SOCORRO, OS CÂNTICOS NÃO ME SAEM DA CABEÇA
( Foto: FB UDV Futebol SAD )
Isto deve enquadrar-se, provavelmente, num qualquer quadro de stress pós-traumático. Isto que me aconteceu. A mim e a mais uma quantidade de gente.
No domingo fui à bola.
Havia festa e eu fui, lá fomos.
Cheguei cedo, por isso, pensava encontrar umas centenas de pessoas.
Aquilo com que dei de caras foi com uma catarse colectiva, na mata, à chegada.
Aquilo era gente por todo o lado, era música, era entremeadas, febras, porco no espeto, confidenciaram-me que até havia choco frito.
Havia festa, havia tudo.
Uma liturgia que viajou do campo raso da Lezíria, se calhar, desde a ermida da Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos.
O campo raso que, do lado de lá, nos transforma, aos do lado de cá.
Um acto de exultação, foi isso que eu vi, quando cheguei, cedo, à mata do Jamor.
Foi nisso que me envolvi.
Foi isso que vivi, naquele domingo de comunhão.
Os cânticos mão me saem da cabeça. Não se trata de os guardar e ter prazer em os ouvir.
É quase um tormento. Porque a festa já acabou.
Se calhar foi porque quando eu posso vou à bola ver o União. Este ano fui mais do que costumo ir.
Vi o União em casa, fora, no computador, no telemóvel e no Jamor.
Fui sempre convencido que ia ver a equipa da minha terra jogar.
Só quando cheguei à mata do Jamor é que, finalmente, deu-se-me uma luz. Para quem não acredita, às vezes dá-se uma luz.
Foi nesse momento que comecei a realizar que, para mim, como para aqueles milhares de pessoas da minha terra, não foi uma época que tivesse a ver apenas com futebol.
Aqueles milhares com quem passei o domingo sentem, pensam e acham como eu sentia, pensava e achava, que era à bola que nós íamos.
( Foto: FB UDV Futebol SAD )
Não sei se esta tomada de consciência se acercou de algum desses milhares, nem é isso que relevo.
Eu tive essa tomada de consciência.
Muito mais do que ir à bola.
O que aconteceu àqueles milhares foi o que me aconteceu;
Nós vamos ao futebol. E, não passa disso. Isso é imenso. É que medida que a equipa vai ganhando o envolvimento aumenta.
A equipa continua a ganhar. Passa-se para um estágio de pré-comunhão.
E, as coisas vão-se dando, vão acontecendo.
O envolvimento atinge – não estou a personalizar em mim, nem em qualquer outra pessoa – um determinado grau, no qual o foco passa por continuar a ganhar e a divertir muitas pessoas.
( Foto: FB UDV Futebol SAD )
Passa-se a não ter o discernimento em proporções adequadas e não se dá conta disso. A festa vai boa.
Na verdade, aquilo que estas pessoas viveram foi uma viagem em tudo idêntica à que fez aquela liturgia, desde a vila até à mata do Jamor.
Conforme o União ia ganhando, ganhando, ganhando, também ia construindo alguma visibilidade, que dava para começar a encher o peito de orgulho, do União e da terra de onde somos. Falavam de nós.
Isso exaltava dentro das pessoas a sua ligação forte ( um bom headline - ligação forte ) à sua terra, aos seus valores, à sua saudade, até. Tudo na ponta de uma chuteira.
( Foto: FB UDV Futebol SAD )
O que nos estava a acontecer, sem darmos conta, e neste caso personalizo em mim, era algo único.
Nos golos que entravam celebrávamos a nossa terra, o nosso chão, o nosso rio, o nosso calor, o nosso Jardim, as nossas ruas, os nossos velhinhos, que também foram ao Jamor, celebrávamos aquilo que somos.
Foi isso que o União provocou nas pessoas que foram à bola, a equipa acordava nas pessoas a cidade dormente dentro delas.
Domingo-a-domingo era na bola que as pessoas acordavam a vila e essa união do quase sagrado, com o quase profano, que foi provocando um despertar quase permanente, então.
Não era só os golos do União que eram festejados.
Também era o coração, o sangue, as raízes que sustentam um amor.
A terra de onde somos.
Foi tudo isto.
Eles não ainda sabem, mas foi isto.
O União é uma parte disso.
Uma liturgia que viajou do campo raso da Lezíria, se calhar, desde a ermida da Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos.
Uma liturgia que navegou Tejo, dentro de nós.
A entremeada estava uma maravilha!
( Um dos cânticos que mais me perfura o cérebro de dez em dez minutos é este, no link )