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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

05.10.14

A MINHA PRIMEIRA MEIA MARATONA OU UMA VIAGEM APERTADA À BRAVA


The Cat Runner


 


 


Nada será como antes.


Era o que eu temia. Respiro, suspiro. Relaxo. Agora, fora da bolha.


Pela primeira vez na vida propus-me algo que entendia ser uma prova de superação pessoal. Defini o objectivo. Preparei-me. Tive apoio. Objectivo cumprido. Fica a sensação que a partir de hoje sou mais eu!


Propus dar-me uma lição. Está concluída.


Sou alguém diferente do que era, a partir de hoje.


Tive receio de adormecer. Coloquei a despertar tudo o que era passível de despertar.


Dormi cedo. Dormi bem.


Às sete e meia da manhã de domingo havia um mega concerto de despertadores cá em casa.


Tinha cinco donzelas a dormir. Apressei-me a desligar tudo.


Bebi meio litro de água morna com limão - cada maluco a sua ideia - e fui tomar duche, que gosto de correr fresquinho e cheiroso, claro que não meti perfume. Menos...


Vamos lá ao "tal" pequeno almoço. Entro na cozinha e a única coisa que me apetece é um café. Nespresso, por isso cortei o cabelo assim, como o tipo do anúncio.


Não pode!


Saco de um iogurte líquido. De morango.


Lavo os dentes. equipo-me, tomo o Nespresso e faço-me à estrada.


Sempre sózinho, como gosto.


Em todos os momentos importantes na minha vida tive sempre que ter o meu próprio momento, espaço e tempo.


Parei no Forno. O habitual; um pastel de nata e um café. Mais um.


Cruise control até ao parque das Nações.


Já tinha umas duas ou três mensagens de incentivo, uma ou duas fotos do Facebook/Instagram e mais umas mensagens de incentivo.


A manhã estava fresca, como gosto. Sentia que podia ser um domingo memorável.


Só me lembrava da gripe quando por vezes tossia.


Estacionei no parque de um hotel com receio de chegar mais à frente e não ter hipótese. Cinco minutos a pé e estava junto aos autocarros que transportaram 22 mil pessoas até ao tabuleiro da Ponte Vasco da Gama.


Filas gigantescas que se moviam a um ritmo fantástico. Pouca espera.


Olho para os WC cor de laranja.


A água das sete e meia da manhã - com limão - mais os dois cafés começavam a produzir efeito. Sair da fila naquela altura era atrasar tudo. Faltava meia hora para o início.


Seguia a fila e em minutos estava dentro de um dos autocarros.


Bastou iniciar viagem para começar o meu único pesadelo do dia.


Quando entrámos na ponte já estava no limite. Pergunto a uns tipos se falta muito.


Uns dez minutos, vamos à estação de serviço e voltamos para trás.


Pedi a todos os anjinhos que me ajudassem. Estava tudo a correr tão bem, nem me lembrava da gripe, porque raio não fui ao WC cor de laranja.


Juntamente com esse três amigos imediatos, ponderámos responder às minhas necessidades fisiológicas entre a quase inexistente abertura das portas.


Basicamente eles afastavam as portas uns centímetros e eu, pronto, deixava de estar a viver no inferno.


Ainda me fiz ao lance, mas olhei em redor, o autocarro ia cheio.


Não, acho melhor não.


Acho melhor não, responde um deles.


Já não tinha mais como controlar. Estava com suores frios, a transpirar. Juro, pensei, que se lixe, é mesmo dentro do autocarro.


Por vezes colocava-me em bicos dos pés e perguntava aos meus amigos do momento se faltava muito. Sempre que me colocava em bicos dos pés era pior. Muito pior.


É lá mais à frente, dizia outro.


Obrigadinho, pensei eu.


Acho que temos mesmo que afastar as portas, estou a passar-me.


Acho melhor não disseram os três.


Olhei em volta; é melhor não. Estava para morrer.


Não aguentava mais, era o limite.


O autocarro pára.


Sou o primeiro a sair - reparei no ar espantado dos polícias a pensarem que me ia suicidar - em direcção ao gradeamento da ponte. Encostei-me a um dos postes e, meus amigos, eu estive no paraíso.


Perdi a noção do tempo. Estava pronto para correr.


Fui furando até lá à frente. Já avistava a linha de partida. Tudo muito rápido.


Passou pouco tempo desde que o primeiro partiu até que eu cruzasse a linha de partida.


Era o momento de meter a app a funcionar e começar a correr.


Sobre a corrida escrevo na última crónica, amanhã.


Tive tempo para olhar o rio dos dois lados. Vi gente gira a tirar fotos, auto-retratos, vi o senhor da bandeja e do laçarote, vi gente com idade para ser meus avós, e miúdas "muita giras".


As corridas tem milhares de miúdas giras. Gente gira.


Que mais pode um homem querer; passar uma manhã rodeado de milhares de miúdas giras, em calções e top. (Na verdade nem dá para reparar).


Não fosse aquele episódio fisiológico e esta era a última crónica.


Assim a corrida fica para amanhã.


Por hoje ficamos assim. Vá, se está aflito(a) vá lá, que eu sei bem o que isso é.


Vai ver...o paraíso. Depois conte...


Bom domingo. Como o meu. Alíviado!