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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

25.10.14

DAR CORDA AOS SAPATOS É PEANUTS


The Cat Runner

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Já me ri sózinho com os comentários no Facebook sobre o prémio do euromilhões (já deve ter reparado que utilizo muito pouco a pontuação. Escrevo como falo, lamento).


A coisa não está fácil. Fazemos piadas ordenadas pelo nosso sub-consciente. Brincamos com o assunto com uma secreta e remota, ténue esperança, que possa ter saído a um amigo de um amigo, vá. Andamos "de aflitos" neste pedaço de lugar nem sempre bem frequentado.


Na verdade, o euromilhões era qualquer coisa de inexplicável. Acho que aqui, ao contrário de outras matérias há consenso.


Admito. Até porque já há relatos frequentes de pessoas atingidas por raios. Algumas morreram e tudo. Portanto - utilizando esta palavra tão cara a Jorge Jesus (portanto) - há sempre um possibilidade de me tocar qualquer tipo de coisa, ainda que remota, como alguns sítios por onde vou andar brevemente.


Pelo menos deu para rir um pouco e, nunca se sabe, a senhora minha mãe pode ser milionária neste preciso momento.


Nós costumamos falar todos os dias. Hoje, ainda não conversámos. Estranho silêncio o dela.


Talvez me bata à porta e me abrace a chorar. Era isso que ela faría.


Vou ficar ansioso até que as redes sociais me digam que o novo milionário não é da vila.


Mesmo pagando mais impostos, se for, ai meu Deus, como diría o outro.


Agora, um ponto final nesta minha alucinação do dia.


O que me traz aqui são as corridas, falar sobre corridas, sobre as minhas corridas. Falar sobre a vida. As corridas são parte da vida, para quem corre.


Lá está, o euromilhões...


Não dá felicidade, mas dá para viajar, para fazer coisas. Haja saúde!


Ora, se fosse eu o milionário, por via da minha mãe, fazia aquilo que toda a gente diz que faria: umas obras na casa, o carrinho em segunda mão para os filhos, quando fizessem dezoito anos, um fim de semana no Gerês com a patrôa, um almoço com a família - amigos era a rodos - e uma contazinha a prazo.


Depois disso, depois da vidinha arrumada ia viajar. À bruta. Bem sei que isso é o que fará que ganhou aquele barril de dinheiro. Mas comigo era comigo.


Escolhia destinos onde correr fosse mais que correr. Ia aos quatro cantos. E aos outros todos. Daqui até ali.


Tirava um ano de licença de mim próprio, desenhava um roteiro, marcava viagens e hotéis, comprava equipamento novo, ténis novos e ia embora. Depois voltava. Um dia. farto de correr apesar de não me fartar de correr. Mundo.


Quem quisesse que comprasse carros, casas, acções (acções?), empresas, negócios, o que quisesse. (Não te metas nisso, mamã)


Por mim, viagens. Correr. Quase como um profissional, só que milionário. Filho de milionários. Aposto que a Paris Hilton ia, finalmente, seguir-me no Instagram. E a malta do futebol e assim.


Acho que até comprava um turbante branco no Dubai. (À noite deve dar para correr no Dubai, não deve? Se não, a Emirates arranja um playground climatizado). Sabe que música ouvia no Dubai, enquanto corria?


Midnight in Harlem dos Derek Trucks. Bom!


Em Cape Town, acho que corria em tronco nú, com colares e pulseiras étnicas. Amo África do Sul e isso é público. Voltava lá ao som dos Mango Groove.


Em Londres, o Hide Park não me escapava, acho que ia adorar correr contornando os esquilos, trocando olhar com as mamãs que empurram os carrinhos de bebé, mirando os casais de namorados no barco a remos, nem Portobello Road me escapava.


Havia de parar para comprar um ramo de flores. Ainda me apaixonava.


Depois corria nos jardins monumentais. Nas ruas da City. Matisyahu era presença obrigatória. Uma qualquer.


 


E Paris!


Nunca fui a Paris. Só passei lá ao lado e só a vi do ar.


Ainda assim, vejo-me a caminhar com as três baguetes na mão, depois de um bruch no Liza Soughayar´s.


A caminho do hotel. Passo apressado, descontraído, contudo.


As baguetes vão dar jeito depois de correr pelas veias da cidade-bela. Hei-de escolher uma música, no momento.


Como não preciso de olhar a conta bancária, opto pelo Vaticano. Vou correr no Vaticano.


E, Francisco vai correr comigo. Ou literalmente ou literalmente. Do vaticano ou no Vaticano.


Acho que ele vai gostar de me conhecer.


Claro que hei-de correr em Roma. Hei-de correr a ouvir Janis Jopplin, prometo. E Hei-de andar de Vespa e beber vinho. Claro que vou comer massa - pasta - e vou ver a Roma jogar, depois de correr com Francisco. Não sei que música ele irá ouvir. Calculo que Rolling Stones ou Happy, não sei.


Há qualquer coisa que me mata, em Miami. Acho que ia as compras ao Bayside Marketplace. Depois ia correr, como nos filmes, misturado por gente que transpira dinheiro. Bonita. Gente bonita e cara.


Acho que fazia uns quinze quilómetros, devagarinho, para apreciar.


À noite compensava. Promess!


Enquanto corria ouvia a versão Bossa Nova de Walking On The Moon.


Imagine...


Nova Iorque. Palavras para quê? Acho que em Nova Iorque corria uma maratona só para ir a todos os sítios.


O que é que eu fazia depois?


Bom, ao fim de umas cinco horas a correr - não faço ideia se aguento, mas gostava - travata do corpo. Não, não é o que imagina.


Relaxava numa sessão de massagens num daqueles hotéis brutais. Passeava. Gastava dinheiro que nem um doido. Tudo aquilo a que tinha direito. Like a King. Like a Boss.


Play like a pirate.


Jantava no Shishi Nakazawa, ali em Greenwich Village. Ouvia Bryan Adams, Heaven e cruzavam-me com os runners que só conheço das redes sociais.


Estava capaz de passar uns dias em Sardenha. Apreciar um Pecorino Sardo, acompanhado por um branco gelado de alto teor alcoólico.


Deve ser maravilhoso correr num sítio do planeta sem auto-estradas. Isso diz tudo sobre o acto de correr, eu acho.


Na ilha da Páscoa; chega-se lá de avião, que é um dos pontos do planeta mais misterioso de todos, correr entre aquela misteriosa exposição de esculturas,, com mais de mil e quinhentos anos deve ser uma experiência do género Shaman. Digo eu que nunca lá fui. Nem em sonhos.


Aquilo tem algo de muito imponente para a natureza humana. Acho que metia uma powersong e corria a ouvir Pig´s dos Pink Floyd.


Em Buenos Aires ouvia Aloe Blacc. Garantidamente. E Tango. Sacava de um trunfo: The Gotan Project!


Corria nos viadutos, à noite, nas grandes avenidas, passava e corria em volta da casa do Boca, o la Bombonera. E, dançava contigo.


Era homem, digo sem pestanejar, para correr junto às pirâmides, no Egipto, ou numa praia da ilha de Lamu. D.A.D. era a banda que me acompanhava. Laugh n´a Half, volume no máximo, que nem sempre gosto de correr com a música alta.


Com isto já se passou o quê? Um ano? Seis meses?


Perdi a noção do tempo. Será que o dinheiro faz perder a noção do tempo? Não sei.


Correr faz-me perder a noção do tempo.


O espaço. O mundo. Em dois metros quadrados. Ali, à minha frente.


Sigo os passos, passo-a-passo, olho o chão. Conto as pedras, ganho outra noção do espaço. Do meu próprio espaço. O silêncio sente-se só.


Passou o quê? Seis meses? Um ano?


Não voltei porque tivesse o que quer que fosse para fazer.


Voltei para retomar. Voltei para partir de novo. Partir e voltar.


Qualquer corrida tem sempre uma partida e uma chegada.


Uma volta. Bem visto cada corrida tem uma volta a qualquer coisa.


Na verdade, voltei e ainda não sei se o Euromilhões não estará no meio de nós.


Falo todos os dias com a minha mãe e, estranhamente, ainda não falei com ela hoje. Ela gosta de me fazer surpresas, a dona Adelaide. Gira, a minha mãe. Tenho orgulho nela.


É mulher para me bater à porta pelas seis da manhã, quando acordar ,e dar-me um abraço, a chorar. Acho que era isso que ela faria.


Depois, bom, depois continuava a correr pelo mundo. Pelo meu mundo fora.


Até lá, e enquanto a mamã não dá notícias é esperar por domingo.


Domingo são conhecidos os testes de stress à banca. Eu tenho a corrida do Montepio. Vou correr numa Lisboa que não conheço a correr. As receitas revertem todas para a Cáritas. Dez quilómetros ao domingo, pela manhã. Adoro. E à noite joga o Benfica.


Se isto não é o euromilhões...


O resto são peanuts ( vou só ali escolher mais uns destinos espectaculares, que é como quem diz vou dormir que amanhã é dia de trabalho ).


No fim disto tudo aconselho Garden State. Para dormir com(o) os anjos, que hoje é dia de descanso.


As pernas gritam por socorro!