O QUILÓMETRO 37 - NEVER TOO OLD TO BE YOUNG - (DIA 94 DA MARATONA)
Não gosto de estar a envelhecer.
É um dado adquirido, que não gosto, que estou a envelhecer.
Tenho pensado sobre a velocidade do tempo e o que ela provoca, nos últimos anos, desde que passei os 45. Ao contrário da multidão que diz em voz alta que convive bem com isso, eu não, adapto-me, apenas.
Tenho 49 anos, curiosamente, a minha idade real é igual à idade metabólica, mas quando me olho ao espelho não vejo um tipo com quase 50 anos, meu caro(a) é meio século, não é uma coisa qualquer.
Não vejo, não porque o evite, mas porque vejo alguém que não é este eu.
Tenho (como o poeta) em mim todos os sonhos do mundo, ainda.
Tantos que quero realizar, tantos desafios que quero abraçar, tantos objectivos para atingir, tantos sorrisos para oferecer, só não tenho paciência para envelhecer.
Acho uma profunda injustiça, uma pessoa querer que o relógio páre, que o relógio dê voltas para trás e o que vê e sente é que ele avança que nem um doido. Implacável. Cruel.
Relógio descontrolado que me inflige perplexidade, ansiedade, angústia, até.
Já vou dando sinais da idade, coisas que antes não me aconteciam, por exemplo, dou por mim a conduzir o meu carro já com aquela postura de quem tem que rodar o volante com as duas mãos, tipo táxista, em movimentos soluçantes, ou quando tenho conversas com os meus filhos, sobre a vida, por vezes sinto que estou a falar “à cota”, ou quando vejo os amigos que andaram comigo na escola, sem cabelo, gordos, desfigurados, mas tudo isto passa, quando estou sozinho.
Quando estou sózinho tenho 10, 15, 20, 25, 30 anos, nunca 49, quase 50.
Depois, depois volta a mão dura do tempo que passa.
Quem me manda ter a mania de fazer actividade física com regularidade?
É aqui que o peso da idade me cai, verdadeiramente, em cima. As coisas já não são como eram. Nesta altura entro num quase mini-processo de revolta.
Desde Berlim, onde corri a minha primeira e única maratona, e que motiva todos estes quilómetros aqui, como já o escrevi, engordei 11 quilos.
Há duas semanas iniciei um novo plano, como o Mário Sá, o meu novo treinador, ou PT, ou amigo, como queria.
Estou a gostar, treino com níveis de intensidade altos, mas são treinos que me permitem treinar com prazer, a ritmos e com dinâmicas que correspondem ao meu excesso de peso e défice de forma.
SIm, andei a portar-me menos bem, ou talvez a treinar de forma errada, ou as duas coisas juntas.
Actualmente, corro três vezes por semana, treino Muay Thai duas vezes por semana, descanso dois dias.
É aqui que me revolto contra o relógio, pelo simples facto de que já não consigo recuperar como recuperava. Sinto isso de forma acentuada neste último ano, sobretudo, depois de ter corrido a maratona, em Berlim.
Um dia já não me chega, embora quando volto a treinar no dia seguinte a carga alívia durante o treino. Há-de haver alguma explicação científica. Ficção, científica.
Ontem fiz mais uma corrida, 10 quilómetros a um ritmo lento (6.30”/6.45”) como estava planeado no programa de treino desta semana. Foi penoso, dada a fadiga, embora tenha corrido a uma média mais elevada (06.11”), talvez por isso, alguém que explique.
Como faço sempre, todos os dias, dei o meu feedback ao meu treinador, disse-lhe que “o tempo da app, provavelmente, não é o tempo correcto dado o esforço e a fadiga que senti, tive que parar alguns segundos na maioria dos quilómetros para recuperar as pernas e seguir”.
Não me posso enganar, nem a ele, até porque começo a ver resultados, duas semanas depois de termos começado a nossa parceria.
O Mário diz-me que a fadiga muscular é normal nesta fase e eu acredito, mas ele já percebeu que na minha cabeça a equação é outra: a idade começa a pesar e eu não estou a gostar.
O Mário não respondeu à minha mensagem com texto, limitou-se a enviar-me este vídeo, acredito que com o objectivo de eu me rever nele.
Afinal, vai-me conhecendo cada vez melhor.
Sim, Mário, revi-me e fez-me repensar.
Porque não?
Agarrei a mensagem.
Momentos antes de escrever este texto, mais este quilómetro, mais um quilómetro, agora que nos aproximamos do fim desta maratona, tomei conhecimento de uma notícia que, a par do vídeo que acabou de ver, obrigou-me a estar aqui a fazer introspecções de fim de semana.
É em vídeos como o que viu e em notícias como esta, em pessoas assim, que eu vou buscar a minha inspiração e força para continuar, até ao fim. Sim, porque eu vou continuar...
Não conheço o João Neto, apenas sei que é mais velho do que eu, posto assim nada de relevante, mas se eu disser que o João acabou de fazer a “maratona das maratonas”, a World Marathon Challenge, 7 maratonas, em 7 dias, em 7 continentes, tudo passa a ter mais significado.
Todos nós temos que ter algo ou alguém que nos inspire, para provocar a nossa própria inspiração.
Agora, vou terminar este texto, porque depois do vídeo do grisalho do Muay Thai e das maratonas do João tenho que mandar uma mensagem ao meu treinador.
Há- de ser qualquer coisa como:
“Mário, isto é para ir até ao fim, porque eu tenho o foco, tenho a vontade, tenho a coragem, tenho a capacidade de superar dores e fadiga, altos e baixos.
Tu tens os conhecimentos e a estratégia”.
E, acredito, vou terminar a mensagem assim: “Por muito que vergue, não parto”.
Nunca parti, a não ser no ínicio de cada corrida, em cada tiro de partida.
Tenha eu a idade que tiver, tenho sempre muito para viver, para correr, para conquistar.
Inspirações e introspecções.
Entrámos no quilómetro 38!