ENSAIO SOBRE A SOLIDÃO
Entre sombras e luz.
É esta a condição humana.
A multidão e a solidão, companheira silenciosa.
A multidão que a teme e evita.
A solidão que ensina a viver.
É nela que encontramos a oportunidade única de nos descobrirmos, a verdade que nos mostra porque existimos.
É fácil sucumbir à solidão, por vezes ela torna-se num vazio desolador, mas não deixa de ser, na verdade, um convite.
Um convite para olharmo-nos por dentro, para descobrirmos os caminhos que conduzem aos recantos mais profundos daquilo que somos e fomos e seremos, porque seremos sempre o nosso próprio escudo protector.
O silêncio que nos confronta, a ausência de vozes, a (in)quietude do pensamento, como se a solidão não passasse de um espelho que reflecte a verdade crua, os sentimentos, os desejos e os medos.
Mas, o espelho reflecte tudo.
Ele não mostra só as imperfeições.
Ele define uma imagem à medida que vamos reconhecendo naquela figura tanto por explorar, num aparente vazio, onde mora a capacidade para criar e transformar.
A solidão também é uma opção, tal como viver e morrer, simples, tão simples, assim.
É aqui que a solidão é transformadora. Bela. Livre. Sim, a solidão só é feliz quando está em liberdade.
Não se pense que a solidão é só uma jornada interior.
É também a ponte que permite resolver os problemas com Deus.
Abraços.
Abraça a solidão e ela derruba-te as barreiras e guia-te até ao significado, numa procura que te junta aqueles que buscam o mesmo, a empatia, a compreensão, o rumo, que não se encontra na multidão, que por vezes escapa à multidão, afinal, a multidão não sabe falar sobre a solidão.
Ela pode ser um inimigo a combater, ela pode ser um Mestre, a escolha é pessoal.
Na solidão aprendemos a apreciar a nossa própria companhia, a olhar a beleza que mora no silêncio, onde nos convidamos à autenticidade e chamamos a coragem para sermos, verdadeiramente, nós mesmos sem máscaras.
A solidão é uma linha recta para a compaixão, uma cabana onde a alma se refugia, sedenta de saber o seu próprio significado. A solidão tem dúvidas, não tem só as suas próprias certezas.
Na solidão encontramos não apenas nós mesmos mas também a promessa de um despertar.
Despertar, luz,.
A luz que abate a escuridão e obriga a compreender a vida, da forma mais profunda.
Um pouco como aqueles homens complexos mas que não são complicados.
Não sou um homem só.
Apenas amo a solidão, até porque a multidão está sempre atrás da porta, do lado de fora e a vida acontece toda do lado de cá, do lado de dentro, do lado esquerdo, o lado do coração.
É preciso abrir a porta.
É que sou um gajo de amores, só não gosto de multidões.