Começo por dizer que detesto usar títulos com pontuação, só que desta vez não tive alternativa, senão isto descambava em alguma polémica, nas redes sociais (?). Não tive alternativa. Assim fica bem, o título! Isto para lhe dizer que acho que há conversas que não se revelam, esta, por exemplo. Não vou dizer quem me pediu para escrever este texto porque, imagine-se... está com saudades de me ler. Há conversas que não se revelam e pedidos que não se recusam. Não vou dizer que, aqui e ali, sinto saudades repentinas de escrever mas, entre o momento de abrir o word e começar a divagar, por linhas que só aparentemente são direitas, esqueço-me da ideia que me empurrou para o texto, que demora sempre semanas a sair. Eu, (vírgula) pecador me hei-de confessar, um dia, um dia... Não sou profissional deste ofício, entenda, peço-lhe que entenda, por favor (esta parte já foi exagerada). Mas - também não gosto de começar frases com mas, porque insinuam logo reticências, ou uma vírgula tendenciosa -, (aqui está ela) sim, sinto saudades repentinas de escrever. Na maior parte das vezes, quem me lê, entende que escrevo sobre mim e eu não sou assim tão relevante. Na maior parte das vezes escrevo em função de pensamentos que me ocorrem, não escrevo obrigatoriamente sobre mim, aliás, quando o faço arrependo-me sempre. Escrevo muitas vezes na primeira pessoa, mas sobre outros, reais ou imaginários. Às vezes apanho uma ideia para começar a escrever, muitas vezes o texto acaba numa outra estrada qualquer. O vento já não leva mais as palavras sem qualquer vírgula que as amarre à boa consciência. O paradigma mudou. Basta olhar a realidade (hiper-virtual). O vento já não leva as palavras, nunca mais. Na verdade, como noutros tempos, a escrita não se deixa levar pelo vento, mesmo quando folhas rasgadas esvoaçam. Agora tudo é diferente porque as palavras são digitais e que se saiba o vento ainda não tem formação em social media. Por isso, escolhi este título, por isso, decidi digitalizar aquilo que ouvi esta manhã. Eu não queria acreditar. A conversa será longa, mas fica digitalizada (espero que não acenda mais nenhuma polémica, sobretudo por parte dos defensores de tudo e mais alguma coisa, mas também dos jihadistas virtualmente convencidos, acredito que não, como mais à frente se provará), para que alguém a possa usar daqui a uns anos, sobretudo quando eu me finar. Começo pela Queen Mary The Second! Podia ser o nome de um paquete de luxo, mas é o nome da minha mota. Contaram-me que ela se tem queixado imenso, dos camiões grandes que a ultrapassam quando ela vai lançada nuns vertiginosos cem à hora, da privação do banho, começa, disseram-me a ficar toda esticada. Ah, e tal, tu fazes muitos quilómetros por dia, como se uma mota fosse para ficar quieta. Esta gente não sabe o que é rasgar asfalto - com a sensação que se está parado. Nunca correram, na vida (estou a brincar, olhem as polémicas). Contaram-me que Queen Mary II (chamemos-lhe assim, para facilitar a compreensão e poupar caracteres) começa a ficar farta de ter a bagageira cheia - por favor, nada de segundos sentidos, a polémica...), ele é luvas, cachecóis, capacetes, fatos de chuva, panos, documentos, e aquele cheiro que só nós conhecemos. Fui falar com ela. Não a quero em sobressalto. - Diz-me lá então o que te inquieta. - Oh pá, não é nada... - Oh pá?... - Cuidado onde metes as reticências. - Meto onde me aprouver. - Aquele cheiro... - Não me digas que estás a criar todo este assunto por causa de um cheiro característico que só sentes de tempos a tempos? - Se achas que cheiro a luvas de box... - Desculpa interromper-te, vamos partir de um princípio; ofensas não! - Estás como o outro? - O outro sou eu, ok? - Ok. Dizia eu, aquele cheiro incomoda-me, mas eu suporto-o. - Então, para quê tudo isto, minha rainha? - Parece que não vês as redes sociais. - Como assim? - Polémicas todos os dias, com prazo de validade, outras já fora de prazo. - És fútil, às vezes, nem te reconheço, não és a mesma que passou de 9 mil quilómetros para 11 mil em apenas um mês... - Isso não é ofensa? - Desculpa, as palavras... - Pois, o vento, não é? - Adiante. - É melhor, dizia eu, o cheiro incomoda-me, mas eu aguento, o que não aguento mais é ouvir as conversas entre aqueles quatro. Aqui, nesta fase da conversa semi - cerro os olhos, faço aquele ar pensativo-perspicaz-charmoso(?). - Quais quatro? - As tuas sapatilhas amarelas e as tuas luvas amarelas e pretas. - Pelo amor de deus, o meu reino pela paciência... - I´m your queen... - Tu só podes estar a brincar, montas uma confusão destas, quase quase a raiar a polémica... - Sim, porque isto é um blog mas não deixa de ser um social media. - Rede social, pá. - Eu gosto de falar estrangeiro, às vezes até gosto. Não criei esta polémica para nenhum fim que não o de levar ao teu conhecimento o meu desagrado com esta situação. - Mas, Queen, é raro eu levar o equipamento de Muay Thai, muito menos junto com o equipamento para correr... - O tanas! - Só uma vez levei isso tudo e até consegui meter as caneleiras lá dentro. Estás a ser injusta. - Estou, ai estou? Pois olha, meu menino... - Ui... - Estou farta que me enchas a bagageira. - Queen, querida, cuidado com o português. - Quero que o português se... - Mau, mau, é melhor respirares fundo, é melhor, senão ficamos já assim... - No auge da polémica? - Mas qual polémica? - A do cheiro que os teus artigos desportivos me provocam, dá-me náuseas. - Vamos lá ver se nos entendemos, primeiro aguentavas o cheiro, que diga-se de passagem, suportas umas quê? Umas duas, três, quatro vezes por mês. Estavas habituada a andar de casa para a loja, pouco mais... - Eu fui uma vez a Santiago do Cacém. Bem bonita a viagem, por acaso. - Ainda bem, assim pelo menos não te queixas dos quilómetros que tens que fazer. - Nunca me queixei disso. - Eu sei. Peço que tenhas paciência, vou evitar que as luvas e os ténis... - Só mesmo em caso de necessidade extrema. - Combinado, prometo que assim será. Vai-me ser difícil correr antes do treino, mas eu cedo nisso. - Óptimo. Vamos então ao que interessa. - Mais? - Claro. Tens que falar com as tuas luvas e com as tuas sapatilhas... - Lá em cima chamaste-lhes ténis. - Sapatilhas, para não se ofenderem. Solto uma enorme gargalhada. - Foste passarinha. O vento já não leva as palavras, não leste o que te disse? Está digitalizado. Eu é que não quero mandar para o Google, mas estás nas minhas mãos. - O que é isto? - É isto que te digo. Ponto final nas tuas exigências. - Mas, eu limito-me apenas a pedir-te gasolina, depois faço tudo o que tu queres, levo-te a viajar... - Grandes viagens, auto-estrada, rajadas de vento e o camandro. - Pá, camandro é uma palavra... - É o quê? - Calma, estás tenso. Vai lá directa ao assunto, que as pessoas querem ir fazer outras coisas. Já vamos em três páginas A4. - Então, fala com os quatro... - Vamos simplificar; uns sem os outros são ninguém, como em tudo. Passemos a quantificar humanamente. São dois, dois pares, não é como as cuecas que dizem que são pares, nunca vi duas cuecas numa só. Dois pares é mais humanizado e imagina a quantidade de diálogos que se poupa. - Por mim pode ser. Pá, estou cansada, farta, chocada, indignada, com as conversas que tenho ouvido, ainda que só por algumas vezes. Tem momentos que não quero acreditar. Aquilo é uma ciumeira. - A sério? Costumo utilizar esta expressão quando quero mostrar-me surpreendido, sem que o esteja ou seja. - Aquilo é deprimente, doentio. - E em que é que posso ajudar, em que é que uma conversa entre mim e eles poderá ajudar? - Porra, tu és o boss! - Que violência, nossa! Para quê o porra? - Para te mostrar, com veemência, toda a minha indignação e protesto. - Vamos em quatro páginas A4, eu próprio preciso de ir dormir depois de ver mais um documentário no Netflixónaite. Vamos fazer assim, eu vou falar com eles, os pares, e com elas, as luvas e as sapatilhas. Quanto ao cheiro, não prometo mais do que já te prometi. Quanto ao resto, amanhã digo-te como correu a conversa. Vou ouvir as gravações. Por fim, amanhã voltamos à estrada. - Elas vão? - Amanhã não. Só o capacete, as luvas, o cachecol, os documentos... - Não te esqueças de mencionar a mini-caixa de ferramentas. - A mini-caixa de ferramentas, o pano, nunca percebi porque é que o teu dono usava um pano azul bebé. - Podia ser castanho. - Não tem a ver com a cor, mas com o uso a dar à coisa. - Deve ser para limpar as mãos ou assim. Garantes que amanhã elas não vão? - Dou-te a minha palavra. Estás de papo cheio. - Aqueles dez euros de 95 octanas com aditivo for um manjar dos deuses. - Este fim de semana a ver se te dou banho. - É pá, adorava. mas garantes que elas não vão? - Outra vez?! - Então, vá... - Seja feita a sua vontade, dona Queen Mary II. Amanhã até dás 120. - Já dei. - É verdade. A outra nem lá perto. - Olha, agora é que estragaste tudo. Estiveste aqui quatro páginas A4 só para me provocar. Chegaste aqui, onde querias, estás satisfeito? - Cinco, cinco páginas A4. Até amanhã. - A tua sorte é que eu gosto de te ler. - Tá bem!