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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

27.09.14

A MINHA PRIMEIRA MEIA MARATONA OU O ARTUR NA BALIZA DO BENFICA


The Cat Runner


 


O Artur a titular quase me tirou a vontade de correr.


Só que hoje é a última corrida longa antes da minha primeira meia maratona. Entre 15 a 17 quilómetros. O último tijolo que vai concluir a base.


Os dias que se seguem vão ser de manutenção e recuperação até domingo que vem.


Fica claro que não vou falar o Estoril-Benfica que está quase a começar. Só referi o Artur para chegar até aqui:


Se o Benfica perder e o Artur tiver culpa, podia encontrar aqui um motivo para sair do sofá.


Se o Benfica ganhar, mesmo com as brutais exibições ao contrário do Artur, podia encontrar aqui um motivo para sair do sofá.


Mas não. O Artur apenas personifica a dúvida que inúmeras vezes me colocam quando saio do sofá: em que pensas enquanto corres?


Será fácil entender que será difícil responder.


Durante uma ou duas horas de corrida penso em tudo até em nada, se estiver fresco, no fresco que está. Se estiver calor penso minuto a minuto como fazer para que ele não me derrube.


Quando corro junto ao rio e em paralelo os canoístas remam para Norte penso num desafio imaginário, correr mais que as remadas. Olhos as margens. A ponte. Cruzo-me com pessoas. Penso-lhes as caras, os ténis, imagino-lhes a vida e as vidas.


É uma pergunta sem resposta.


Na verdade, não penso. Os pensamentos é que chegam até mim. Por vezes ausentam-se. Eles mandam. Eu corro.


Correr durante muito tempo não tem apenas a ver com as pernas, com os pulmões, com os pés. Tem tudo a ver com a cabeça. E ela está formatada para pensar, para reagir. Até para pensar em nada.


Até aqui a liberdade é total.


Penso o que quero pensar. Não penso quando não quero pensar.


A ausência das imagens, dos sons, de tudo. Das pessoas.


Quando corro não sou obrigado a cumprimentar toda a gente com que me cruzo.


Não sou obrigado a falar com ninguém. Até mesmo com os conhecidos. Basta um sorriso, um piscar de olho, sem abrandar a passada, à passagem.


São momentos sem os quais já não consigo passar. A solidão, palavra crua mas tão saborosa.


Hoje é o segundo dia sem cigarros. Já me fartei de comer pipocas, é um facto, mas é dia de bola. Tenho desculpa e o milho não engorda porque o primeiro é para os canários.


Bem mais calmo do que ontem. Tranquilo. Sereno.


Em contra ponto, aquilo que os verdadeiros corredores identificam como sendo "o bloqueio mental" está a acontecer-me. Lá está; o sofá. Hoje com manta e tudo.


Tenho que calçar os ténis e ir para o asfalto, mas o sofá tem uma cola forte e o jogo só agora vai começar.


Será sacrilégio falhar o plano de treino por opção. Mas está-se tão bem cá dentro...


Só que lá fora está óptimo para uns quilómetros à séria.


Temos aqui duas hipóteses. Ou esta crónica continua mais logo ou acaba aqui.


Daqui a hora e meia se verá.


Espero não me arrepender!.

27.09.14

A MNHA PRIMEIRA MEIA MARATONA OU UM DIA DE CÃO


The Cat Runner


Diz-me a intuição que os momentos de tranquilidade não devem ser interrompidos de forma brusca.


O que não entendo é porque é que não sigo a minha intuição quando a devo seguir.


Ela também me diz que a nove dias do grande dia é agora que os frutos começam a ser colhidos.


Mentalmente existe um plano para um objectivo e, os quilómetros já corridos, garantem que tudo se conjuga. Há uma base construída.


Ter deixado de fumar - já passaram vinte e sete horas - foi uma óptima ideia. Irei fazer a meia-maratona com dez dias de "não fumador".


Acredito que irei notar a diferença. Não é a primeira vez que deixo de fumar, é só a primeira vez que deixo de fumar a uma semana de uma prova, quando tudo estava a rolar na perfeição.


Como não foi a primeira vez devia ter tido a capacidade de perceber que não ia ser fácil. Mas, hoje foi muito difícil.


Fiz o treino no ginásio, como planeado no programa de quatro semanas de preparação.


Não correu mal. Dupliquei os exercícios.


Pior foi durante a manhã.


Uma anormal aceleração mental. No mínimo.


Pensei que com o treino acalmasse e acalmei.


Comi, ao longo do dia, uma caixa de pastilhas inteira. Bebi água quase tanta quanto a que caiu há dias em Lisboa.


O fim de dia - início de noite - parecia estar a correr bem, para quem ainda há poucas horas ia à "sala de fumo" de meia em meia hora.


Nada mais errado!


Senti - inconscientemente - uma leve descompensação.


Voltei a falar muito. Agitado. Levantei-me uma meia-dúzia de vezes para ir...fumar (sentei-me na hora).


Nada do que descrevo foi abrupto. A quebra do tal estado de tranquilidade, de serenidade, isso foi abrupto. O processo não.


Ele foi sendo gradual. Retirou-me concentração.


Em dois momentos errei. Erro muito, mas é das piores coisas que me posso fazer. Errei num improviso - falhou-me a memória fruto da falta de capacidade em me concentrar - e num outro momento, inconscientemente, fugi da linha que devo manter.


O resto do tempo foi gerido com as técnicas e experiência. Não foi brilhante. Fez-se.


Foi tudo muito rápido. Não sei se alguém reparou. Eu reparei.


À vinda para casa, no momento kit-kat do dia, pensei sobre o que me estava a acontecer.


Chegado a casa continuei a pensar.


Há um antes, um agora e um depois.


Antes sentia-me óptimo, cada vez melhor.


Agora - hoje - entrei num quadro de alterações comportamentais, que, com o entrar da noite, foram saindo, gradualmente, tal como começaram.


Diziam-me que isto não é nada. Amanhã é pior. Um calvário.


Em boa hora estou de folga este fim de semana. Hoje foi um dia duro.


Amanhã não será, tenho a certeza. É que não é a primeira vez que deixo de fumar.


O depois; o depois é agora, este momento, daqui a pouco, quando acordar, o sábado. O domingo. A semana. A meia-maratona.


Passado o antes e o agora é o depois que me preocupa. Começo a ter dores num calcanhar. Já tive uma vez. No outro. Vai assim mesmo.


Diz o povo: um dia não são dias!


O povo tem sempre razão.


Hoje foi um dia mau, extraordinário e justificado. Acontece a todos.


Digamos que o céu estava limpo e de repente chegou uma tempestade que nem o IMA conseguiu antecipar.


Mas, o povo também diz que a seguir a uma tempestade vem sempre a bonança. É a lei natural das coisas e do tempo.


Foi só um dia mau.


Certo que foi o dia em que tudo mudou.


Digamos que foi um intervalo no jogo.


Agora vem a segunda parte.


A melhor parte.


Foi só um dia mau em troca de dias melhores.


É a lei natural das coisas e do tempo.


Tic-tac-tic-tac-tic-tac!