ALICE E A TARTARUGA NINJA
Dia 18
18/10/2016
Alice foi conhecer a tartaruga Ninja.
A tartaruga Ninja é o ser vivo que mais tempo passou cá em casa, concluo, no fim das contas.
Tivemos uns canários, morreram com overdose de comida.
Tivemos uma espécie de papagaios, tão inteligentes, mas inteligentes mesmo, de tal forma que descobriram como abrir a porta da gaiola e voaram, livres, para a boca de um qualquer gato.
Alice ainda não era nascida, nessa altura.
Tivemos um rato branco, na verdade não o tivemos, isso não, tudo o que tenha aquela textura não.
O rato branco ficou em casa da avó, até que um dia...
Acontece!
Também acho que tivemos um coelho mas, lá está, a textura. Andor.
Andaram por cá os tradicionais peixes, morreram todos, acho que é da água que às vezes sai castanha da torneira.
Andaram por cá os bichos da seda, que aquilo depois de se transformar seca tudo.
Já passaram por cá uns bichos.
A tartaruga é, de todos, a que mais tempo cá durou, a que cá está há mais tempo.
Contudo, pobre tartaruga, nem nome tinha, até hoje, ter tinha, mas ninguém a chamava.
Limita-se a estar dentro de um aqua-show à medida dela, com uma mini-ilha encarnada ao meio (a palmeira é verde, vá).
Aquilo tem uma escadaria, de cada lado, à escala.
A água fica escura, embora aquilo seja limpo semanalmente e a água mudada.
Cria limos. Às vezes parece um pântano, ali na varanda.
Nunca nos esquecemos de lhe meter comida, adora camarões em miniatura, secos.
Não cheiram mal de todo. Com uma “mini”, não sei não.
Hoje, a tartaruga ganhou um nome; tartaruga Ninja.
Só porque sim, porque as histórias não se escrevem sem personagens, as personagens não têm vida se não tiverem nome.
Está a imaginar-se sem nome?
Pois!
Alice foi conhecer a tartaruga Ninja.
Foi a primeira vez que foi conhecer a varanda da cozinha, que até já tem uma rede que se confunde com a varanda, não vão os donos disto tudo – aqui no bairro há uns tipos que acham que são os DDT, mas não são, pensam – implicar.
A coisa deu-se rápido.
“Olá, eu sou a Alice, tu és...(ca nojo, que feia)?”.
“Eu sou a tartaruga sem nome, agora podes ir à tua vida?”.
Alice abanou a cabeça, que sim, que ia.
Antes, a experiência.
“Tu és a nova coqueluche dos humanos?”
“E?!”.
Alice já sai da casca.
“E, nada, anda, vem para aqui, está-se bem”.
Alice meteu uma pata em cima da ilha encarnada, enquanto Ninja a observava, com aquele sorriso que só as tartarugas sabem fazer.
Alice levantou a outra pata, lentamente deixou-a cair, dentro de água.
O que aconteceu a seguir foi tão rápido que é impossível escrever.
Só demos com ela, no seu bunker, num dos vários que já tem só para si. Aninhada, desperta, alerta, a ver o que aquilo dava, "ca nojo, aquilo cheio de água, tudo escorregadio, com aquele ser estranho...", terá pensado Alice.
Ninja, olhou-nos, desde a água esverdeada, com aquele sorriso que só as tartarugas sabem fazer, e atirou:
“Conhecem a fábula da tartaruga e do escorpião?
Pois, eu também”.
Alice não voltou à varanda.
Tudo tem um tempo.
O seu tempo.
Alice adora meias cor de rosa!