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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

28.10.16

ALICE DE FOLGA


The Cat Runner

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Dia 27

27/10/2016

 

Coisas de gajos...

 

 

Consegui passar um dia com Alice.

Ela não se apercebeu, mas observei-a o tempo todo.

As suas reacções, os seus gestos, os seus passos.

Alice andou pelo mundo fora.

Acordou, de manhã, quando entrei na cozinha para tomar o pequeno-almoço.

Levou algum tempo a sair da cama, tal como eu, mas ainda não tinha tirado o café já Alice me atacava os pés.

Voltámos para a cama. Para a minha cama.

Alice andou a conhecer o território por onde agora se passeava, e depois foi atacar-me na minha própria cama.

Os ataques continuaram, sempre que possível, ao almoço, na sala, por isso me atrasa os textos – Alice insiste em passear pelo teclado, até que lhe dei assim uma ordem com tom mais forte e desapareceu -, aposto que está onde costuma estar quando desaparece, na cama, dela.

É esta a conclusão a que chego.

Há parecenças entre Alice e eu.

Ambos adoramos estar na cama e dormir.

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Foi o primeiro dia de folga que passamos juntos. Observei-a. Percebi que, mesmo quando a Cristina a vem visitar e passar umas horas com ela, ou quando está sózinha, neste caso comigo, Alice dorme que se farta.

Não admira que à noite tenha as baterias tão recarregadas que às vezes chateia, no bom sentido. Tal como eu.

Este dia passado com Alice foi tão divertido, e acompanhado, que até deu para treinar Muay Thai.

Ela com as patas e com o focinho e a boca, os dentes parecem agulhas fininhas, eu com os dedos.

Ela dava-me um low kick e eu respondia com um circular na cabeça, começou a ficar em sentido. Menos mordidelas.

Sempre que me atacava com uma pata o meu dedo respondia com um joelho no focinho, sem a magoar, claro.

Às tantas comecei a emitir sons sempre que disparava um golpe.

Compassados. Ué...ué...sempre que lhe aplicava um golpe.

Aí, começou a tentar perceber o que estava a acontecer.

Tornou-se mais lenta a atacar.

Apostei no clinch e enrolei os dois dedos aao seu pescoço. Defendei-se com as patas. Afastei-a. Circular médio.

Limitava-se a defender, encostada às cordas.

Terminou ali a luta.

A cauda andava à roda e sempre que a cauda anda à roda as prioridades de Alice mudam.

Que alívio.

Consegui passar um dia com Alice.

Estou de folga até segunda feira, Alice está de folga quando quer. Acertámos agendas e o dia foi nosso.

Consegui perceber o que faz Alice quando está sem companhia.

Brinca e rebola-se quando o sol entra pela cozinha, corre por onde pode, come, bebe, participa em lutas imaginárias, no fim dorme.

Pela primeira vez, depois de adormecer no colo de Maria e de Carla, adormeceu no meu colo.

É por causa dessas lutas imaginárias que o próximo texto terá um ponto de interrogação no final.

É que gostava de saber se Alice pensa. Em que pensa, quando anda por aí, por aqui, junto de nós.

Hei-de saber.

Por agora, sei apenas como ela passa os seus dias de folga.

Dorme muito, como eu.

 

28.10.16

ALICE E AS CABEÇADAS NA VIDA


The Cat Runner

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Dia 26

26/10/2106

 

 

Sobre fracassos e conquistas...

 

Custa-me ouvir pessoas que dizem “já dei algumas cabeçadas, na vida”.

Remete para o fracasso e para o arrependimento, apenas.

Fracasso é aprendizagem.

Arrependimento é inconsciência.

Eu fracassei algumas vezes na vida. Algumas dessas vezes custaram-me amizades, milhares de euros, depressões, jantares de comemoração, traições, amizades novas, nunca achei que “tivesse dado cabeçadas na vida” que me levassem ao arrependimento.

“As cabeçadas” que dei, para simplificar, não me causam arrependimento, simplesmente porque tudo o que fiz foi com paixão.

Faría tudo igual, de novo, no mesmo contexto.

Como pode o arrependimento sobrepor-se à criação.

Fracasso sim, “cabeçadas não”!

Alice é especialista em cabeçadas. Mas, cabeçadas a sério, sem arrependimento, sem fracasso.

Sem fracasso, porque se retira ensinamento, fortalece por dentro e por fora, aporta coragem.

Não consigo contabilizar as cabeçadas que Alice dá por dia, confesso.

Tudo o que seja passível de dar uma cabeçada, Alice dá.

Nas nossas pernas, nas pernas das cadeiras, mais recentemente, nas pernas e no tapo inferior da mesa branca da sala.

Tente imaginar, feche os olhos (vai ser difícil para continuar a ler, mas tentemos), Alice vem da cozinha, a trote, em direcção à sala.

Em menos de um nanograma de segundo transporta-se da mesa de jantar para a mesa da sala.

Damos conta disso, o barulho é perceptível. O barulho quando a cabeça bate no tampo inferior da mesa.

Olhamos.

Em menos de um segundo aparece do outro lado da mesa, que é grande, salta para o sofá, e deita fogo à peça.

Porque não pára, por vezes dá cabeçadas no próprio chão, seja quando rebola em cima do tapete, com a luz do sol que entra pela janela da cozinha a aquecê-la, seja quando luta ferozmente com o pequeno tubarão de borracha, ou com a pobre ovelha de PVC, seja quando corre em cima das costas do sofá e cai para o lado esquerdo de quem lá se deita, chão. Pum!

Seja, quando cai para o lado direito, alcatifa. Póf!

Também me dá cabeçadas, a mim, sim, quando decide andar às voltas atrás da própria cauda, junto à minha cabeça e perde o equilíbrio, o que é raro, admito.

O equilíbrio, é uma das coisas que me impressiona naqueles que o conseguem alcançar, é das coisas mais difíceis, nesta passagem por cá. Creio que todos o procuramos. Insistente e às vezes até inconscientemente.

Eu já cometi erros, de cálculo, de avaliação, de atitude, de acção, mas aprendi com todos eles.

Estou certo que Alice também vai aprender com os seus e, também ela vai deixar de dar “cabeçadas” em tudo o que é passível de dar cabeçadas, na vida.

Que as únicas cabeçadas que dê sejam no iPhone, como a foto documenta.

Para o resto já basto eu.