RENASCER DENTRO DO OLHO DO FURACÃO
Não tem nada que saber.
Do nada começa a saber-se o quase tudo, apenas aquilo basta, porque ninguém quer saber tudo, enquanto o tempo assim não o decidir.
E, a vida segue, entre esperanças, ansiedades, certezas, incertezas, indefinições definidas.
Não tem nada que saber.
É tudo muito prático.
Então...
O furacão chega com os seus ventos fortes.
Ali, sempre, ali e também aqui, o rio segue o seu curso.
Tiras a camisola, das as boas-vindas à chuva, que quase obriga a fechar os olhos e a passar a mão molhada, pelo rosto, nariz, lábios, olhos quase fechados.
Quase uma dança sensual, ele e ela, a mão e o rosto.
O vento vira brisa, cortado às fatias, para melhor arrefecer o peito nú.
O fio com a cruz enrola-se no pescoço, ao contrário, para não ferir o peito e o coração.
A água no chão molha menos que o olhar que o rio desperta, ali, a beira-rio, onde moram as heranças, ao mesmo tempo que, na outra margem o sol nasce, sempre, todos os dias. Sempre.
Enfrentas a tempestade como uma pega de caras a um minotauro, preto, imponente, que se destaca pela bravura mas também por uma leve tonalidade dourada.
E, na cara, sacudidela após sacudidela, sempre agarrado aos cornos, o homem e a besta, numa união tão íntima que obriga a multidão a levantar-se, num único movimento, para um aplauso sem fim.
Haja braços, para não largar os cornos da besta.
Não tem nada que saber.
Quando enfrentas o furacão, quando entras por ele dentro, com aquele sorriso filho da mãe e lhe dizes “sê bem-vindo”, passas a fazer parte dele, és como ele, já não passas sem a sua força, sem o seu poder, sem a sua energia, sem a sua voragem, sem a sua presença.
E, o que parecia o caos, reorganiza-se, quando regressas a casa.
Trata-se de seguir a alma e o que ela diz.
Em paz, porque há sempre um horizonte.
Mais perto, mais distante, mas é nele que as sombras da complacência se desvanecem, onde se ergue a saga e se forja o amanhã.
Que desafio, dirá.
Talvez, direi.
And what?
Estamos no palco efervescente, perante a plateia de contornos que desenhámos.
O palco é uma batalha.
Saber que s ventos da incerteza tornam-se aliados intrépidos, que aplaudem a cada fala é segredo. Shiuuuuu...
Palmas cadenciadas, que esculpem o destino. O destino? Não há destino. Apenas aplausos.
O palco torna-se ardente, cai o pano desafiando a resignação, irrecusável desafio.
A peça não pode terminar com o acto final.
Um animal de palco não se domestica, só os aplausos o acalmam, como o calor morno do sol quando o dia começa, junto ao rio, de mãos dadas com o furacão.
Tudo se transforma em degraus ascendentes, uma escadaria que antes era um campo de batalha, um palco, o palco, o terreno fértil onde foram lançadas sementes de loucura que empurra todos os sonhos de toda a vida.
A escadaria que leva ao topo da saída de cena.
O pano caiu.
O futuro não é uma utopia.
É apenas um labirinto que só os destemidos conseguem entender tratar-se de um manifesto.
A brutal luta pelo desconhecido, a busca pela ressonância do tal raio de luz morno, como um abraço.
A luta não é apenas uma jornada. É um legado.
Nos rastos das batalhas travadas deixamos a marca da determinação que desafia todos os compêndios.
Os do passado, os do presente e os do horizonte.
São as nossas mãos que moldam o caminho.
É o nosso coração que nos guia por ele.
É a nossa alma que se encontra no destino.
Ousadia.
Não tem nada que saber.
Nenhuma peça termina assim.
O pano sobre, de novo, porque os aplausos não páram mais.
O palco é a vida.