Dia 46
17/11/2016
Sobre equilíbrios…
Uma das coisas que mais gosto e que é das mais difíceis de manter: equilibrar-me.
Às vezes, não é fácil, no sentido literal do termo, basta um pequeno toque e foste, em tudo, na vida.
O equilíbrio a que me refiro é bastante mais decisivo, por isso muito importante, para que a passagem por esta vida se torne menos penosa, mais agradável.
Não é fácil, nos dias que correm, sermos pessoas ponderadas, exemplares, correctas, atentas, tranquilas. Não é fácil, porque as exigências pessoais e profissionais são cada vez maiores, sempre mais exigência e menos retribuição, em tudo – caminhamos para a era da neo-escravidão a alta velocidade -.
Pessoalmente, os filhos crescem, a idade também, o orçamento reduz-se, os ordenados também, os impostos, aquilo que todos sabemos, não é nada fácil, nem será.
Profissionalmente, é tal e qual como nas duas linhas em cima, com a diferença que as tarefas triplicam, pelo mesmo preço de há onze anos.
Não é fácil uma pessoa andar equílibrada, nesta vida, mas tenta-se, e vai-se conseguindo.
Ora Alice, que tem atitudes aparentemente desiquilibradas deu, acabou de dar, uma verdadeira lição de equilíbrio.
O gradeamento das minhas varandas é feito em ferro forjado, branco, escorregadio, principalmente quando chove.
Pois foi!
Não choveu, mas continua escorregadio.
Apesar de a varanda – uma, a outra não – estar vedada com uma rede branca, esquecemo-nos que Alice, apesar de pequena, nos seus dois meses, salta como gata grande.
Já demos com ela em cima das cadeiras da sala, da mesa da sala, em cima das camas, dentro de armários, debaixo de mesas e, agora, finalmente, em cima do gradeamento da varanda.
Aquilo não tem mais de uma meia dúzia de centímetros.
A sensação foi arrepiante.
“Se escorrega vai parar lá abaixo, rebenta-se toda, se falo baixo pode não acatar a ordem, nem a ouvir, se falo alto pode assustar-se e cair do segundo andar”…
A opção foi arriscar tudo, ao nível dos corcodilos, baixinho mas eficaz:
“Alice, anda para baixo, sai daí…”
Resultou.
Imediatamente, Alice saltou para o chão, deu uma volta ao estendal, espreitou a tartaruga Ninja, entrou na cozinha e nem desculpa pediu. Como se nada se tivesse passado.
Eu, tal como Alice, também tenho, por vezes, atitudes aparentemente desiquilibradas, mas tento manter o equilíbrio, na maior parte do tempo.
Acredite que nunca andei a passear em cima de um gradeamento de nenhuma varanda, o mais próximo que fiz foi pendurar-me mesmo numa varanda.
Mas, isso foi quando era moço.
Sorte a minha que Alice não bebe álcool, mas salta como uma gata.
Álcool eu também já não bebo há imensos anos e nunca mais me pendurei num varanda.
Ainda assim, tento manter o equilíbrio todos os dias.
Não é fácil.