos. Um meio. Um fim. A calma.

Quem vive junto ao mar tem esse privilégio. Quem se faz ao mar também.

No mar partilham-se histórias que têm tudo para dar certo até ao momento em que ao longe no horizonte se aproxima um temporal.

Não deixa de ser apenas mais um temporal, passa, mas pára a história, porque é o momento da verdade. O Adamastor. Medo...

Era assim no tempo dos piratas.

Mantinham a paixão viva, onda-a-baixo-onda-a-cima, enquanto a caravela subia, alto, muito alto e, no pico da onda, descia, abruptamente.

As ondas cegavam os homens com o sal, até aqueles que se viam só de costas, sombras salgadas, mas as velas eram sempre ajustadas e o azimute reformulado, o mapa seguia o seu traçado e o futuro da Terra Desconhecida era ali à frente.

Os piratas nasceram dos Elementos.

Forjados a Fogo, cravado na pele, a Água, que lhes  seca os rostos, a Terra, por onde se passeiam, nos portos, onde roubam corações aos mais incautos e o Ar que os impele a serem piratas.

As tatuagens contam histórias como os piratas, naquela altura marcavam os escravos, os criminosos e os prisioneiros de guerra. Não eram fashion e não havia borboletas a traço fino, esborratado com o tempo.

Era um pirata, o Capitão (James Cook), diz até que foi ele que descobriu ou inventou o surf, vá-se lá entender estas modernidades.

As tatuagens era feitas com ossos finos e com um punção, que funcionava como um martelo e faziam um som estranho, as pancadas.

Quem nunca...

Assim nasceu a palavra Tatoo – tatau tatau tatau -, diz na Wikipédia.

Eu tenho dez tatuagens e 100 cicatrizes.

Estão todas escondidas e só as mostro em ocasiões muito exclusivas.

Poucos entendem o conceito de exclusividade.

As cicatrizes são soft secret skills, como agora se diz.

as tatuagens são soft power, como disse eu agora.

A tatuagem que mais gosto fi-la há dois dias.

Um golfinho com trinta anos, já reformado, idade avançada, deu lugar a um grande escorpião. Preto!

Imprudentes, aqueles que olham um escorpião nos olhos, conhecem-lhe o veneno e ainda assim arriscam.

Foi o que aconteceu na fábula do sapo.

É só uma fábula, não é real, como a vida, que também é uma fábula. tantas vezes uma comédia, uma sátira, uma armadilha.

Assim é a fábula.

“O escorpião precisava atravessar o rio.

Pediu ao sapo que o levasse até à outra margem.

O sapo teve medo.

O escorpião podia picá-lo com a sua cauda a qualquer momento. Recusou.

O escorpião, charmoso, inteligente, acima da média, encantou o sapo e disse-lhe:

"se eu te picar, tu morres e eu morro".

O sapo convenceu-se. O escorpião não sabia nadar. Atirou-se ao mar.

- Ninguém deve atirar-se ao mar sem saber nadar, seja escorpião ou outro qualquer elemento da fauna do planeta. É básico! -

Quando ambos atravessavam o rio, ainda quase a meio, o escorpião estica a cauda, bem no alto e num movimento semi-circular crava a ponta carregada de veneno, condenando os dois à morte.

Com um enorme problema de consciência, a sua, o sapo pergunta ao escorpião porque o espetou com a cauda e o encheu de veneno?

O escorpião respondeu-lhe: “é a minha natureza”.

Nada muda o que não tem que ser mudado.

Está na natureza de cada um, o bem ou o mal.

Cada um viverá com o seu próprio veneno, doce ou ácido.

Eu gosto do escorpião no meu ombro.

Sinto-me seguro com ele.

Fui eu que lhe o ensinei a usar  veneno.

Se ele me picar, como fez com o sapo?

Morremos os dois.

Está-nos na essência.