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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

25.06.19

SOCORRO, OS CÂNTICOS NÃO ME SAEM DA CABEÇA


The Cat Runner

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( Foto: FB UDV Futebol SAD )

Isto deve enquadrar-se, provavelmente, num qualquer quadro de stress pós-traumático. Isto que me aconteceu. A mim e a mais uma quantidade de gente.

No domingo fui à bola.

Havia festa e eu fui, lá fomos.

Cheguei cedo, por isso, pensava encontrar umas centenas de pessoas.

Aquilo com que dei de caras foi com uma catarse colectiva, na mata, à chegada.

Aquilo era gente por todo o lado, era música, era entremeadas, febras, porco no espeto, confidenciaram-me que até havia choco frito.

Havia festa, havia tudo.

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Uma liturgia que viajou do campo raso da Lezíria, se calhar, desde a ermida da Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos.

O campo raso que, do lado de lá, nos transforma, aos do lado de cá.

Um acto de exultação, foi isso que eu vi, quando cheguei, cedo, à mata do Jamor.

Foi nisso que me envolvi.

Foi isso que vivi, naquele domingo de comunhão.

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Os cânticos mão me saem da cabeça. Não se trata de os guardar e ter prazer em os ouvir.

É quase um tormento. Porque a festa já acabou.

Se calhar foi porque quando eu posso vou à bola ver o União. Este ano fui mais do que costumo ir.

Vi o União em casa, fora, no computador, no telemóvel e no Jamor.

Fui sempre convencido que ia ver a equipa da minha terra jogar.

Só quando cheguei à mata do Jamor é que, finalmente, deu-se-me uma luz. Para quem não acredita, às vezes dá-se uma luz.

Foi nesse momento que comecei a realizar que, para mim, como para aqueles milhares de pessoas da minha terra, não foi uma época que tivesse a ver apenas com futebol.

Aqueles milhares com quem passei o domingo sentem, pensam e acham como eu sentia, pensava e achava, que era à bola que nós íamos.

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65108014_1083172125213933_4446135683664314368_n.jpg( Foto: FB UDV Futebol SAD )

Não sei se esta tomada de consciência se acercou de algum desses milhares, nem é isso que relevo.

Eu tive essa tomada de consciência.

Muito mais do que ir à bola.

O que aconteceu àqueles milhares foi o que me aconteceu;

Nós vamos ao futebol. E, não passa disso. Isso é imenso. É que medida que a equipa vai ganhando o envolvimento aumenta.

A equipa continua a ganhar. Passa-se para um estágio de pré-comunhão.

E, as coisas vão-se dando, vão acontecendo.

O envolvimento atinge – não estou a personalizar em mim, nem em qualquer outra pessoa – um determinado grau, no qual o foco passa por continuar a ganhar e a divertir muitas pessoas.

65203011_1083171881880624_6381251431013285888_n.jpg( Foto: FB UDV Futebol SAD )

Passa-se a não ter o discernimento em proporções adequadas e não se dá conta disso. A festa vai boa.

Na verdade, aquilo que estas pessoas viveram foi uma viagem em tudo idêntica à que fez aquela liturgia, desde a vila até à mata do Jamor.

Conforme o União ia ganhando, ganhando, ganhando, também ia construindo alguma visibilidade, que dava para começar a encher o peito de orgulho, do União e da terra de onde somos. Falavam de nós.

Isso exaltava dentro das pessoas a sua ligação forte ( um bom headline - ligação forte ) à sua terra, aos seus valores, à sua saudade, até. Tudo na ponta de uma chuteira.

65136541_1083171595213986_6560822815363170304_n.jpg( Foto: FB UDV Futebol SAD )

O que nos estava a acontecer, sem darmos conta, e neste caso personalizo em mim, era algo único.

Nos golos que entravam celebrávamos a nossa terra, o nosso chão, o nosso rio, o nosso calor, o nosso Jardim, as nossas ruas, os nossos velhinhos, que também foram ao Jamor, celebrávamos aquilo que somos.

Foi isso que o União provocou nas pessoas que foram à bola, a equipa acordava nas pessoas a cidade dormente dentro delas.

Domingo-a-domingo era na bola que as pessoas acordavam a vila e essa união do quase sagrado, com o quase profano, que foi provocando um despertar quase permanente, então.

Não era só os golos do União que eram festejados.

Também era o coração, o sangue, as raízes que sustentam um amor.

A terra de onde somos.

Foi tudo isto.

Eles não ainda sabem, mas foi isto.

O União é uma parte disso.

Uma liturgia que viajou do campo raso da Lezíria, se calhar, desde a ermida da Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos.

Uma liturgia que navegou Tejo, dentro de nós.

A entremeada estava uma maravilha!

 

( Um dos cânticos que mais me perfura o cérebro de dez em dez minutos é este, no link )