A MINHA PRIMEIRA MEIA MARATONA OU O ARTUR NA BALIZA DO BENFICA
O Artur a titular quase me tirou a vontade de correr.
Só que hoje é a última corrida longa antes da minha primeira meia maratona. Entre 15 a 17 quilómetros. O último tijolo que vai concluir a base.
Os dias que se seguem vão ser de manutenção e recuperação até domingo que vem.
Fica claro que não vou falar o Estoril-Benfica que está quase a começar. Só referi o Artur para chegar até aqui:
Se o Benfica perder e o Artur tiver culpa, podia encontrar aqui um motivo para sair do sofá.
Se o Benfica ganhar, mesmo com as brutais exibições ao contrário do Artur, podia encontrar aqui um motivo para sair do sofá.
Mas não. O Artur apenas personifica a dúvida que inúmeras vezes me colocam quando saio do sofá: em que pensas enquanto corres?
Será fácil entender que será difícil responder.
Durante uma ou duas horas de corrida penso em tudo até em nada, se estiver fresco, no fresco que está. Se estiver calor penso minuto a minuto como fazer para que ele não me derrube.
Quando corro junto ao rio e em paralelo os canoístas remam para Norte penso num desafio imaginário, correr mais que as remadas. Olhos as margens. A ponte. Cruzo-me com pessoas. Penso-lhes as caras, os ténis, imagino-lhes a vida e as vidas.
É uma pergunta sem resposta.
Na verdade, não penso. Os pensamentos é que chegam até mim. Por vezes ausentam-se. Eles mandam. Eu corro.
Correr durante muito tempo não tem apenas a ver com as pernas, com os pulmões, com os pés. Tem tudo a ver com a cabeça. E ela está formatada para pensar, para reagir. Até para pensar em nada.
Até aqui a liberdade é total.
Penso o que quero pensar. Não penso quando não quero pensar.
A ausência das imagens, dos sons, de tudo. Das pessoas.
Quando corro não sou obrigado a cumprimentar toda a gente com que me cruzo.
Não sou obrigado a falar com ninguém. Até mesmo com os conhecidos. Basta um sorriso, um piscar de olho, sem abrandar a passada, à passagem.
São momentos sem os quais já não consigo passar. A solidão, palavra crua mas tão saborosa.
Hoje é o segundo dia sem cigarros. Já me fartei de comer pipocas, é um facto, mas é dia de bola. Tenho desculpa e o milho não engorda porque o primeiro é para os canários.
Bem mais calmo do que ontem. Tranquilo. Sereno.
Em contra ponto, aquilo que os verdadeiros corredores identificam como sendo "o bloqueio mental" está a acontecer-me. Lá está; o sofá. Hoje com manta e tudo.
Tenho que calçar os ténis e ir para o asfalto, mas o sofá tem uma cola forte e o jogo só agora vai começar.
Será sacrilégio falhar o plano de treino por opção. Mas está-se tão bem cá dentro...
Só que lá fora está óptimo para uns quilómetros à séria.
Temos aqui duas hipóteses. Ou esta crónica continua mais logo ou acaba aqui.
Daqui a hora e meia se verá.
Espero não me arrepender!.