A MESA DA TORTURA ( DIA 6 DA MARATONA)
Perguntava-me há dias um amigo “como é que estava a ressaca da corrida?”.
É a primeira vez que estou sem correr, desde que comecei a correr.
Nos últimos quatro anos não houve uma semana em que não corresse.
E, quando estava mais de dois ou três dias sem correr começaçava a “hiperventilar”.
Agora, já lá vai uma semana e meia desde que me vi obrigado a parar.
Nem me lembrava, não fosse o Marco perguntar.
Nem tenho tempo para me lembrar, entre preparar as refeições que tenho que tomar, idas ao ginásio e às massagens, não dá sequer para me lembrar.
Minto. Claro que me lembro, todos os dias, quando estou a fazer remo ou bicicleta, é nesses momentos que me lembro que não corro há quase duas semanas.
O corpo nem reclama muito, e estou a fazer um milagre que é não engordar, sim eu tenho essa paranóia.
Os exercícios de fortalecimento e de core são tão brutos que me amassam o corpo todo.
Amassado, permanentemente amassado, é como me ando a sentir.
Se não é do treino é das massagens, se não é das massagens é do treino.
Na última sessão de tortura dizia-me o meu treinador: “no pain no gain”, só que imediatamente dexei-lhe uma questão: “vai haver algum momento em que é só gain, sem pain?”.
“Claro que sim, é para isso que estamos a trabalhar”.
Mas há uma coisa que nunca imaginei em mim - as mudanças que estas coisas nos infligem são incríveis -, que é fazer planos a longo prazo.
Eu sou das coisas imediatas.
Daqui a duas semanas e meia as pernas estarão recuperadas, “os gémeos estão incrivelmente melhores, vão ficar novos”, moralizou-me o José Carlos (o meu treinador).
Depois precisamos de um mesociclo para ganhar de novo base, com o fortalecimento e com o trabalho de core que andamos a fazer bastam quatro semanas.
Só depois, daqui a quase dois meses, é que vamos começar a treinar corrida.
O segundo mesociclo (4 semanas) será feito sem grande intensidade e sem grande velocidade, meter quilómetros nas pernas.
A partir daqui é que as coisas começam a ser mais exigentes.
Rampas, séries, core, fortalecimento, objectivos, massagens que vão apssar a quinzenais e vamos trabalhar com o tempo e não com as distâncias.
Assim será até à Maratona.
Pelo meio vou viajar, em Maio, faço 20 anos de casado, e em Agosto vou 15 dias de férias.
Sim, já tenho o plano de treino adaptado a essas duas semi-paragens.
Portanto, caro leitor(a), só para dizer que está tudo tratado, como diria o outro, só falta o dinheiro.
O que é que me está a inquietar?
Não é a ressaca da corrida, é a Maratona.
Escolhemos Oslo, Porto ou Berlim.
Decidi-me por Berlim, sem saber que é quase impossível a inscrição, mas já há um amigo que se calhar vai abrir uma porta.
Senão Oslo, na Noruega.
Porto não em agrada, para a estreia, só proque não.
Isto é;
Consegui orientar tudo para chegar aquele objectivo que quase me cega, neste momento, tal é a vontade e a determinação.
Só não estou a conseguir orientar a Maratona que, está total e dfinitivamente decidido, será em Setembro.
Porque é que estou inquieto?
Não, não é por causa das inscrições, isso, com um ou outro contacto ultrapassa-se, estou inquieto porque até Setembro faltam 8 meses e meio.
Está a imaginar-se a preparar-se oito meses e meio para uma coisa que vai durar quatro horas e custar os olhos da cara?
Pois, nem eu estava, mas agora estou.
É que todas aquelas dores que o José Carlos me inflige, nas massagens, para além de custarem dinheiro, custam mesmo, vão ter ser compensatórias e eu não sou homem para ficar a meio do caminho.
Mas, na útlima sessão de massagens desabafei:
“Coach, sabes o que é que me preocupa mesmo? Quando começar a correr, devagar, com os gémeos já recuperados, vou ter medo que mal dê os primeiros passos voltem as dores, aquela bola que tinha no gémeo direito e que está a despaarecer, na verdade, na minha cabeça parece que continua cá”.
É esta a minha inquietação.
A dor é crónica e está a desaparecer, mas a sensação que tenho é que quando começar a correr ela vai voltar.
“Essa é a parte psicológica, estou aqui para te ajudar a ultrapassar isso”.
É por isso que amanhã volto à mesa da tortura.
E, se eu não for mais forte que isto tudo, não serei nada.
E, eu sei o que sou!