A TERRA ONDE OS VELHOS MORREM DE VELHICE
(TODAS AS FOTOS SÃO DA AUTORIA DO GATO QUE CORRE)
Sou do contra!
Gosto de voltar a lugares onde fui feliz.
A maioria das pessoas que conheço aplica o mandamento contrário, eu não.
Eu sou feliz longe das cidades grandes - também sou feliz nas cidades grandes, mas longe delas também -, até porque posso delas matar saudade sempre que assim for necessário.
Mas, é longe, que sinto o esplendor. Longe, vivo, descubro, olho, sinto, sou eu, livre, longe.
Desta vez tudo foi diferente.
Voltei ao Alto Douro Vinhateiro.
Livre num pedaço do mundo, que o mundo só admira das fotos dos websites (já não são os postais), mas que lhe desconhece o frio da pedra, as curvas da montanha, as aldeias onde se morre de velho, o novo há muito que se foi embora, a maioria desconhece a pisa, o mosto e o vento cortante do mais alto dos miradouros.
A imponência, a resiliência, a solidão, a coragem, a vinha e o vinho, os socalcos e as entranhas, o granito azul e a água que pinga, em marcas brancas sobre garrafas que dormem, milhões, de anos diferentes, numa hibernação sacramental, fria, mas impediosa.
Livre num pedaço do mundo, que o mundo só admira das fotos dos websites (já não são os postais).
Fica lá para o nordeste, aquela terra exacta, rodeada de montanhas divorciadas do rio, que as admira lá de baixo, a terra exacta que se curva ao sol que a banha em todo o corpo e curvas, o fresco que a acalma, a chuva lhe lava a alma e lhe molha os olhos. É ali que é assim e em mais nenhum outro lado.
Já passaram mais de dois mil anos.