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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

29.02.24

VOZES DE COMANDO


The Cat Runner

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A Marshall toca à sua vontade.

Alguma vez tinha que ser.

Dei-lhe a primeira folga na vida.

Random, tal e qual a vida, como tem que ser.

Ao fundo, o som da máquina de lavar louça, como se fosse um monstro marinho que vem à superfície e faz “glughrgh” (isso, é imaginar um monstro marinho a fazer“glughrgh”).

Mas, passa bem, o som da máquina, lá ao fundo e, como numa espécie de hipnose, só a música é perceptível, todos os outros sons limitam-se a existir.

Rodeiam e fazem parte do ambiente, mas não se destacam.

Como a multidão. Há sempre um que olha para a frente, enquanto todos os outros olham para o céu.

Escrevo muitas vezes muitas coisas que não fazem sentido, eu sinto.

Escrevo-as porque fazem sentido.

Escrevo porque não têm que fazer sentido nenhum.

Como hoje.

Hoje foi um dia bom.

Reencontrei um amigo, tínhamos umas conversas a ajustar, como em jeito de contas.

Atrasou o almoço e tomámos café na esplanada.

Quanto ao mais, foi como qualquer outro dia de folga, a ida à missa, em passo-de-corrida, que eu sou muito religioso nestas coisas e trabalhar, até nas folgas, é verdade.

E, sonhar.

Faz parte do dia.

Sonho imenso acordado.

Gosto de sonhar com os olhos abertos e os pés nas nuvens.

Sonhos são sonhos e cada um tem os seus.

Há quem sonhe com os olhos fechados, mas não é aquele power!

Sonho com almoços infindáveis, quando era apenas um café entre amigos, sonho com conversas que se atropelam de vontade, por dentro da tarde e dos corações, sonho com uma praia, verdade.

Uma praia e gente vestida de branco.

Sonho em ter um motorista, não para parecer petulante, mas porque odeio conduzir.

Logo eu, que fui condutor na tropa, imagine...

Uma vez estava de serviço como CDU (Condutor de Dia à Unidade) e calhou-me na escala ir buscar os recrutas à meia noite, que o dia tem sempre dois meios dias.

Eram uns 45.

Acontece que fui buscá-los com um autocarro. Juro!

Foi a primeira e a última vez.

Mas, não por mim, embora o alívio maior até tivesse sido meu.

O autocarro tinha as longarinas assimétricas, empanadas, mesmo e,  para levar a frente do autocarro de passageiros na estrada meia traseira ia na berma.

Aquilo, via eu pelos espelhos, era um filme de terror hiper-real para aquela gente toda.

Eu ria, aquele riso nervoso, mas meio sarcástico, a ver quando é que aquilo terminava, mas nunca  dei parte fraca, eu é que era o condutor

Não contente, quem me meteu o serviço na escala, a estrada para a base aérea era metade às curvas e a outra metade também às curvas.

Minto.

A recta da base era a direito.

Aí, fui em ponto-morto até à porta de armas.

Ao meu lado, em lugar de destaque, o SDU (Sargento de Dia à Unidade), que era o comandante do autocarro – eu era só o tipo que conduzia aquilo pela primeira vez – , e que estava branco.

Morto-vivo, sem força na voz para me dar qualquer instrução.

Não me lembro do nome dele, mas lembro-me da cara de horror, ahahahaha.

A esta distância creio até que tería os olhos meio revirados, que só voltaram ao lugar quando, finalmente, travei aquilo, na parada, e abri as portas da frente e de trás  para descarregar os maçaricos.

Ia tudo a passo lento, como que a flutuar, num pesadelo (ahahahaha, de novo).

Os 45 tinham o olhar mais assustado, naqueles olhos, que jamais vi e eles jamais se esquecerão (raramente uso este  tempo verbal).

Eu dei o meu melhor. A sério, conduzi aquilo mesmo com alma. 

Conduzir um autocarro é uma sensação de poder absoluto, nada nos faz parar, nem o sargento de dia.

Era o que mais faltava, cortar o barato ao condutor.

Mandassem o autocarro para a oficina antes de me o darem para as mãos.

Foi “one shot”.

Nunca mais fiz serviço com autocarros.

Passei  a ir às cinco da manhã à vacaria buscar as bilhas do leite para levar para as messes.

Àquela hora dava para fazer umas cenas com a WV “Pão de Forma”.

Das dez bilhas conseguia sempre entregar umas três ou quatro cheias.

Na volta da vacaria havia uma descida e descer aquilo em quarta e travar no cruzamento, ainda tapado pela noite, era uma sensação brutal.

Escutava os galos.

O galo é o único animal que nuncia o dia ainda de noite.

Depois, passava a manhã a limpar a viatura, até à hora de ir levar os civis a casa.

Cinco da tarde, em ponto. Na tropa não se brinca e respeita-se a voz de comando sem questionar. Aprende-se um bocado, lá. Sobre valores. Adiante...

No caso dos civis não havia problemas, era uma carrinha de nove lugares e verdade seja dita eu tinha carta de pesados e ainda tenho. Condutor militar não assusta civis. É como a chuva que não molha militares. Experimente um TFM (Treino Físico Militar) à chuva e depois diga. Até lama tira dos dentes.

Também durou pouco tempo.

O prejuízo leiteiro era tal que passei a ir buscar o preso todos os dias. E, a levar.

Isso eu gostava.

Ia a Alcoentre na WV azul, às 5 da manhã, pegava no preso, trazia-o para a base, deixava-o na pecuária e ao fim do dia ia levá-lo, para a sua própria liberdade, fechada atrás de um grosso portão.

Aquilo corria bem. Acho que tinhamos ali um "crushzinho de amigos", se corria bem, vem sempre alguém mexer. Típico.

Pouco tempo depois passei a fazer serviço de MDU (Mecânico de Dia à Unidade), uma espécie de DDT (chefe de secção dos transportes) durante 24 horas por dia, sobretudo, entre o arrear e o hastear da bandeira.

Uma promoção, acho que ainda hoje não há quem se esqueça daquele autocarro do terror.

Fazia zero.

Passou uma vida e eu gostava de ter uma pão de forma azul.

Obviamente, isto tem a ver com os sonhos.

Cada um tem o seu.

Daí ter dito que gosto sonhar com os olhos abertos e os pés nas nuvens.

Faz sentido. 

Quando tiver a minha WV "Pão de Forma" vou voar com ela para o sítio onde os carros voam.

Acho que vou mudar a playlist da Marshall .

Está na hora de mudar.

 

 

24.02.24

ENSAIO SOBRE A SOLIDÃO


The Cat Runner

 

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Entre sombras e luz.

É esta a condição humana.

A multidão e a solidão, companheira silenciosa.

A multidão que a teme e evita.

A solidão que ensina a viver.

É nela que encontramos a oportunidade única de nos descobrirmos, a verdade que nos mostra porque existimos.

É fácil sucumbir à solidão, por vezes ela torna-se num vazio desolador, mas não deixa de ser, na verdade, um convite.

Um convite para olharmo-nos por dentro, para descobrirmos os caminhos que conduzem aos recantos mais profundos daquilo que somos e fomos e seremos, porque seremos sempre o nosso próprio escudo protector.

O silêncio que nos confronta, a ausência de vozes, a (in)quietude do pensamento, como se a solidão não passasse de um espelho que reflecte a verdade crua, os sentimentos, os desejos e os medos.

Mas, o espelho reflecte tudo.

Ele não mostra só as imperfeições.

Ele define uma imagem à medida que vamos reconhecendo naquela figura tanto por explorar, num aparente vazio, onde mora a capacidade para criar e transformar.

A solidão também é uma opção, tal como viver e morrer, simples, tão simples, assim.

É aqui que a solidão é transformadora. Bela. Livre. Sim, a solidão só é feliz quando está em liberdade.

Não se pense que a solidão é só uma jornada interior.

É também a ponte que permite resolver os problemas com Deus.

Abraços.

Abraça a solidão e ela derruba-te as barreiras e guia-te até ao significado, numa procura que te junta aqueles que buscam o mesmo, a empatia, a compreensão, o rumo,  que não se encontra na multidão, que por vezes escapa à multidão, afinal, a multidão não sabe falar sobre a solidão.

Ela pode ser um inimigo a combater, ela pode ser um Mestre, a escolha é pessoal.

Na solidão aprendemos a apreciar a nossa própria companhia, a olhar a beleza que mora no silêncio, onde nos convidamos à autenticidade e chamamos a coragem para sermos, verdadeiramente, nós mesmos sem máscaras.

A solidão é uma linha recta para a compaixão, uma cabana onde a alma se refugia, sedenta de saber o seu próprio significado. A solidão tem dúvidas, não tem só as suas próprias certezas.

Na solidão encontramos não apenas nós mesmos mas também a promessa de um despertar.

Despertar, luz,.

A  luz que abate a escuridão e obriga a compreender a vida, da forma mais profunda.

Um pouco como aqueles homens complexos mas que não são complicados.

Não sou um homem só.

Apenas amo a solidão, até porque a multidão está sempre atrás da porta, do lado de fora e a vida acontece toda do lado de cá, do lado de dentro, do lado esquerdo, o lado do coração.

É preciso abrir a porta.

É que sou um gajo de amores, só não gosto de multidões.

 

23.02.24

RENASCER DENTRO DO OLHO DO FURACÃO


The Cat Runner

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Não tem nada que saber.

Do nada começa a saber-se o quase tudo, apenas aquilo basta, porque ninguém quer saber tudo, enquanto o tempo assim não o decidir.

E, a vida segue, entre esperanças, ansiedades, certezas, incertezas, indefinições definidas.

Não tem nada que saber.

É tudo muito prático.

Então...

O furacão chega com os seus ventos fortes.

Ali, sempre, ali e também aqui, o rio segue o seu curso.

Tiras a camisola, das as boas-vindas à chuva, que quase obriga a fechar os olhos e a passar a mão molhada, pelo rosto, nariz, lábios, olhos quase fechados.

Quase uma dança sensual, ele e ela, a mão e o rosto.

O vento vira brisa, cortado às fatias, para melhor arrefecer o peito nú.

O fio com a cruz enrola-se no pescoço, ao contrário, para não ferir o peito e o coração.

A água no chão molha menos que o olhar que o rio desperta, ali, a beira-rio, onde moram as heranças, ao mesmo tempo que, na outra margem o sol nasce, sempre, todos os dias. Sempre.

Enfrentas a tempestade como uma pega de caras a um minotauro, preto, imponente, que se destaca pela bravura mas também por uma leve tonalidade dourada.

E, na cara, sacudidela após sacudidela, sempre agarrado aos cornos, o homem e a besta, numa união tão íntima que obriga a multidão a levantar-se, num único movimento, para um aplauso sem fim.

Haja braços, para não largar os cornos da besta.

Não tem nada que saber.

Quando enfrentas o furacão, quando entras por ele dentro, com aquele sorriso filho da mãe e lhe dizes “sê bem-vindo”, passas a fazer parte dele, és como ele, já não passas sem a sua força, sem o seu poder, sem a sua energia, sem a sua voragem, sem a sua presença.

E, o que parecia o caos, reorganiza-se, quando regressas a casa.

Trata-se de seguir a alma e o que ela diz.

Em paz, porque há sempre um horizonte.

Mais perto, mais distante, mas é nele que as sombras da complacência se desvanecem, onde se ergue a saga e se forja o amanhã.

Que desafio, dirá.

Talvez, direi.

And what?

Estamos no palco efervescente, perante a plateia de contornos que desenhámos.

O palco é uma batalha.

Saber que s ventos da incerteza tornam-se aliados intrépidos, que aplaudem a cada fala é segredo. Shiuuuuu...

Palmas cadenciadas, que esculpem o destino. O destino? Não há destino. Apenas aplausos.

O palco torna-se ardente, cai o pano desafiando a resignação, irrecusável desafio.

A peça não pode terminar com o acto final.

Um animal de palco não se domestica, só os aplausos o acalmam, como o calor morno do sol quando o dia começa, junto ao rio, de mãos dadas com o furacão.

Tudo se transforma em degraus ascendentes, uma escadaria que antes era um campo de batalha, um palco, o palco, o terreno fértil onde foram lançadas sementes de loucura que empurra todos os sonhos de toda a vida.

A escadaria que leva ao topo da saída de cena.

O pano caiu.

O futuro não é uma utopia.

É apenas um labirinto que só os destemidos conseguem entender tratar-se de um manifesto.

A brutal luta pelo desconhecido, a busca pela ressonância do tal raio de luz morno, como um abraço.

A luta não é apenas uma jornada. É um legado.

Nos rastos das batalhas travadas deixamos a marca da determinação que desafia todos os compêndios.

Os do passado, os do presente e os do horizonte.

São as nossas mãos que moldam o caminho.

É o nosso coração que nos guia por ele.

É a nossa alma que se encontra no destino.

Ousadia.

Não tem nada que saber.

Nenhuma peça termina assim.

O pano sobre, de novo, porque os aplausos não páram mais.

O palco é a vida.

15.02.24

GELADOS NO INVERNO


The Cat Runner

 

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Lá está, é um texto que não fala de gelados no inverno, mas tem tudo a ver.

Pelo menos o título fez com que chegasse até esta linha. Ponto.

Não custa continuar...

Enquanto como um gelado, ocorrem-me cenas, passam-se-me pela cabeça, ainda agora, dei comigo a pensar que se formos a ver bem podemos dizer que o dia se divide em dois, o dia e a noite, é a fusão dois, ambos os dois, como diria um grande jogador, num certeiro pontapé na gramática, constroem o dia.

É um bocado como aquela ideia de que a Terra não é redonda.

Disse-me um amigo, há cenas dessas que até fazem ver unicórnios (existem mesmo, os unicórnios). Porque não acreditar que a Terra é chata?

Porque é. Redonda mas chata.

Por isso decidiu-se dividir e ordenar o caos.

O dia e a noite, o dia dividido em dois.

Despertares antecipados, manhãs de janela aberta.

E, o meio do dia que divide o dia e remete para a noite, que começa a caminhar, como uma mulher sedutora, cabeça ligeiramente inclinada, braços caídos, para trás, para a frente, ao compasso do paço, assim é o dia, uma mulher.

Há sempre o ocaso, o sol que vai desaparecendo, o momento em que o sol se põe, entre um abraço, um chá de framboesa e mil perguntas, silenciadas pelo momento.

É assim que o dia se divide, em três, antes, depois, no meio uma fracção de loucura, que se confunde, que confunde, porque as janelas continuam abertas e a luz entra por ali dentro. Será sempre de manhã.

Ousar desafiar as leis da física e da lógica impõe saber que o coração parece ter feito um estágio intensivo em contorcionismo. Não entender é tempo perdido. O tempo perde-se, não se ganha. Que não seja em vão.

Luta titânica, o amor e as equações matemáticas complexas, variáveis, quase impossíveis de resolver e resultados que desafiam até o mais experiente dos algoritmos.

Como jogar, lançar os dardos, contra alvos inatingíveis, desafiando qualquer noção de (in)compatibilidade, porque o coração é um navegador destemido, um pirata que cruza oceanos de improbabilidades, destemido, porque afinal, quem precisa de lógica quando se trata de amor?

Quem se importa se as probabilidades estão mais destorcidas que um espelho de carnaval, neste reino, onde, mascaradas, as probabilidades convencionais, não são tão convencionais assim.

O absurdo é o normal.

Oceanos, continentes, desafios, tramas e monstros, reviravoltas e o vento.

Tudo tão mais raro quanto um unicórnio num desfile de moda (há unicórnios, contou-me um amigo).

É altura de brindar.

Erguem-se as taças da ironia, brinde-se aos amores que desafiam a lógica, desdenhe-se das probabilidades e torne-se o impossível num mero atalho.

Não há distância. Há oceanos. E, ventos, e correntes, e aventuras e desafios, e coragem, e destreza, e sabedoria, e muito rum à mistura.

Um pirata perde sempre a noção da distância. Preocupa-o o vento e a rota.

A razão, quem precisa dela?

Talvez a física quântica explique, porque é difícil de entender, mas irresistível de viver.

Não, isso não é comigo, o da física quântica é o Albert.

Eu só dei a dica.

As janelas estão abertas.

É de manhã.

O dia caminha para a fracção que o mudará para sempre.

Até ao dia seguinte.

Mas, é de manhã!

 

 

 

14.02.24

O DIA DO AMOR


The Cat Runner

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A liberdade é quando a alma corre, com o rosto levantado, entrecortado com o vento, de frente, que refresca o sorriso, com pingos de chuva que queimam os olhos e um frio tão acolhedor que chega a aquecer-nos a alma.

Nesses instantes, enquanto corro, costumo virar a cara para o rio, independentemente da música que me invade o cérebero e as artérias, naquele momento, sempre assim, porque é assim que eu corro. Vivo!

Em momentos que me travam, sem saber porquê, páro, tiro uma foto. Retomo sempre o caminho.

As fotos das minhas corridas parecem exibicionismo. Até são.

Mas, são as minhas mensagens, aquelas que eu quero que o mundo, um dia, se lembre.

Não são fotos sobre corrrida. Nunca foi.

No dia do meio, fui correr, como todos os dias, como irei hoje, o dia dos diuas, sempre no mesmo sítio secreto (ninguém sabe porquê porque ninguém tem que saber, eu, tenho).

O dia do meio.

O meio dia do dia e o meio dia da noite, a única fracção de tempo em que somos todos iguais, como a romã e o seus bagos.

A união na diversidade. Todos como somos, mas todos como queremos ser.

É de respeito, desejo, valores, celebração da vida, dos dias andados, os dias cansados, os dias de mãos dadas, é disso que se trata, é da prova provada que se trata.

É tudo tão Imaterial, se quisermos, e isso é ir muito além do comum.

Escrevo, qual  aprendiz,  de uma loja de polimento de pedras brutas, escrevo com as mãos gretadas, braços fortes de partir pedra, escrevo sobre o propósito da vida, esse "graal" que tudo comanda.

A sério?

Sim, é sério.

Eu acredito num caminho da verdade, do amor, do eu para ti, do mundo que, afinal, não é assim tão distante de mim.

E, provo o que digo.

Tentarei usar o storytelling.

Eu sei, este texto vai longo, vai a meio, melhor era fazer capítulos.

Isso, poderá ser, eventualmente, amanhã, o dia o decidirá.

Veremos como nasce.

Não deu conta, mas fui inalar uma coisa legal que me fez descobrir uns phones perdidos há semanas e só voltei agora.

Este parágrafo parece meio alucinado, wrong,

Alucinante foi, faz hoje um ano.

O dia dos namorados, sério?

Um abraço, especial, uma flor, ok, mas o exagero, sim o exagero faz parte da condição humana e ainda bem que faz.

Jantares, velas, bombons e o caraças, sim senhor, tudo muito bem.

Bora lá.

O dia dos namorados será sempre o dia 14 de fevereiro.

Mas, quem me dá o previlégio de ler este longo texto (é o longão da minha vida), também me concede o direito de sentir que este dia é dos namorados, mas também é o Dia do Amor.

Passou a ser O Dia do Amor.

Reparou nas letras grandes?

A história começa assim,

era uma vez um dia de despedida,

O cortejo seguia na descontra, a malta ia conversando, até os que seguiam dentro do carro preto, cheio de flores e cheiro a flores conversavam.

Lá, ao alto, onde o fogo oferece um bilhete para o "combóio do big adios", como diz o meu querido Alvarinho, estava um homem, encostado à parede do edifício, onde fica a "passagem", para entrar no combóio que tantas vezes Alvarinho menciona.

O Álvaro conheceu os gajos dos The Doors e é meu mano, respect!

O meu pai, vestido com a camisola do União, mais os cachecóis, mais as camisolas de campeão, mais aquele sorriso, que me mostra que nada devo temer - ia escrever que não tenho medo de nada - estava na fila para entrar na sua viagem, seguramente, um louca viagem, como todas, algumas delas viajei com ele, loucura total.

Saio ao meu pai.

Enquanto as pessoas faziam aquele compasso de espera activa - que eu observo e hipnotizo humanos, sou um expert mundial, sou mesmo, só ainda não me descobriram -tipo,  vamos dar os sentimentos ou entramos directamente para o salão, que tem uma espécie de bancos, como nas igrejas, credo cruzes canhoto, antes o demo.

Ao meio, o meu pai, sorriso em paz.

À frente o filho da puta do forno.

Aconteceu tudo antes.

Mal chegados, aquele vulto, aquele homem, vestido de claro, luz, tirou a perna esquerda da parede onde estava amparado e começou a caminhar em direcção ao nosso amparo.

Eu estava de mão dada com a mulher que ia dizer até logo ao seu amor eterno, o seu único e grande amor, que lição do caraças, minha mãe.

O grande amor, como o Amor de Romeo  e Julieta.

À medida que ele se aproximava eu via-lhe os contornos do rosto, cada vez mais nítidos.

"Não pode ser", pensei só eu.

"Sacana".

Sempre a sorrir, com aqueles dentes branco-imaculado, como este Dia do Amor.

Eu acho que até comunico bem nas redes sociais e sei que ele é inteligente, numa escala de zero a dez, quinze, mas falhámos os dois desta vez. Ahahah!

É que ele foI na véspera.

Não havia cortejo, rostos familiares, nem seque o defunto - deves estar a rir à brava, pai - , figura principal neste storytelling.

Se não havia nada, decidiu e bem e foi.

As peças da vida, escritas por pessoas com almas geniais, para lá do que vemos e redundam nestas cenas.

Eu sou diferente dos outros bilihões de seres, por isso, aqui, escrevo assim à maluca, como sinto e sou.

Ele também é assim.

Todos somos assim.

Haverá algum desses biliões de pessoas igual? Not.

Ele foi no dia anterior, mas a coisa dava-se era no dia do meio.

O dia entre o antes e o depois.

A ante-véspera, ontem e hoje, o dia em que o grande portão do jardim se fecha e só voltará a abrir quando a saudade me lá levar. Eu tenho a chave.

E, voltou.

Lá estava. No dia certo. No momento certo.

O "sacana", vinha a caminhar e a  andar - coisas diferentes -  cheio de luz, de brilho, cheio de energia que, naquele instante nos fez sorrir, vinha na nossa direcção.

Nós sorrimos nos dias maus. E, nos dias muito maus.

Foi mais ou menos assim, enquanto os figurantes da cena da cremação iam gerindo a coisa dentro dos seus padrões, vontades, corações, como entendiam.

Bem hajam.

"Meu querido, vais-me desculpar", diz-me ele a sorrir e a mostrar aqueles dentes brancos e aqueles olhos cheios de mundo bom, "desculpa, mas primeiro quero falar com a tua mãe".

A minha mãe quase não vê (e nunca na vida perdeu o seu sorriso e o seu olhar, terno, bonito, doce, mágico, que também é meu) - vou parar, de novo, está a ser catarse...

Voltei agora, são onze da manhã. Comecei este texto há dez horas.

Ironia ou doçura, foi por esta hora que tudo isto aconteceu, faz hoje um ano.

"Dona Adelaide, sabe que eu sou?".

"É o Rodrigo"...

"Sou, dê cá um beijinho, estou feliz de a conhecer (pessoalmente) porque já a conheço há muitos anos, ainda hoje de manhã, falei de si com a minha mãe".

Limitava-me a escutá-los.

Olhou-me nos olhos, vi o sorriso pintado de branco-imaculado, os olhos a brilhar entre a harmonia e alguma comoção, eu vi, eu sou bom nestas coisas da Comunicação Imateral.

Voltou a cabeça para ela:

"Dona Adelaide, nestes dias todos se lembram de quem morre e nunca de quem vive, hoje é o Dia dos Namorados, o seu namorado não partiu"...

Nunca partirá, hoje, um ano depois, apenas se fecha esta página. Há tantas para serem desenhadas, ainda.

Esticou-me o braço.

"Faz o teu papel".

Foi tudo muito rápido,

Segurei as rosas com ternura, olhei a minha mãe, nos olhos, sorrimos, estiquei o braço:

"Feliz Dia dos Namorados, amor da minha vida!".

A seguir fomos dar um beijo ao nosso Homem, porque "aquilo que mais interessa na despedida é aquilo que aquele que se despede gostaria".

"Se tirarmos AMOR da palavra NAMORADA sobra NADA"!

Dia 14 de Fevereiro será sempre o Dia dos Namorados.

E, o Dia do Amor.

 

 

 

 

 

 

 

12.02.24

THE SHOW MUST GO ON


The Cat Runner

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É o ciclo eterno.

A vastidão onde os Homens Bons se sentam, finalmente, enquanto observam aquela coreografia silenciosa.

Cravos levados até à foz, o momento, a transição que a corrente arrasta, tão inevitável como o rio correr desde a nascente.

Um portal que nos leva para lá do visível, numa jornada de tormento, porque o rio corre bravo, depois, na quietude, finalmente, na quietude dessa promessa nova de renovação. O ciclo eterno.

Descobre-se o belo profundo, misterioso, com olhos rasos de Lezíria, como escreveu o Tê.

Talvez, como as borboletas, talvez seja a metamorfose que nos leva até a um outro portal.

Um grande portão, aberto com uma grande chave, uma, duas, três, quatro voltas.

Sabes que para lá dele há um jardim que só tu conheces. Árvores altas e grossas, onde cada folha dança com o vento, onde cada raíz conta uma história.

E, sentados, os dois, esticamos os braços, agarramos as mãos, porque no final da jornada, quando as folhas caem, não é o fim. É o retorno, essa promessa silenciosa de renovação, tal como as estações transformam a paisagem, a alma segue o ciclo eterno;

Renascer, no lugar onde as palavras se confrontam com o indizível, onde a beleza não é efémera, onde a serenidade não é um desconhecido, onde cada despedida é apenas uma promessa, esteja o céu escuro ou a alma feliz.

É a vida a acontecer, no seu ciclo eterno, o rio, os cravos, de norte para sul, da nascente para a foz, sempre um ciclo, como as correntes, como as marés, como o Amor Eterno.

Então, diante do ocaso ergue-se a força que verga o medo, porque até na noite mais escura, a beleza da jornada continua, incondicional, desdobrando-se, revelando-se, em cada dia, destes longos dias, que não estão marcados em nenhum calendário.

As tuas mãos grossas, gretadas pelo carácter, ásperas de tão suaves, quentes, apertam as minhas, ali, sentados, os dois, na raíz daquela árvore, enquanto me sussurras ao ouvido:

Vai ser feliz.

Faz a tua obrigação.

Aliviaste a tua mão, por esta hora.

Por esta hora o melhor jogador do nosso mundo marcava um golo de Liga dos Campeões.

A partir desse instante passou a olhar o céu sempre que marca um golo.

É o melhor marcador da equipa.

Ele adora olhar o céu.

Sinto as tuas mãos agarradas às minhas.

Sinto a tua mão a deixar-me, enquanto ele corria por ali fora a festejar o golo mais bonito da sua vida.

Tenho que ir!

Fechei o portão grande, dei quatro voltas à chave, porque é aí que vives.

Será nesse grande jardim que te irei visitar sempre que quiser sentir as tuas mãos agarradas às minhas.

Foi há um ano, Pai.

Parece que foi tão lá atrás no tempo que é como se fosse agora.

Para sempre.

11.02.24

NADA É POR ACASO


The Cat Runner

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O Universo conspira.
Eu sei, por isso escrevo.
Conspirar não é, forçosamente, mau.
Conspirar é a filigrana que se entrelaça, pequenos capítulos que se revelam, como quando o sol se despede no horizonte e o céu se transforma num quadro que até podia ter sido pintado por mim, nunca o tendo visto.
Um dia gostava de ver o sol despedir-se no horizonte.
Uma espécie de caleidoscópio – nome estranho – de cores, ou rastos de estrelas, aquela filigrana que se entrelaça numa dança interminável.
O imaterial materializado.
Nada é por acaso, o destino é impalpável, invisível, intocável, o destino é apenas uma invenção do Diabo para nos distrair.
Senão sería impossível criar a Obra-Prima.
O Universo conspira.
É quando se sente a brisa suave, que nunca tocou o rosto, os murmúrios dos raios de luz, dourada, morna, terna, filigrana.
Chega a tocar o belo.
Momentos, encontros em desencontros, que revelam a vida, o seu desenho, traços que depois de decalcados jamais se apagarão.
Não há borracha que apague a vida.
O Universo conspira.
Leva por caminhos cruzados, em instantes, fantasmas, sombras brancas, vultos sem saber como olhar, numa encruzilhada inesperada, com promessa de novos começos.
Por isso, inesperada.
É como se o Universo, do alto da sua sabedoria sussurrasse ao coração: “eu estive sempre aqui, fui eu quem te guiou pelas sombras, fui eu que alinhei as estrelas para iluminar o caminho”!
Nasce o sorriso, porque o Universo conspira, porque nada é por acaso!
Nasce a história, entrelaçada, a filigrana, pegada com leveza, tratada com amor, uma mão estendida que trabalha a Luz, dourada, como os cabelos louros, apanhados com um elástico.
A filigrana que se entrelaça à medida que vai revelando, ponto-a-ponto, toque-a-toque, um tapete mágico, que voa para onde o olhar alcançar.
Um tapete mágico que ganha forma, salpicado com as cores do sol, quando se despede, no horizonte.
Não existimos. Vivemos.
Por isso os poetas uniram-se, escreveram as mais belas canções de amor, porque o Universo conspira, sim, e por vezes, é na beleza do gesto, na ternura do olhar, no toque tão próximo, que leva a acreditar que foram séculos.
O Universo mostra ao que vai, porque o sol também nasce e também se veste de outras mil cores.
E, agora?
Agora, somos parte de algo maior, que passa as fronteiras do entendimento, porque o palco do tempo é efémero, por isso, cada dia revela o sonho, o caminho para ganhar o futuro, todo, inteiro, lá à frente, porque haverá sempre uma resposta a um ponto de interrogação.
E, agora?
Agora, veste-se o fato da personagem principal de uma história à qual os poetas dedicaram a sua coragem.
O céu continua estrelado, as almas continuam a dançar ao som do tempo, as linhas ténues fundem-se, transcende-se os limites desse tempo e do espaço.
É o Universo a apresentar o seu novo sol, a explosão de Luz, a intensidade e o calor reconfortante, sem barreiras.
Ecos de gargalhadas partilhadas, testemunhadas pelos suspiros, faíscas que ficam para trás iluminando os rostos, até então, os fantasmas, as sombras brancas, os vultos, naquela encruzilhada inesperada, com promessa de novos começos.
São as escolhas, as realizações, os propósitos que moldam o que todos chamam destino.
O destino é uma tanga.
São degraus de uma enorme escadaria, conquista, degrau-a-degrau, peças de um mosaico que se vai transformando, preto e branco até às cores do nascer e do pôr do sol.
O destino não sabe desenhar telas em branco.
Amanhã é a tela em branco à espera que a felicidade a desenhe com histórias de amor, eternas. Como nos livros.
É irrevogável, porque o eterno é como passar o plano material e voltar ao imaterial.
A desconstrução.
Para que o Universo possa acreditar que é transformador, como aquela música que passa no rádio:
“Investi sem hesitar, nunca quis nada, tanto assim, tudo fiz por um beijo.
Mas, não foi só um beijo, para mim.
Sou só um egoísta ruim”!

 

 

 

09.02.24

GANHAR OU APRENDER


The Cat Runner

 

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A vida vai permitindo descobrir que há uma verdade incrível, quando damos sem esperar a troca.  Às vezes damos, apenas, sem esperar.

É difícil, porque uitas vezes damos e esperamos. 

Outras vezes, apenas, damos.

Aquela ideia de “quem abre mão de mim perde, eu não perco, porque eu dou”, não é só um mantra nem um slogan bonito.

É algo que premeia a maneira de encarar.

Tudo.

Quando a entrega é verdadeira, quando o coração é colocado no que é feito, no que é construído, não há como perder, no limite, aprender.

Pode parecer cliché, se calha é, importa quase nada, mas a sensação que a capacidade de dar, sem condicionantes, de oferecer a mão sem calcular vantagens, de estar, mesmo contra as cordilheiras de vulcões, essa sensação, quando vivida como lição de vida, como aprendizagem é transformadora.

Ela permite ser quem não sei foi.

É como se a vida funcionasse de forma curiosa, como na verdade funciona: quanto mais dou mais recebo de volta mesmo que não seja da mesma fonte.

Uma troca para lá dos números, dos favores, das expectativas. Uma energia, que flui. Imaterial, como a comunicação. Raro entender.

É a autenticidade do gesto que importa, é o estar presente que importa, é o olhar que importa.

Não aproveitar é uma pena, para quem não aproveita.

Porque alguém tem que perder, mesmo que alguém ganhe ou aprenda.

É a lei da vida.

Nunca abri mão de mim, preferi sempre expandir, criar teias de confiança, misturadas com generosidade, como se cada acto de dar fosse um tijolo.

Os tijolos constroem casas, embora as tempestades as derrubem.

Então, sim, abrir mão, da mão que se estende, que dá, é correr o risco de perder a chance, o “one shot” autêntico. Chegou a tempestade. 

Aceitar ou rejeitar.

Ganhar ou aprender.

É apenas a vida e a tal lei própria, o labirinto, cheio de corredores por onde vagueiam indecisões, que fazem pensar se o Minotauro é uma metáfora existencial ou se os medos existem mesmo.

Não se trata apenas de comprar um cão, porque há medos e medos.

Prefiro um Minotauro!

 

06.02.24

Cold Little Heart


The Cat Runner

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Por entre o sol, que enche o rosto, os dias de chumbo voltam a fazer-te uma visita.

Vêm ao engano, desta fez, mas "deixái-los" esmagarem-se neles próprios.

Hoje, o céu vestiu-se de chumbo, como que a forçar que  alma pareça perdida.

Um labirinto de sombras. 

Mas, veio ao engano.

Acha que é, e é,  fácil esquecer a força que mora nos nossos confins, em cada um de nós.

Mas, são estes, os momentos de desafio, onde a escuridão ameaça a luz interior que, por vezes, negligenciamos, nestes momentos de coragem, perante a tempestade de chumbo, que a resiliência, a verdadeira, emerge e rompe todas essas nuvens densas.

Veio ao engano, desta vez.

Já fiz tapetes com obstáculos da vida, quando o peso do mundo inteiro me esmagava, e voei neles, para sítios onde apenas eu acesso.

Como dizem os coachings, os mentores, os etc, etc, etc, a força reside na capacidade de reinventar-mo-nos, na cara da adversidade.

Não se trata de negar a dor, de ignorar as lágrimas, que teimam em ficar guardadas, trata-se de transformação. A construção de uma fortaleza interna que nada consegue abalar.

As nossas batalhas connosco, como a de agora, a de hoje, podem ser tão ferozes quanto as tempestades que assolam o horizonte. Basta levarem-nos lá para trás, na vida. E sentir isso desconforta a alma. 

É nesse caos que está a oportunidade, de dar, de mostrar, de estar, de escutar, de amar e de ser.

Assim como as árvores resistem aos ventos mais impiedosos e, no final, as raízes aprofundam-se ainda mais, na terra, também nós também podemos encontrar-nos,  no meio de um caos, que não durará para sempre. Há o dia seguinte! 

A serenidade não é um refúgio distante e inalcançável; é um estado de espírito forjado na força que enfrenta as adversidades de cabeça erguida.

É como um oásis que encontramos no deserto, um espaço sagrado que só podemos acessar quando aceitamos a dualidade da vida, com as dores e os prazeres entrelaçados.

Cada cicatriz conta a história de uma batalha ganha, cada lágrima é um tributo à coragem que nos impulsiona adiante. Adiante!

Nos dias de chumbo, recordemos que somos forjados no calor das provações, e é justamente nesse calor que encontramos a força para desafiar a escuridão.

Que a nossa determinação seja como um farol, iluminando os caminhos mais sombrios, quando nos enganamos na encruzilhada dentro das nossas cabeças.

 Que nossos corações, mesmo em nos dias mais densos, encontrem a paz que reside na aceitação e na resiliência.

No final, é a nossa força que nos conduz de volta à serenidade, e que transforma a escuridão-chumbo, numa tela em branco, pronta para ser preenchida com esperança e superação.

É disso que somos feitos, meu puto.

Hoje era um daqueles dias que eu deitaria a toalha ao tapete!

Sim, o super-homem por vezes não sabe da capa, como eu não sei dos phones, ou da chave de casa, ou dos óculos, ou de mim próprio.

Mas, eu, tal como deus, também eu não jogo dados com a vida.

Eu, olho-a de frente.

Volto dia doze.

Volta hoje!

05.02.24

What Was I Made For ?


The Cat Runner

 

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A vida é uma comédia para aqueles que pensam e uma tragédia para aqueles que sentem.

Enquanto os dados rolam, até que parem, em cima da mesa, no pano, verde-esperança, assalta-se a mente e os sentidos e tudo aquilo que somos.

Onde estão as repostas?

Os dados não páram de rolar.

As respostas estão dentro das perguntas, dizem os dados, agora já quietos, como que a fitar tudo à sua volta, por dentro e por fora. Absorvendo...

Tocar as estrelas e o seu brilho encerra em si atravessar a escuridão.

Conheço bem este caminho. Já fui e voltei!

Conheço-o tão bem que, dizem-me as estrelas, quem estiver disposto a fazer a travessia da escuridão, só ao alcance, apenas, dos eleitos, aqueles que sabem que a luz é o farol daquilo que nos construímos a nós próprios, só esses chegaram ao pote de ouro, que está lá à frente, no final do arco-íris.

É quando chega a magia da descoberta.

Aqueles raros presentes que a vida desembrulha, o inesperado, o extraordinário, pequenas coisas, pequenas coisas que se fazem e que dão ainda mais sentido à travessia.

A escuridão que mostra sempre a luz e o brilho das estrelas.

Entrelaça-se o real com o improvável, o hiper-real com a seda do toque, o poema com a música, o sol com a areia, passa a fronteira, numa dança que se prolonga para lá do tempo, para lá do espaço. Os lábios olham-se, sem se tocarem.

É magia, pois então.

Não há nada mais mágico do que um sorriso!

Linhas invisíveis.

O salão está elegante, a atmosfera impregnada de um perfume dourado, que espalha um rasto de micro-estrelas, tão pequenas e invisíveis ao olhar da multidão, que denunciam que por ali passou a magia.

Era aquele o palco de todas as canções.

Num longo pestanejar, o improvável quis ser possível, para além da compreensão.

Talvez fosse algo guardado num cofre, sem chave.

Uma encarnação de uma canção nunca antes ouvida, um olhar perturbador, uma palavra que escapa entre lábios, semi-cerrados, talvez, guardada num cofre, arrumado nos recantos mais profundos.

Acreditas na reencarnação?

Acredito no caos e no renascer.

Estás mergulhado nos teus pensamentos?

Atravesso a tempestade, carrego o Universo, levo certezas desarrumadas.

O tempo parecia render-se ao momento.

O silêncio...

As reticências...

A penumbra, atrás da luz...

A luz, suave, terna, aconchegante, que ilumina sorrisos.

Os passos, apressados, graciosos, compassados, como a tal música nunca antes tocada, que fala sobre o céu cinzento, e a vontade de cometer erros, e a vontade de ter a tentação como melhor amigo, e sobre gargalhadas no meio de toda a gente que não as entende, ecoaram e ainda os escuta e vê.

Foi ali, nessa eternidade, que aquele micro-nano-grama de tempo durou, que a cabeça se levantou, depois de um abraço que nunca dera e os olhos mostraram-se uns grandes mas inacreditáveis traidores.

Os olhos contaram o resto de toda a história.

Foi quando os fechou.

Viu, de olhos fechados, as pequenas coisas, as que fazem lembrar, porque soube amar as pequenas coisas que fazia.

As mãos tocaram-se e assim ficaram, numa enseada, numa praia grande, vazia, onde só os olhos e os sorrios se permitem continuar.

A praia que os levou para fora daquele salão, enquanto a maré enchia, como em todos os seus ciclos.

I wanna try...ecoava baixinho, no rádio do carro.