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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

04.06.21

FICÇ(XAÇ)ÃO


The Cat Runner

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Estive, seguramente, uns vinte minutos a olhar para esta página, em branco.

Pisque os olhos e sinta-a, em branco.

O acto de escrever é profundamente libertador para mim. Tem um problema: escrevo-me. E, não gosto. Mas, também não gosto de criar personagens, embora saiba criá-las, por vezes gosto de prolongar uma metáfora, em página e meia, em branco. Isso, gosto!

Vinte minutos a olhar para esta página, em branco.

A necessidade de escrever submissa a esse conflito entre o ombro esquerdo e o direito, o anjo e o diabo. Existem, os dois, um em cada ombro.

Era sobre a solidão que pensei escrever, durante vinte minutos, enquanto olhava e eles os dois se digladiavam interiormente. Como que a tentar com que ninguém visse aquele tremendo e brutal confronto.

Tenho pensado na solidão. Nas diferentes perspectivas que ela tem.

Não há bem mais belo que estar sozinho.

Tudo o que isso encerra. Uma maneira diferente de sentir aquilo que se diz ser liberdade. Perfeito.

Mas, aquele vazio, comprido, tubular, meio turvo, em espiral, quando o tempo de solidão se esgota, como o amor, essa amizade sem asas?

Aquilo que precisamos é de um salto em altura.

Encarar e viver a solidão como uma estrada, recta, curta, visível, sem curvas, quando aquele vazio indica que se esgotou o tempo de solidão.

Como quando agarras em duas cordas longas, presas ao fundo, a uma parede, com um gancho, e agarrando nas pegas fazemos oscilar ambas as cordas, à vez, até que os braços gritem e o abdómen arda no inferno.

As duas cordas longas são fundamentais.

É quando pensas que há quem não tenha sequer uma corda, quanto mais duas, nem força, em comum apenas estranhas sensações de solidão.

Tens duas cordas.

Balança-as, à vez, com força, movimentos alternados, rápidos, fortes, ritmados, até caíres para o lado.

Depois, levanta-te e segue.

Ri-te, não há outra maneira...

E, segue.

A solidão é aquilo que tu escolhes, quando queres escolher, porque é esse o patamar que desejas, então.

Sente-te tocado por estrelas.

A solidão que corta por dentro não é essa, é não conseguires escolher, nem teres quando escolher. 

Sente-te tocado pelas estrelas, porque não sabes sobre solidão.

És só um passageiro que vai sair no apeadeiro seguinte.

Por vezes sinto-me só.

Outras vezes sinto-me farto de gente, não de pessoas, de gente e de toda a dinâmica que isso cria.

Escolho, quando tenho que escolher, mas isso sou eu.

O resto do texto é ficção, drama, tragédia, horror e chupa-chupas de laranja e maracujá azul.