THE SHOW MUST GO ON
É o ciclo eterno.
A vastidão onde os Homens Bons se sentam, finalmente, enquanto observam aquela coreografia silenciosa.
Cravos levados até à foz, o momento, a transição que a corrente arrasta, tão inevitável como o rio correr desde a nascente.
Um portal que nos leva para lá do visível, numa jornada de tormento, porque o rio corre bravo, depois, na quietude, finalmente, na quietude dessa promessa nova de renovação. O ciclo eterno.
Descobre-se o belo profundo, misterioso, com olhos rasos de Lezíria, como escreveu o Tê.
Talvez, como as borboletas, talvez seja a metamorfose que nos leva até a um outro portal.
Um grande portão, aberto com uma grande chave, uma, duas, três, quatro voltas.
Sabes que para lá dele há um jardim que só tu conheces. Árvores altas e grossas, onde cada folha dança com o vento, onde cada raíz conta uma história.
E, sentados, os dois, esticamos os braços, agarramos as mãos, porque no final da jornada, quando as folhas caem, não é o fim. É o retorno, essa promessa silenciosa de renovação, tal como as estações transformam a paisagem, a alma segue o ciclo eterno;
Renascer, no lugar onde as palavras se confrontam com o indizível, onde a beleza não é efémera, onde a serenidade não é um desconhecido, onde cada despedida é apenas uma promessa, esteja o céu escuro ou a alma feliz.
É a vida a acontecer, no seu ciclo eterno, o rio, os cravos, de norte para sul, da nascente para a foz, sempre um ciclo, como as correntes, como as marés, como o Amor Eterno.
Então, diante do ocaso ergue-se a força que verga o medo, porque até na noite mais escura, a beleza da jornada continua, incondicional, desdobrando-se, revelando-se, em cada dia, destes longos dias, que não estão marcados em nenhum calendário.
As tuas mãos grossas, gretadas pelo carácter, ásperas de tão suaves, quentes, apertam as minhas, ali, sentados, os dois, na raíz daquela árvore, enquanto me sussurras ao ouvido:
Vai ser feliz.
Faz a tua obrigação.
Aliviaste a tua mão, por esta hora.
Por esta hora o melhor jogador do nosso mundo marcava um golo de Liga dos Campeões.
A partir desse instante passou a olhar o céu sempre que marca um golo.
É o melhor marcador da equipa.
Ele adora olhar o céu.
Sinto as tuas mãos agarradas às minhas.
Sinto a tua mão a deixar-me, enquanto ele corria por ali fora a festejar o golo mais bonito da sua vida.
Tenho que ir!
Fechei o portão grande, dei quatro voltas à chave, porque é aí que vives.
Será nesse grande jardim que te irei visitar sempre que quiser sentir as tuas mãos agarradas às minhas.
Foi há um ano, Pai.
Parece que foi tão lá atrás no tempo que é como se fosse agora.
Para sempre.