“KIKO” OU O PERFUME DO AMOR
Os alquimistas sempre me despertaram uma secreta curiosidade.
Sempre os vi, sem figura definida, como vultos que espalham um perfume raro, destilado na alma e em câmaras secretas do coração.
Uma espécie de magos que procuram o elixir da imortalidade, será a tal Pedra Filosofal?
É do domínio da dimensão espiritual e simbólica, que se materializa.
Uma coisa é certa, os alquimistas exploravam as misturas de substâncias em busca de segredos só deles.
A alquimia é, ou era, não. é, na verdade – como já vai ver – uma jornada espiritual de evolução da alma em busca da iluminação pessoal, presa a um legado eterno.
Eu tenho uma amiga que é alquimista.
A Catarina é alquimista do Amor.
É a única alquimista que conheço.
Só que a Catarina é muito além da magia.
É a minha melhor amiga – tenho mais uma ou duas – e é minha irmã.
Pais diferentes, mas não releva nada no caso.
A Catarina ensinou-me muitas coisas. E, ensina-me, ainda.
É uma das minhas wingman, quando ando aos comandos dos meus aviões supersónicos.
É ela que está sempre com os braços abertos, na torre de controlo, quando preciso de me ejectar e o filho da mãe do pára-quedas não abre. Às vezes acontece.
Ela está lá para me amparar.
Depois celebramos, comemos doces conventuais e bebemos vinho.
A Catarina faz os melhores doces conventuais do mundo, os fios de ovos, então, credo cruzes canhoto que chega a ser pecado, sensualmente, doce.
A Catarina tem uma floraria e faz arte bela com as flores, faz coisas que mais ninguém faz, até faz flores que se comem, eu sou testemunha, comi e sobrevivi.
Isto é agora, porque a Catarina já fez milhares de coisas, em casa faz tudo, pedreiro, pintor, ladrilhador, canalizador, decoradora, dona-de-casa, e o resto já não sei, não é da minha conta, que são coisas privadas, entenda, por favor.!
Até uma empresa de depilação teve.
E, uma escola de pole dance e formações numa artre tão deslumbrante quão difícil.
E, ainda por cima faz mais de 100 quilómetros só para estar comigo. E, eu com ela.
Um furacão assim não pára de seguir o caminho que decide seguir e há uns anos falou-me de mais uma ideia louca.
Os anos passaram e as nossas vidas viraram-se do avesso, mas essa ideia louca estava nela e nasceu, como que em segredo.
A Catarina ensinou-me, como sempre, que uma tragédia pode provocar-nos duas coisas, afundarmo-nos ou refundarmo-nos.
E, mana, a Fénix ao pé de nós é uma andorinhazinha, o que não deixa de ter a sua beleza também.
Há momentos em que a alma expele um aroma de saudade, os amores perdidos, os dias que se foram, notas de aroma melancólicas, onde mora uma beleza profunda.
Gotas que se espalham acariciando o seu redor como uma brisa abençoada. Suave.
Porque a vida não pode ser aprisionada dentro de um frasco branco, o frasco branco como rótulo amarelo.
Kiko.
Os sentidos premiados com a riqueza do amor.
A fragrância que perdura quando tudo vira pó.
Dentro do frasco branco, notas que dançam, em passos de resiliência, que criam momentos de doces desafios, por vezes, agridoce, mas notas, notas que vão amadurecendo, moldando a fragrância única que se espalha pelos recantos do ser e da casa.
É um perfume raro.
Destilado nas tais câmaras secretas do coração, onde cada nota é um eco, cada gota uma lágrima, cada novo cheiro um sorriso.
A alma que transcende o eterno e o efémero.
Que mergulha nas profundezas do “eu” e cria um aroma final, com a essência da própria existência.
Com Amor.
Especialista nestas coisas do Amor, convidou-me para almoçar, via-a a dançar pole dance a meio da tarde entre shots e gargalhadas, olhares bonitos, conversas loucas, no chão, no sofá, olhos sempre nos olhos.
Eu, ela e alguém.
Alguém que se encantou e almoçou, e dançou pole dance no varão da Catarina, a meio da tarde entre shots e gargalhadas, olhares bonitos, conversas loucas, no chão, no sofá, olhos sempre nos olhos.
Acabámos a noite no local secreto. Todos os alquimistas têm um local secreto, a floraria, onde tudo se transforma e impacta-nos a todos.
Nesse dia, já noite, obrigou-me a trazer um conjunto deste perfume mágico, “Kiko”.
Um cheiro, um nome, uma história bela, de Amor puro.
Mas, antes, quis que visse algumas mensagens de clientes, sobretudo, homens.
Não as vou traduzir, porque não cometo inconfidências, sem estar autorizado, mas como os advogados, posso, qual enguia, responder sem responder.
Advogados, nada contra, mas, deu jeito para o exemplo. É por uma causa boa.
Não traduzo, mas confirmo.
Quando cheguei a casa borrifei tudo, cama, lençóis, almofadas – tenho quatro e gigantes, com penas de ganso, ah pois, brincar é no parque – depois fui à sala e pimba, sofá, almofadas, cortinado, acho que até as laranjas, na fruteira ficaram salpicadas de magia e energia boa.
Foi isso que encontrei, quando muitas horas, depois regressei a casa, no dia seguinte.
Meti a chave à porta.
Abri-a.
E, fiquei ali, durante segundos, antes de a fechar, antes de entrar.
Foi um dos dias mais lixados do ano.
Decisões que temos que tomar, dúvidas que temos que controlar, ansiedade que não nos pode matar, sorrisos que se podem perder, coisas de gente grande. Um dia de cão.
Ali, antes de entrar na minha casa, entre a porta, e o hall, entre a porta e a casa!
O que me impressionou, imediatamente, foi a Luz.
Não era a mesma luz.
A minha casa estava com Luz.
A energia era absolutamente estarrecedora de bonita.
E, cheirava a paraíso.
Eu nunca fui ao paraíso mas calculo que cheire assim.
"Kiko" é o amor mais puro, a dor e o prazer mais antagónicos, alguma vez vividos, mas é uma dádiva.
A Alma, presente.
Hoje, quando entrei em casa, estava igual.
Tem sido sempre assim nos últimos dias.
Que seja para a eternidade.
Porque é Eterno.