OS SINAIS DE ALICE
Dia 22
22/10/2016
Sinais...
Alice tem um comportamento padrão, como qualquer gato e, como qualquer gato, muito desse comportamento vem da sua própria personalidade.
Deitei-me, salve seja, a adivinhar o que lhe passará pela cabeça.
Quando ela ronrona, quase em silêncio, sente-se pela respiração, é sinal que está feliz. Às vezes Alice ronrona.
Andei a ler umas coisas e, fiquei a saber que, quando os gatos, Alice já o faz, começam a passear colados às pernas estão, imagine, eu não imaginava, a libertar odores só perceptíveis aos outros gatos.
O meu dono é meu!
O recado vale para todos os gatos, os que não temos e os que passeiam pelas redondezas.
Às vezes sinto-me aflito, por momentos, como quando Alice se senta a olhar fixamente um qualquer ponto. O ar felino. É daí que deve vir. Alice nunca caçou, mas o instinto nasceu com ela.
Como qualquer gato, Alice dorme longos sonos. Passa quase dois terços do dia a dormir.
Sente-se segura, aproveita ao máximo. Na rua, não sei se alguma vez Alice dormiu descansada.
Alice, várias vezes, em determinados momentos, mete as orelhas para trás. Fica realmente assustada. E, assusta-me mais ainda, relativamente, porque ainda é pequena, quando fica com o pelo eriçado. Ela sabe que ganha uma dimensão física maior.
Há dias cortou as unhas e ficámos a pensar que as constantes mordidelas que nos dá, quando brincamos com ela, pudessem ser por causa disso, por não ter unhas.
Menos uma defesa, e a defesa é o melhor ataque.
Como a águia que passa cem anos na rocha, a raspar as unhas, que caem, que renascem, que lhe dão asas, de novo, e ela vôa.
Alice verá nos nossos pés, ou nos nossos dedos das mãos, uma presa, e ataca, com tudo o que tem direito. Por vezes avança rápido, chega ao pé do alvo, e dá meia-volta.
Alice, no fundo, passa a vida a enviar-nos sinais.
É que ninguém gosta de ser incomodado enquanto descansa e eu incomodo-a sempre que entro na cozinha. faço questão disso.
A atitude de Alice, normalmente, passa por se esconder debaixo de qualquer coisa, quando se sente ameaçada, ou porque um de nós voltou para trás, ou porque se levantou do sofá e fez mais barulho. Bendita a hora em que escolheu os bunkers da cozinha, porque li eu, se tiver medo a sério, se não tiver por onde fugir, ataca, mesmo. É raro.
Alice faz ataques, mas são ataques fofinhos.
Uma coisa também reparei, quando Alice vai para trás dos livros, numa das estantes, e a “mando” sair, com voz grossa, ou se teima em se esconder debaixo da cama, ela sabe quando é repreendida. Sai de onde está e, invariavelmente, vai para a sua cama cor de rosa, até que tudo “acalme” outra vez.
Alice acalmou – por curtos momentos – ao vigésimo segundo dia cá em casa.
Acalmou estranhamente.
A vacina deita por terra qualquer teoria. Ressentiu-se. Andou calma demais. Esteve mais parada, mas agora já está louca outra vez.
O que ela não sabe é que nós andamos a aprender sobre ela.
Qualquer dia ofereço-lhe umas luvas e fazemos um sparring os dois, só para ela descarregar a energia.
É que não há vacina que lhe valha.
Nem para ela, nem para nós.
Começa a ser difícil resistir-lhe.
E, ainda bem!