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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

27.06.21

UM GAJO MAL PÁRA EM CASA


The Cat Runner

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Hoje fui à janela.

Quando vou à janela costumo deter-me em pensamentos quase quase quase obsessivos.

Dei comigo a pensar em mudar de casa. Isto são mudanças à cadência de uma maratona do Kipchoge. Enquanto viajas na cabeça do touro e ele não te consegue sacudir, goza a viagem, não há nada mais poderoso.

Aqui, na minha "thiny house" tudo está feito um tudo nada à minha imagem, ao metro, ao detalhe, para que tudo se encaixe.

E encaixa.

Quando olho pela janela, por uma das janelas, e fico a olhar aquela imagem que, concluo agora, parece uma imagem delineada por uma figura geométrica em forma fatia de queijo triangular.

Três linhas negras.

Uma horizontal.

Duas que partem dela para se tocarem, lá mais no fundo, clímax.

Um triângulo.

Dentro desse triângulo há a imagem parcial do cemitério, as cruzes, os jazigos, as altas árvores e muros, a escadaria, parte dela, por vezes pessoas, vivas, que as outras não as vejos, algumas penso nelas, pertencem-me, mas não as vejo, reparo no que costumo contemplar.

Aquilo faz-me pensar em soluções, faz-me sentir vivo, li-te-ral-men-te.

Mas, induz a morte. Nem que seja no sub-consciente, esse maldito que nos domina a mente.

Ali, a morte é quem a habita, é rainha, como quando tens uma voz dentro de ti, que se esconde, mas que está ali, entre três linhas, um triângulo. 

Será um postal que me fica deste ainda não um ano, está quase a fazer um ano, e já fez um ano em que o mundo se infectou e girou, louco, em direcções estonteantes, provas de obstáculos, saltos sem pára-quedas, amores, paixões, desencantamentos, um postal, que podia colocar num álbum, junto com outros postais, se tivesse um álbum para colar postais.

Passa-se tudo a uma velocidade cortante, a uma intensidade cósmica, o mundo gira e gira tão rápido que nunca ninguém deu conta. Eu estou a dar.

Dínamo.

Então, vive.

O dia inteiro.

Aquele triângulo foi só mais um trilho, na pista da aventura obstinada, poesia, se quisermos.

Vou mudar para um pátio, com poucas casas e duas laranjeiras, e pássaros, em qualquer altura do ano.

Vou fazer festas lá no rooftop e quando olhar em redor não voltarei a olhar a morte, porque não vou precisar de me lembrar da vida.

Por muita beleza que ela tenha, a morte.

Por tanta inspiração que me tenha dado, neste episódio, desta série. Só isso.

Foi só mais uma passagem.

O tapete voador voltará a voar, deixará o seu rasto, tons dourados, porque faz parte do guião.

Mesmo perdido há quem te conduz.

Depois, metemos “Valete” na “Marshall”, acendemos uma e continuamos a debater a vida e a morte.

Escolhemos a primeira opção, porque mesmo quando tu morres a tua luz fica, mas para que é que precisas de luz quando morreres?

Acho que vou mesmo mudar de casa.

Nada estranho, nestes últimos meses de vida, em que mudar tem sido  o meu middle name.

Neste caso vale a pena, há duas grandes laranjeiras e pássaros.

E, um rooftop.

Há sempre um motivo para mudar.

Não, por vezes não há motivos para nada.

É da pandemia.

A culpa é da pandemia.

04.06.21

FICÇ(XAÇ)ÃO


The Cat Runner

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Estive, seguramente, uns vinte minutos a olhar para esta página, em branco.

Pisque os olhos e sinta-a, em branco.

O acto de escrever é profundamente libertador para mim. Tem um problema: escrevo-me. E, não gosto. Mas, também não gosto de criar personagens, embora saiba criá-las, por vezes gosto de prolongar uma metáfora, em página e meia, em branco. Isso, gosto!

Vinte minutos a olhar para esta página, em branco.

A necessidade de escrever submissa a esse conflito entre o ombro esquerdo e o direito, o anjo e o diabo. Existem, os dois, um em cada ombro.

Era sobre a solidão que pensei escrever, durante vinte minutos, enquanto olhava e eles os dois se digladiavam interiormente. Como que a tentar com que ninguém visse aquele tremendo e brutal confronto.

Tenho pensado na solidão. Nas diferentes perspectivas que ela tem.

Não há bem mais belo que estar sozinho.

Tudo o que isso encerra. Uma maneira diferente de sentir aquilo que se diz ser liberdade. Perfeito.

Mas, aquele vazio, comprido, tubular, meio turvo, em espiral, quando o tempo de solidão se esgota, como o amor, essa amizade sem asas?

Aquilo que precisamos é de um salto em altura.

Encarar e viver a solidão como uma estrada, recta, curta, visível, sem curvas, quando aquele vazio indica que se esgotou o tempo de solidão.

Como quando agarras em duas cordas longas, presas ao fundo, a uma parede, com um gancho, e agarrando nas pegas fazemos oscilar ambas as cordas, à vez, até que os braços gritem e o abdómen arda no inferno.

As duas cordas longas são fundamentais.

É quando pensas que há quem não tenha sequer uma corda, quanto mais duas, nem força, em comum apenas estranhas sensações de solidão.

Tens duas cordas.

Balança-as, à vez, com força, movimentos alternados, rápidos, fortes, ritmados, até caíres para o lado.

Depois, levanta-te e segue.

Ri-te, não há outra maneira...

E, segue.

A solidão é aquilo que tu escolhes, quando queres escolher, porque é esse o patamar que desejas, então.

Sente-te tocado por estrelas.

A solidão que corta por dentro não é essa, é não conseguires escolher, nem teres quando escolher. 

Sente-te tocado pelas estrelas, porque não sabes sobre solidão.

És só um passageiro que vai sair no apeadeiro seguinte.

Por vezes sinto-me só.

Outras vezes sinto-me farto de gente, não de pessoas, de gente e de toda a dinâmica que isso cria.

Escolho, quando tenho que escolher, mas isso sou eu.

O resto do texto é ficção, drama, tragédia, horror e chupa-chupas de laranja e maracujá azul.