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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

04.02.19

O QUILÓMETRO 36 - O CAMALEÃO, O CICLISTA E OUTRAS COISAS BONITAS - (DIA 93 DA MARATONA)


The Cat Runner

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A maratona de Berlim mostrou-me todo um admirável mundo novo.

Não exagero, nem um bocadinho.

Foi a "experiência" completa.

Foi marcante a nível pessoal, foi marcante a nível físico, foi marcante a nível intelectual, não fosse Berlim, ela mesmo, uma cidade profundamente marcante.

Foi a quarta vez que estive em Berlim, mas em nenhuma das anteriores tinha lá estado sem ser em trabalho.

Tive tempo, bastante tempo, para a saborear.

Por isso, recordo-me de um pensamento que tive, aliás, dois pensamentos, naqueles dias mágicos.

O primeiro apareceu-me enquanto corria a maratona, ao passar pelo histórico bairro Schoneberg.

Eis a história que me assaltou a memória e os passos;

Em 1976, David Robert Jones tinha-se mudado de Los Angels para Berlim e passou a viver no bairro Schoneberg. Tinha 29 anos.

A cidade continuava dividida pelo muro, mas boémia nunca de lá saiu, até hoje.

David tentava relançar a carreira e era em Berlim que muitas das influências a que se sujeitou estavam em ebulição.

O prédio onde David viveu aguentou duas guerras mundiais, coisa pouca.

Em Berlim ele tinha uma rotina quase sagrada: caminhava a pé entre lojas de antiguidades e livrarias e tomava cafés (quase sempre tardios) com outros intelectuais.

Há dois anos, no dia dez de Janeiro, o mundo acordava em comoção:

“David Bowie morreu tranquilamente hoje, rodeado da família, depois de uma dura batalha que durou um ano e meio”.

Foi por me ter lembrado de David Bowie, quando passei a correr pelo bairro onde viveu que, um dia depois, antes de deixar Berlim, logo a seguir às compras da praxe, sentámo-nos, eu, a Carla e a Maria para almoçar naquele que é, provavelmente, um dos restaurantes que mais me fez viajar no tempo.

Berlim foi isso, uma viagem.

 

Lembrei-me de Bowie e dos seus cafés, naquele café, moderno, mas cheio de memórias.

O espírito de Édouard Louis Merckx pairava no ar.

O “Steel Vintage Bikes Café” é um espaço totalmente decorado com bicicletas de corrida, equipamentos de ciclistas, tudo o que esteja relacionado, mas tudo “vintage”.

Havia várias bicicletas (como o vídeo mostra) com aquele nome mítico inscrito nelas:

Eddy Merckx !

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Eddy Merckx é considerado, por muita gente, por mim também, como o maior ciclista de todos os tempos. Ele era belga, mas naquela tarde ele, como eu, como Bowie, era de Berlim.

Estive um quarto de hora a maravilhar-me com aquela decoração, tudo era novo, menos o estilo.

Tinha conseguido correr uma maratona, na véspera.

Estava feliz, estávamos felizes e quase de regresso a casa.

Lembro-me de que, enquanto almoçávamos umas maravilhosas sandes de salmão, expliquei à minha mulher e à minha filha que tinha sido Eddy Merckx, porque Bowie já elas sabiam quem era. Quem não sabe?

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E, pela milésima vez demos connosco a viajar pelo tempo fora, compilando nomes de gente grande que amou Berlim, por isto e por aquilo. Como nós amamos.

A lista é infindável.

Cidade eterna.

O almoço foi memorável.

Aqueles dias únicos foram memoráveis.

O que mais me dói a alma é saber que a história não se repete.

Se eu tivesse a lâmpada mágica guardava um dos três segredos para o fim:

“Quero ser feliz, como fui em Berlim”, para sempre.

Como o Eddy e como o David.

Entrámos no quilómetro 37!