UMA METÁFORA, APENAS, OU TALVEZ NÃO PORQUE TUDO MUDA
Ando sedento de informação. Coisas minhas.
Por isso, nos últimos meses tenho lido muito, muito mais do que imaginava, sobre processos de mudança.
Tenho consumido o máximo que posso de informação relacionada com este tema que, afinal, é o nosso quotidiano, e a vida, claro. Mudamos a cada segundo, com tudo o que isso implica em nós e no meio que nos rodeia.
Textos, ensaios, livros, entrevistas, publicações, tudo tenho corrido, porque nas corridas aprende-se sobre liderança, em constante processo mutante, durante todos aqueles quilómetros.
A mudança e a liderança andam de mãos dadas.
Desaguei aí.
Quando corremos dez quilómetros apodera-se de nós nos momentos antes da partida um frenesim, uma espécie de xamanismo provocado por dois factores;
Queremos retirar prazer da corrida.
Mas temos que correr dez quilómetros, ao mesmo tempo.
Durante essa janela do relógio, entre passadas mais rápidas ou mais adequadas, observamos o que nos rodeia.
A paisagem, os cheiros, as cores, as pessoas.
Na cabeça da corrida seguem os líderes, os que são mais velozes.
Depois as motinhas, como lhes chamo, aqueles corredores que parecem um motor sincronizado, pés, braços, pés, braços, ritmo certo e rápido.
Depois os que caminham.
Depois os que correm deixando-se ir, como eu.
Os que retiram prazer do que fazem.
Eu costumo sentir-me bem, às vezes, outras limito-me a resistir, outras, tem dias.
Em todas estas fases da corrida, aquilo que sinto e como me sinto, está em permanente modificação.
Mental, física e orgânica. Resistir, parar, não parar, respirar, hidratar, controlar, gerir, criteriosamente.
Criar condições e fazer com prazer.
Mas, nas minhas leituras sobre os processos de mudança nas pessoas, nas organizações, nas minhas leituras sobre liderança, porque existe, felizmente, muito e bom material para consulta, não encontrei ainda nada que refira um dos mais importantes, e por vezes ele próprio em processo de mudança, personagens desta narrativa;
o corredor.
Os escritos e pensamentos observam quase sempre as organizações e a simbiose com as pessoas. A forma como as organizações encaram os processos de mudança e agem em função, e como exercem a liderança.
O corredor, alvo de mudanças durante a corrida, ele não é retratado.
O que sente, a ansiedade, a incerteza, o desafio, as equações, as decisões, as coisas novas, o corredor, porque sem corredor não há corrida.
Nas corridas vemos pessoas com 80 anos a correr dez quilómetros, mulheres bonitas, homens com os lábios brancos de secos, cada qual na sua missão transcendental, unidos num único propósito, uma corrida, normalmente, numa manhã de domingo.
Aos domingos o planeta descansa.
Os corredores não. Eles tem uma missão e um objectivo a cumprir, começar, fazer e chegar ao fim.
Recomeçar, no dia seguinte.
Não, não é uma metáfora de liderança nem de mudança. Podia ser. Talvez seja.
É uma certeza.