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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

02.12.19

AINDA NÃO FIZ A ÁRVORE DE NATAL


The Cat Runner

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Há momentos em que somos privilegiados.

Quando damos conta disso é fantástico.

Eu acho que um homem deve ter os seus momentos, só seus, consigo, em silêncio disfarçado de palavras e letras.

Dou comigo a olhar a lareira. Aquece-me. Apetece-me.

A gata, deitada na cabeceira do sofá grande, mesmo por cima do meu lado esquerdo, como quem vem da cozinha e atravessa o hall.

Com um pequeno salto, macio, quase imperceptível, aninha-se entre as minhas pernas, cobertas pela manta castanha e terna.

Gregory Porter canta, em fundo.

A lareira aquece cada vez mais a sala, a gata dorme, tranquila, deitada ao fundo das minhas pernas. A televisão continua a transmitir um jogo de futebol. A casa está quieta, calada.

Está sem som, só para fazer alguma luz na sala, a televisão.

Um momento, o que ele encerra, o que ele revela.

Um apetecer não fazer nada, um apetecer fazer, não fazer, nada.

Momentos cheios de nada que purificam os olhos, enquanto o piano faz das suas e as palavras saem soltas, livres como a foz do rio.

Tens que te ouvir, ouvi-me dizer-me, vindo de um nada, enquanto olho a televisão, de relance, e vejo que alguém está a ganhar a alguém. Continua sem som.

No fim alguém perde, sempre.

Perde qualquer coisa, nem que seja pedaços de si, fragmentos dos outros.

Voltei a trabalhar há já quase dois meses e meio, lembro-me agora, uma retrospectiva curta.

Parece que nunca me ausentei. Talvez nunca o tenha feito.

Até mesmo nos momentos que o quis fazer.

É tudo tão novo, outra vez, como em tantas vezes.

Tão brutalmente desafiante e apaixonante, que dou por mim a querer ouvir músicas de Natal.

Já toda a gente montou a árvore de Natal - montar não soa nada bem aqui - menos eu.

Era para ter sido no fim de semana mas não percebi bem porquê não foi, essa é que é essa.

Para dizer que se eu não fosse isto queria ser isto.

Acredite ou não, mas agora sou repórter, agora sim, sou repórter.

Precisei passar metade da minha existência a cavar que nem um louco para, finalmente, andar a contar histórias com imagens, palavras, sons e gente dentro delas. Histórias, palavra viajante.

Há uma permanente sensação parecida com a incorporação de um estado de levitação.

(Esta foi inventada)

Acordo, vou trabalhar, trabalho a contar histórias, de todo o tipo, boas, más, belas, horríveis, divertidas, duras. Almoço. Volto a contar histórias. 

Ainda tenho tempo para momentos.

Fazer exercício, escrever ou estar apenas deitado no sofá, com a gata ao fundo das pernas, a televisão, sem som, a fazer de candeeiro e contar histórias.

Acabou o jogo.

Um ganhou. Um perdeu.

A música continua a tocar, em fundo.

A televisão está na "flash-Interview".

Continua sem som.

Tenho que me levantar, para meter mais lenha na lareira.

Pensei em ir jantar, mas já jantei, resta-me ir dar fogo à lenha, ou lenha ao fogo.

Pior vai ser acordar a gata.

Ainda lhe dá um daqueles repentes e crava-me as unhas nas pernas.

A Alice tem o sono leve.

Prometo fazer a árvore de Natal neste fim de semana.