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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

30.03.20

Abraços Escritos Em Papel


The Cat Runner

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A tragédia encerra sempre uma contradição.

Encerra nela sempre algo de belo.

A pedra de toque está em tentar perceber onde se esconde esse impulso que nos transforma.

Hoje começo uma nova vida e vou com a bagagem arrumada para a viagem.

Nunca até então.

Creio ter uma pequena vantagem sobre o vírus, sem o querer ofender, que ele é um cabrão.

Foi um livro que eu escrevi a meias com outra pessoa.

este é o meu dia zero e minha casa é agora a redacção da TVI, literalmente.

Cai-me na consciência que a redacção foi tanto a minha casa quanto a minha casa foi a redacção, ao longo deste caminho tão trabalhado, tão distante, já.

E, esboço um sorriso, quando ouço que o futuro será diferente do que tem sido a vida desta humanidade. A vida será diferente.

A vida é agora, hoje, diferente, já.

Falemos da parte prática de tudo isto.

Uma fatia do nosso país está a trabalhar a partir de casa.

Eu começo hoje. Jornalismo feito em casa.

Uma carreira nova que começa, sem prazo, de quinze em quinze dias. 

Um dia conto-lhe como é que é começar uma carreira.

Estava prestes a começar uma, com 50 anos e uma vontade diabólica, mas o vírus entrou-nos, de repente, violentamente, pelas nossas vidas adentro e, num segundo a eternidade mudou, quando todos nós silenciámos os corações e aplaudimos a compaixão, nas varandas da incerteza e da ansiedade.

A minha mãe ensinou-me o mundo.

Ensinou-me que o que tem que ser será e o que não tem que ser não será.

Não é por nada, apenas, só porque é assim.

E, um vírus adiou-nos a vida, os sorrisos, as mudanças, travou-nos os hábitos, o toque, o abraço, empurrou-nos para casa.

Não estamos numa prisão. Estamos em casa, onde o nosso amor existe. Haverá fortaleza maior?

O vírus não sabe que eu já li muito, já pesquisei muito, já aprendi muito sobre aquilo a que ele me está a obrigar a fazer, a mudar a vida e a trabalhar em casa.

Levo-lhe a tal pequena vantagem.

Aquilo que estamos a fazer, muitos de nós, não é teletrabalho.

É aqui que eu entro.

O teletrabalho permite-nos, entre outras coisas, trabalhar onde entendermos, numa esplanada, num café, no autocarro, no comboio, em casa, na praia, no hotel, onde for.

Não estou certo que o bando de inúteis que entupiu as pontes e as marginais fossem fazer teletrabalho, mais que não seja porque quem faz teletrabalho, neste momento, jamais saíria de casa.

Mas, não é teletrabalho. 

Pretendo ajudar e explicar a quem está confinado, mas longe destes temas, muitos, talvez, nem imaginavam que estas coisas existiam, este padrão de trabalho que é responsável pela mudança do paradigma do trabalho, desde há já vários anos, em todo o mundo. Também em Portugal, obviamente.

O que nós estamos a fazer é utilizar os conceitos e as ferramentas do teletrabalho e a aplicar na nossa vida profissional, tão diferente do que alguma vez podíamos conceber.

Ainda bem que é assim.

Ainda bem que não estamos a fazer teletrabalho (remote working) puro e duro, por motivos mais do que óbvios.

Estamos em casa a utilizar de forma profissional as plataformas colaborativas, como o Skype ou outras.

Chamemos-lhe teletrabalho confinado. Um saborosa, apesar de tudo, fatia do bolo teletrabalho. Quando a guerra acabar que o teletrabalho fique, no seu todo.

Aí sim, nessa altura, vamos todos perceber as vantagens desta forma de trabalhar.

E, vantagem, vantagem levamos nós, que quando lá chegarmos, porque quando lá chegarmos já fizemos o estágio, em confinamento, ainda por cima.

Os duros do pelotão. 

A máquina fica oleada.

Iremos perceber isso e iremos adoptar esse modelo, se calhar em números idênticos aos de agora, mas em liberdade, felizes, com tudo o que isso encerra de transformador.

Nestes dias novos, de chumbo, apesar de nunca ter previsto que as cenas dos filmes se tornassem a nossa vida, lembro-me bem daquilo que todos temos que fazer, em casa, quando trabalhamos em casa, por causa do livro que escrevi.

Nesse aspecto, esta pandemia inusitada e demolidora, não torna as coisas diferentes, apenas nos confina. Apenas, porra, que magnitude da palavra que nunca me tinha dado conta.

Fintemos o confinamento, em casa, que é o terreno de jogo.

A peça-chave, por onde passa o possível sucesso da operação, o factor mais decisivo, nestes tempos extraodrinários é criar rotinas, como se estivéssemos a viver a vida anterior, a vida “normal”, que já não o é.

Criar rotinas entre quatro paredes. Faça disto um lema de vida enquanto estiver confinado.

Esta estratégia está enquadrada nos aspectos negativos que o teletrabalho pode provocar, em situações normais;

o cansaço de trabalhar em casa, isolado, sem contactos pessoais, de socializar, de não ser interrompido pelo cão ou pela campainha da porta. Em situações normais sería assim.

Se estivéssemos numa situação normal nas nossas vidas, quando estivéssemos prestes a entrar em loop, saíamos de casa, íamos para um espaço de coworking – há milhares –, para nos sentirmos num espaço de trabalho partilhado, que é isso que é um espaço de coworking, ou para um local à nossa escolha.

A internet liga-nos, em qualquer lugar. Já imaginou que sem uma ligação à internet estávamos mesmo todos ligados ao ventilador?

Não é uma triste metáfora, escolhi a palavra cuidadosamente, porque sem internet o mundo estava neste momento apagado.

Mas, não estamos numa situação normal. Vamos subtrair a parte de sair de casa e adicionar a parte das rotinas. Retomemos.

Acordar.

É fundamental acordar.

(claro que pode rir).

De segunda a sexta a mesma hora para acordar e começar o seu dia.

Abra os estores, as cortinas, olhe lá fora o sol, sinta o fresco da manhã e let´s go.

Devemos reservar um espaço na casa, para ser o nosso espaço de trabalho, exclusivamente para isso, para trabalhar. O escritório, a sala, uma mesa, mas um espaço escolhido e permanente.

Não vamos para o trabalho em pijama, neste caso, porque é de uma guerra que se trata, um fato de treino é admitido mas, só depois do banho e da higiene pessoal, do pequeno almoço e, eventualmente, do exercício físico.

Mas, sempre depois de mudar de roupa, normalmente, como nos dias normais, o pijama é que não. Está proíbido.

Coisas do foro íntimo de cada um, nada contra, mas mude de roupa.

Fato de treino em tempo de excepções, mas não é para se habituar.

Assim, acabou de criar uma fatia desta nova rotina, que vai vivenciar nos próximos tempos, que vamos, que vou.

A rotina implica trabalhar, a menos que o Euromilhões tenha tocado aí à porta ou a hernaça da tia nunca mais acabe, de outro modo, trabalhar, que isto não são tempos de estar com os braços para baixo.

É como se tivesse saído de casa, de manhã, mas sem sair, imagine assim.

Estabeleça os seus momentos de pausa, enquanto está dentro do horário de trabalho definido.

Saiba o que pretende fazer nesses momentos e faça.

Lanchar, espreitar a televisão, as redes sociais, beber um café com os filhos, estamos dentro de casa, não se preocupe. Coisas que podemos fazer porque estamos a trabalha a partir de casa.

Garanta que durante os períodos de trabalho não é distraído constantemente, que a concentração é igual à que tería no seu local de trabalho. Por isso tem as suas pausas, nas alturas que escolheu tê-las.

Concentre-se, caraças. :)

Como se lá estivesse, no seu local de trabalho.

O que nós, portugueses, estamos a fazer é uma das peças do conjunto de lego que é o teletrabalho, um padrão altamente eficiente, recomendado, porque provoca felicidade nos colaboradores, porque isso provoca empenho e produtividade, porque conseguimos fazer a gestão entre os aspectos da nossa vida pessoal e a forma de trabalhar.

Os contras são quase todos no plano das necessidades sociais, mas não são muitos.

Podem parecer muitos contrasm, por agora, porque os dias não deixam que sejam de outra forma. 

Não valerá a pena falar da sustentabilidade, os milhares de carros que não entram, circulam e saem das cidades.

A redução de custos fixos para as empresas e das despesas dos colaboradores, combustível, portagens, revisões, refeições é um dos factores positivos deste padrão de trabalho.

Estando nós confinados, ainda muito mais as nossas despesas serão reduzidas.

No futuro, quando isto acabar e chegar o tempo de novas decisões grandes, como estas todas que estamos a cumprir, muitos de nós não vão querer a trabalhar da forma como trabalhavam antes, nem as empresas, algumas, vão querer que assim seja porque perceberam que todos ficam a ganhar com esta fórmula.

Ninguém perde.

Chegado ao fim do dia de trabalho vá à janela, ao seu jardim, se o tiver, ou à varanda e inspire, volte a inspirar e sorria.

Acabou o dia de trabalho e a nova rotina começa a ganhar contornos de uma poderosa arma contra o confinamento que o vírus quer transformar em martírio. Nao tem que ser um martírio.

É uma nova rotina, por isso desafiante.

É ela que o vai, que nos vai salvar da loucura e levar isto para a frente, porque vamos para frente e lá à frente seremos muito melhores.

Melhores profissionais, melhores pais, melhores maridos, melhores irmãos, melhores filhos, melhores seres humanos.

Eu fui à minha mala e retirei a minha agenda, em papel.

Gosto das agendas em papel.

Decidi programar o meu dia, o primeiro desta nova carreira, jornalista em confinamento.

As horas para o pequeno almoço, para o treino, para as compras dos bens que precisamos cá em casa, as horas de trabalho, tudo apontado, as pausas nas horas de trabalho tenho-as mentalmente alinhadas.

As minhas tarefas estão definidas e estou perfeitamente apto para as iniciar.

Quando o dia chegar ao fim pego no telemóvel e mando um abraço a alguém, todos os dias, ao fim do dia de trabalho. Faz parte da nova rotina, porque eu criei-a para me sentir melhor.

Criei a minha rotina, que me recoloca a mente a funcionar, que me impede do tédio, do sofá, do pijama, das brincadeiras com a gata, do "pai dá aí, ou Zé, o que é que achas de..."pelo menos até fechar a agenda, a rotina desvia-me dessas tentações todas.

Depois começo a olhar em redor, para a minha casa, como a minha casa.

Só amanhã volto à minha redacção e à minha agenda, em papel.

O abraço que darei a alguém será sempre a última anotação, ao final de cada dia.

Não que eu me esqueça.

Apenas porque gosto de olhar para o papel e ler a palavra “abraço”.

O resto, está tudo neste vídeo.

Em Quarentena de Amor

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