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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

04.10.16

AS CONFIDÊNCIAS DE ALICE


The Cat Runner

 

MARIAEALICE.jpg

 

 Dia 3

03/10/2016

 

Alice confidenciou-me – já conversamos um com o outro, mais eu que ela – que ficou espantada com o carinho que imensas pessoas lhe têm dedicado, desde sexta feira passada, dia em que o destino a colocou nos braços da Maria.

No Facebook os comentários são uma constante, no Instagram fazem-lhe verdadeiras declarações de miau, até no Linkedin, onde os textos são replicados os CEO´s colocam likes.

No blog, onde são escritos todos os textos, pela primeira vez vi-me a braços com tantos comentários que me perdi, nas respostas.

Há pessoas que oferecem brinquedos, acessórios, palavras, incentivos, afecto, há, diz-me ela com ar pasmado, pessoas, muitas, que têm histórias idênticas à de Alice.

Há, depois, muitas pessoas que terminam os seus comentários com uma frase do género: ”fico à espera do próximo texto”, ou, “estou a adorar a história da Alice”.

Alice já não está assustada. Já provoca reacções. Ainda bate com a cabeça na perna da cadeira, quando dá saltos imprevistos, Alice está a crescer.

Mas, dizia-me ela, com aquele olhar que me era estranho, ao qual me ligo cada vez mais, que há uma coisa que a assusta:

Ela não está habituada a ser o centro das atenções.

Preferia, disse-me, estar por cá de forma mais discreta.

Respondi-lhe que esse dia há-de chegar, daqui a um ano, mais ou menos, e que até lá o seu processo de sobrevivência vai ter várias fases, tem que se habituar.

Não estava habituada a nada disto. Literalmente.

Descansei-a, quando a olhei nos olhos e lhe disse: “não estejas assustada, aqui ninguém te fará mal, todos te querem bem”.

Pediu-me para vos para agradecer as mensagens, os comentários, as intenções, as histórias partilhadas, a todos, aos que conhecemos, aos que não nos conhecem.

Está atendido o desejo, está feito o agradecimento.

Mas, deixem que vos diga, isto vai complicar-se.

Alice já tem a sua própria rotina.

Passa horas na cama cor de rosa, sai de lá para ir comer e tratar de si, salta, corre, observa, tenta, sempre que alguém anda pela sua zona.

É uma rotina, para quem não tinha vida pela frente, é uma rotina e é uma rotina nova. Feliz. Sentimos, a cada dia que passa, e só ainda passaram três fantásticos dias, que Alice está a apreender a ser feliz./p>

Alice começa a ganhar confiança.

Fisicamente, desde há três dias, iniciou um fantástico processo de mudança, mantém o tamanho de uma ficha tripla rectangular (que foi de onde a tirei de cima, depois de para lá ter caído, por estar em cima da máquina de secar roupa), mas está mais altiva, elegante.comeca a emanar luz./p>

Os olhos continuam baços, mas quase nada, comparado com há três dias.

Comentamos, do nada, “ela vai ficar com os dois olhos lindos, já se nota”.

Ainda hoje, calhou-me, visto a Maria estar na escola, ter de lhe colocar, à Alice, as gotas para os olhos – foi nessa altura que escapou das mãos da Carla e caiu para cima da ficha tripla rectangular, atrás da máquina, o que evitou metade da queda, poupando-se assim Alice a algumas mazelas, que já teve as suficientes, na vida -.

O rosto está diferente, os dentes crescem, o pêlo alinha-se, e este fim de semana tem que ir à manicure arranjar as unhas, que as princesas querem-se sempre num nível superior.

Já sentimos na pele tudo isso, os dentes, as unhas, o toque.

Alice brinca, e quando não brincamos com ela, ela tenta-nos, como ao jantar.

Por baixo da mesa ela inventou o seu próprio parque de diversões. Uns descalços, outros de ténis e eu, lá ao fundo, sentado no chão, encostado ao balcão, ao nível dela, a observar-lhe os jeitos e o comportamento.

Bastava alguém mexer um pé, para ela achar que se estavam a meter com ela, e a partir daí travar titânicas lutas contra uns simples atacadores brancos.

Percebi-lhe a tentação por pés descalços. Basta mexer dois dedos, naturalmente, para ela se aproximar, fitar, e não havendo melhor, seguir a marcha, dando um toque com a pata, no pé que se mexeu, só assim como quem não quer a coisa.

Também já percebi que quando está deitada e lhe faço festas, abre os olhos, vira-se de barriga para cima, e abre a boca, como que a dizer, uau, ou miau.

Depois, enquanto o meu dedo repousa na sua pata esquerda, a direita pousa em cima do meu dedo, como que a prendê-lo, como que a mostrar-me que está feliz.

Mas, feliz mesmo, fica Alice quando a Maria a pega ao colo (o que acontece todos os dias).

E, não é só Alice que fica feliz.

Basta voltar a ver a foto deste texto.

Duas gatas felizes.

E eu também.

Estamos todos.

Agora, sempre que falamos ao telefone uns com os outros, acrescentamos sempre a mesma pergunta, no final de cada conversa (e trocamos imensas fotos ao longo do dia):

"E a Alice, como está?".