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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

25.11.16

ALICE ACREDITA NUM MUNDO MELHOR


The Cat Runner

 

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Dia 53

24/11/2016

 

Sobre a soberba e a avareza...

 

Alice não nasceu num berço de ouro, a bem do rigor, Alice não nasceu sequer num berço.

A bem do rigor, Alice limitou-se a nascer.

Tudo o resto é esta história, que aqui conto, todos os dias, em tempo real.

Alice está tão grande, tão bonita, tão nossa, tanto, e é só isso que nos importan, que conta, vê-la assim, feliz, como nós, embora a vida não seja feita só de felicidade.

Não há milagres.

Há tentativas.

Alice não nasceu num berço de ouro, mas eu apanhei-lhe o telemóvel (acho que era o dela, espero não me ter enganado ou ainda arranjo aqui um incidente diplomatico-felino).

Alice trocava mensagens com uma qualquer outra gata, ou gato, na faço ideia.

Saiu a correr para o sofá e deixou o telemóvel em cima do balcão da cozinha.

A conversa começava desta forma:

“Olha, sabes o que eu gostava mesmo?”.

“Não?”

“De ter nascido num berço de ouro”.

“Mas, se tens nascido num berço de ouro agora não estavas com eles”.

“É verdade, amo-os tanto, até aos miúdos, que agora pouco me ligam, dado os seus afazeres, tratam-me tão bem, adoro dormir em cima das pernas deles, sinto amor, naquela casa, no ar, tens razão, mas gostava de ter experimentado, de ser uma gata daquelas imponentes”.

“Vês, para que precisavas tu de um berço de ouro, para quê?

Não é muito melhor assim?

Imponente”.

“É, é mesmo, tens razão…Achas-me imponente?”.

“Acho eu e acham-te eles.

Alice, bem sei que é por sms, mas deixa-me contar-te uma história de um gato meu amigo, a não ser que me mandes o teu email…”.

“Não tenho email, o meu dono ainda não o criou mas manda por sms”.

“Ok, então cá vai, vê lá se lês bem a história e se tiras essas ideias malucas da cabeça, tu és uma gata da rua, uma rafeira, renegar isso é recusares a ti própria”.

SMS:

 Zé (chamava-se assim porque nós, gatos(as) gostamos daquele som do zê), era um gato rico, debochado, vivia e gozava com os outros animais das redondezas. Era assim todos os dias.

Ele passava os dias sentado num grande cadeirão, cor carmim, em cima de umas almofadas da mesma cor, junto à lareira do solar, com vista para a rua".

Um dia, Zé, do alto do seu cadeirão fofo, espreitava pela janela, à lareira, como sempre.

Ele viu passar um gato, mais pobre, com um saco roto às costas.

Perguntou-lhe, lá do alto:

“Gato pobre, o que levas dentro desse saco sujo e roto?”.

O gato pobre respondeu:

“Que interesse tens tu nisso, és rico, estás junto à lareira, tens família e amor, que te interessa?

Eu nem te conheço, sequer”.

“Sois todos iguais, gatos da rua, se não dizes o que levas aí dentro é porque o roubaste”.

“Os gatos da rua roubam para sobreviver, e eu não roubei nada, tu, gato rico, tu só sabes gozar, achincalhar, minimizar os outros, pisar os outros, eu não roubei nada e não te vou mostrar nada, posso seguir o meu caminho?".

"Então mostra".

"Não, não mostro enquanto não me disseres porque queres ver o que levo no saco".

"Oh gato ppobre, por curiosidade, pá, para perceber melhor a vossa triste vida de rafeiro, diz lá vá, senão mando a matilha dos cães apanharem-te ali na esquina".

"Não levo nada, mas se queres, eu mostro-te".

O gato da rua abriu o saco velho e roto.

De lá tirou um papel.

Subiu a parede, que os gatos também sobem paredes, e entregou o papel na pata do gato Zé, o gato rico.

Zé, enconstou-se no cadeirão carmim, desdobrou o papel e leu-o:

"Se não és o herói da tua própria história, então estás a perder todo o teu sentido de humanidade."

Zé olhou para a rua, de novo.

Cá debaixo, o gato vadio piscou-lhe o olho.

"Posso ir, agora?".

"Agora podes", respondeu o gato rico.

"Aprendeste alguma coisa?".

"Creio que sim, por agora, estou apenas envergonhado".

"As ruas, para mim, não têm nome...".

"Como tu?".

"Não, eu tenho nome, mas não te o digo".

"Porquê?".

"Porque já te mostrei o que levava dentro do meu saco".

"Um papel...".

"Sim, um papel, ou não será isso que todos andamos a fazer na terra, a cumprir um papel?".

"És capaz de ter razão, gato vadio".

"Prefiro que me chames assim", e partiu.

Alice ainda não sabe que lhe espreitei o telemóvel, mas pelo sim, pelo não, guardei a conversa entre ela e alguém, do outro lado.

Guardei a história.

Dá-me jeito.

As ruas não têm nome, tal como o gato vadio.

Qualquer um de nós tem dentro de si qualquer coisa de muito valioso, tal como o gato vadio tinha dentro do seu saco.

A mensagem fica guardada.

Espero que Alice nunca descubra!

A avareza e a soberba são nomes que são difíceis de pronunciar, só por isso, por mais nada!

A humanidade não está doente.

Apenas lhe falta alguma "mankind"!

É por isso que aqui deixo este vídeo, com o qual tive contacto há uns dez anos.

Todos os anos o publico, porque me toca, porque me aperta.

Foi esta a mensagem que o gato pobre deixou ao gato rico, a mensagem que eu gostava que Alice visse.

Vai ver, vai ver, senão eu mostro-lhe.

Mankind Is No Island.

A misericórdia não é uma ilha.

Tende um bom fim de semana, em paz.

Em meu nome e em nome da minha Alice, que tanto amo.

SIm, eu amo.

 

 

 

 

 

25.11.16

DOMINGO CORRE-SE DENTRO DA HISTÓRIA E NO TEMPO (E DÁ NA TV)


The Cat Runner

A TVI e a TVI24 são parceiros oficiais.

A corrida dá em directo, na tv.

Vão lá estar milhares de pessoas (eu e a minha gata somos duas delas).

Esta é a promo.

Será um sucesso, como todas têm sido.

O Gato continua a correr...(Alice é que vai ficar sózinha em casa todo um fim de semana).

Miauuuuuuu...

 

 

25.11.16

ALICE, A SAUDADE FRAGILIZA-ME


The Cat Runner

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Dia 53

25/11/2016

 

Sobre apertos d´alma...

 

Há sempre uma primeira vez para tudo na vida.

Nunca fui dado a ausências, provocam-me saudade, a saudade fragiliza-me.

Mas, há sempre uma primeira vez para tudo na vida.

Quando saí de casa obriguei-me a pensar: Alice ficará sozinha durante o fim de semana, em casa. Já esteve desaparecida trinta e tal horas, pode ficar outras tantas sozinha.

Mas, demorei a sair.

Alice parecia não nos querer deixar ir, nós inventávamos coisas que nos atrasassem, enquanto Alice nos acompanhava.

Ainda deixei escapar; “levamo-la connosco, não, claro que não”.

O fim de semana, com Alice no hotel, não ia ser o mesmo.

É a primeira vez que deixamos Alice em casa.

Não, não pense em ir lá assaltar, em primeiro lugar, não há nada de jeito para roubar, em segundo lugar se me roubar Alice eu corro daqui até ao fim do mundo, em terceiro lugar, na verdade, Alice só ficará umas horas sem companhia.

Durante todo o dia a Carla esteve com ela, tirou folga – fui eu fazer o seu horário, que isto de sermos operários é mesmo assim -, aproveitou para correr, fez as malas e companhia a Alice.

Eu, depois de chegar, não estive em casa mais que quinze minutos, é que, ao mesmo tempo que uma âncora me prendia à cozinha, para estar com Alice, eu dizia a mim próprio que quanto menos tempo ali estivesse, menos difícil ia ser.

Alice passou esta noite sozinha, pela primeira vez, em casa, nada comparado com as noites que passou sozinha, na rua.

Deixámos comida e mais comida e água, deixámos a porta da cozinha aberta, assim tem mais espaço para correr, deixámos tudo como quando estamos em casa, o tubarão, o rato-raspador, a ovelha, o carrinho.

A Cristina passa por lá hoje e vai fazer companhia a Alice, reforçar a comida e a água, limpar o caixote e, acredito, pegar nela ao colo e fazer-lhe uma festa.

Pode fazer, Cristina, prometo que ela não lhe vai morder.

É a primeira vez que Alice é deixada sozinha, por nós, nada comparado com as vezes que se enfrentou, sozinha, na rua.

A casa está quente, a comida, a água, a Cristina, e domingo é já amanhã.

Ela vai perceber que não pode vir sempre connosco, aliás, nunca veio.

Eu é que não percebo o raio de aperto que se me invade aqui.

Raio da gata.

Apanhou-me na gatoeira.

É que eu nunca fui dado a ausências, provocam-me saudade, a saudade fragiliza-me.

Uma coisa prometo: domingo vou bater o meu próprio tempo na meia maratona.

Sinto-me forte, leve, com ganas e saudades.

Domingo vou lutar contra mim, numa espécie de luta, onde ganha quem correr mais rápido, eu ou eu.

Depois volto para o pé de Alice.

Gosto de reencontros.

E, há sempre uma primeira vez para tudo na vida.