ALICE E A HISTÓRIA DE EMBALAR
Dia 12
12/10/2016
Coisas de crianças...
Alice começa a ganhar forma de história, sem pretensões, sem objectivos, que não seja contar a forma como essa história se está a formar.
Noto, por exemplo, neste momento em que escrevo (um segundo, vou parar só para ligar o Sportify)...
...
Voltei.
Dizia eu; noto, neste momento em que escrevo, um certo cuidado na escrita que, confesso, não tenho tido até aqui.
Isto tem uma razão de ser.
Alice é uma história pura, que está a acontecer e que é contada em tempo real.
É uma história verdadeira, de Alice e do mundo que a rodeia, o mesmo mundo que nos rodeia, a nós.
É uma história que, por isso, fala muito de Alice, mas fala de muito mais, sobre muitas mais coisas.
Sobre pessoas, relações, sentimentos, experiências, cumplicidades, zangas, se calhar.
Talvez por isso, Alice, que está ali na cozinha, tenha começado a conquistar algumas pessoas. As pessoas gostam de histórias, histórias que tenham afecto dentro.
Abrigam-se nas palavras, tal como Alice (ainda) se abriga por baixo do carrinho com três andares.
As pessoas, essas que se contam pelos dedos, gostam de perder cinco minutos do seu dia para espreitarem como foi o dia de Alice, porque sabem que vão encontrar esses afectos, numa página e meia de ecrã de computador.
E porque é que hoje eu e Alice estamos mais cuidadosos com as palavras?
Porque hoje lemos um comentário sobre a nossa história, nossa, minha, dela, dos de casa, de quem a está a seguir, que dizia mais ou menos isto.
“Alice já era conhecida da família e da escola da menina. Todas as noites contam-lhe a história de Alice, embalando-a no sono. Ela quer uma Alice. Na escola perguntaram quem era Alice, porque ela passa o dia a falar de Alice”.
Estas palavras foram fundamentais para a escolha da fotografia desta página sobre o dia doze de Alice cá em casa, para que se possam conhecer melhor.
Não é propriamente uma história difícil de contar, é uma história de superação e, pelo que parece, as crianças sabem o que é a superação, o afecto e o amor vão descobrindo ao longo da vida, a superação também.
Aumenta a responsabilidade. A minha, que escrevo.
Alice já é, literalmente, uma história de embalar o sonho de uma criança.
Não seremos todos nós um tudo nada dessa criança?!
Vou confessar uma coisa, Alice, que está ali na cozinha, não sei se estará a gostar, eu acho que sim, mas daqui a pouco vou-lhe contar o que contei aqui.
Acho que ela vai gostar.
Vai gostar.
Alice está ali na cozinha, desde a hora de jantar, a fazer treino de cem metros.
A minha casa não é grande, mas também não é pequena.
A cozinha acolhe todos, tem dias, e nestes últimos dias tem sido território quase exclusivo de Alice.
Vale-lhe a Cristina, que nos dá uma ajuda e passa cá umas horas, sempre lhe vai fazendo companhia.
Pois a cozinha é mais ou menos grande, tem espaço para uma gata de dois meses correr.
Depois de ter experimentado Muay Thai, Alice treina agora, sem parar (a julgar pelos barulhos vindos da cozinha), corrida de curta distância.
Um raio ao pé dela é uma espécie de tartaruga.
Há-de cansar-se, irá adormecer, a menina também, a menina já tem mais uma história para ouvir.
Hoje não, que já é tarde.
Amanhã, ao pequeno almoço, antes de ir para a escola.
Agora vou fazer o jantar para o meu mais velho que já me ligou, está a chegar do treino, e está a chover.
Tenho que ir abrir o portão, e tratar da Alice, que ainda não deve ter parado de correr.
Só não sei se vou aguentar o ritmo.