NADA É POR ACASO
O Universo conspira.
Eu sei, por isso escrevo.
Conspirar não é, forçosamente, mau.
Conspirar é a filigrana que se entrelaça, pequenos capítulos que se revelam, como quando o sol se despede no horizonte e o céu se transforma num quadro que até podia ter sido pintado por mim, nunca o tendo visto.
Um dia gostava de ver o sol despedir-se no horizonte.
Uma espécie de caleidoscópio – nome estranho – de cores, ou rastos de estrelas, aquela filigrana que se entrelaça numa dança interminável.
O imaterial materializado.
Nada é por acaso, o destino é impalpável, invisível, intocável, o destino é apenas uma invenção do Diabo para nos distrair.
Senão sería impossível criar a Obra-Prima.
O Universo conspira.
É quando se sente a brisa suave, que nunca tocou o rosto, os murmúrios dos raios de luz, dourada, morna, terna, filigrana.
Chega a tocar o belo.
Momentos, encontros em desencontros, que revelam a vida, o seu desenho, traços que depois de decalcados jamais se apagarão.
Não há borracha que apague a vida.
O Universo conspira.
Leva por caminhos cruzados, em instantes, fantasmas, sombras brancas, vultos sem saber como olhar, numa encruzilhada inesperada, com promessa de novos começos.
Por isso, inesperada.
É como se o Universo, do alto da sua sabedoria sussurrasse ao coração: “eu estive sempre aqui, fui eu quem te guiou pelas sombras, fui eu que alinhei as estrelas para iluminar o caminho”!
Nasce o sorriso, porque o Universo conspira, porque nada é por acaso!
Nasce a história, entrelaçada, a filigrana, pegada com leveza, tratada com amor, uma mão estendida que trabalha a Luz, dourada, como os cabelos louros, apanhados com um elástico.
A filigrana que se entrelaça à medida que vai revelando, ponto-a-ponto, toque-a-toque, um tapete mágico, que voa para onde o olhar alcançar.
Um tapete mágico que ganha forma, salpicado com as cores do sol, quando se despede, no horizonte.
Não existimos. Vivemos.
Por isso os poetas uniram-se, escreveram as mais belas canções de amor, porque o Universo conspira, sim, e por vezes, é na beleza do gesto, na ternura do olhar, no toque tão próximo, que leva a acreditar que foram séculos.
O Universo mostra ao que vai, porque o sol também nasce e também se veste de outras mil cores.
E, agora?
Agora, somos parte de algo maior, que passa as fronteiras do entendimento, porque o palco do tempo é efémero, por isso, cada dia revela o sonho, o caminho para ganhar o futuro, todo, inteiro, lá à frente, porque haverá sempre uma resposta a um ponto de interrogação.
E, agora?
Agora, veste-se o fato da personagem principal de uma história à qual os poetas dedicaram a sua coragem.
O céu continua estrelado, as almas continuam a dançar ao som do tempo, as linhas ténues fundem-se, transcende-se os limites desse tempo e do espaço.
É o Universo a apresentar o seu novo sol, a explosão de Luz, a intensidade e o calor reconfortante, sem barreiras.
Ecos de gargalhadas partilhadas, testemunhadas pelos suspiros, faíscas que ficam para trás iluminando os rostos, até então, os fantasmas, as sombras brancas, os vultos, naquela encruzilhada inesperada, com promessa de novos começos.
São as escolhas, as realizações, os propósitos que moldam o que todos chamam destino.
O destino é uma tanga.
São degraus de uma enorme escadaria, conquista, degrau-a-degrau, peças de um mosaico que se vai transformando, preto e branco até às cores do nascer e do pôr do sol.
O destino não sabe desenhar telas em branco.
Amanhã é a tela em branco à espera que a felicidade a desenhe com histórias de amor, eternas. Como nos livros.
É irrevogável, porque o eterno é como passar o plano material e voltar ao imaterial.
A desconstrução.
Para que o Universo possa acreditar que é transformador, como aquela música que passa no rádio:
“Investi sem hesitar, nunca quis nada, tanto assim, tudo fiz por um beijo.
Mas, não foi só um beijo, para mim.
Sou só um egoísta ruim”!