Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

11.09.14

CERTEZAS EM CONTRA-RELÓGIO 9/11


The Cat Runner


Não gosto nada destas coisas.


Tenho que escrever este texto rápido. Daqui a pouco é meia noite e ele deixará de fazer sentido. Sim, na onda da Gata Borralheira e sapatinhos de cristal e coisas assim.


Só me queixo logo a abrir porque correr contra o tempo remete para um grau de dificuldade que não aprecio lá muito.


Escrevo sempre rápido. Leio rápido. Tiro pedaços de prazer. Por opção. Quando quero. Assim não gosto.


Quando a opção é minha não me detenho.


Houve um dia em que me detive. Houve!


Houve dias assim.


Foi naquele dia que "nenhum dia o apagará da memória do tempo" (quem foi a NYC já deve ter visto o mural com esta frase, eu nunca lá fui e já vi).


Naquele tempo, treze anos lá para trás, naquele tempo havia um programa de televisão aos sábados de manhã que eu costumava apresentar.


Naquele tempo, treze anos lá atrás, naquele tempo eu trabalhava aos fins de semana. Como neste tempo. Treze anos.


O treze é o meu número fetiche, nasci a treze, no quarto cento e treze, e diz o mito urbano - aqui já coloco reticências - às treze e qualquer coisa.


Ao contrário do comum mortal eu folgo fora de horas, eu trabalho sem horas, mas folgo. Folgo, é verdade, em dias que não lembram a ninguém. Não cria rotina e dá para fazer umas coisas, não me queixo.


Eu gosto muito de dormir. Bem sei que quando morrer tenho tempo, mas gosto.


Descanso muito. (Aceita-se a gargalhada). Faço pela vida.


Há treze anos - só ver as horas; tenho treze minutos até ser dia doze senão deixa de fazer sentido, o treze é o meu número da sorte, eu já tinha dito - depois de dormir até tarde, fui como habitualmente "dar uma volta" ao centro comercial. Aquilo era um centro comercial gigantesco. Um quarteirão inteiro. Hoje não passa de um quarteirão vazio de tudo. Mas gigantesco.


É incrível, todos nos lembramos do que fizemos, onde estivemos, há treze anos.


Há treze anos, no dia onze de setembro.


É incrível, nenhum de nós se lembra do que fez, onde esteve, no dia onze de setembro dos anos que se seguiram.


Mas, no 9/11 vem-nos à memória detalhes tão íntimos que quase conseguimos descrever a roupa que usámos nesse dia.


Da roupa, confesso, não me recordo, mas ainda tenho os


"All Star "encarnados.


Quando o gigantesco centro comercial ainda tinha vida, a loja que eu mais gostava de ver, do lado de fora, era a loja da Singer.


Não me recordo da roupa que vestia, é verdade, difícil recordar todos os detalhes. Nunca a montra da loja da Singer.


Gostava de percorrer todas as televisões que enchiam a montra. Gostava de passear os olhos pelos ecrãs e ver do lado de fora.


Como que a pensar: isto é giro visto do lado de fora.


Era quase um ritual, nas minhas folgas.


Também era normal almoçar em Lisboa com o meu filho e com o tio emprestado.


Treze anos depois o meu filho estuda no liceu e o tio emprestado já tem dois filhos.


Nesse exacto momento as imagens do primeiro avião.


Uma vez, duas, três, mil, milhões, biliões, ecos, caras, pó, última hora, atentado. Uma vez, duas, três, mil, milhões, biliões!


Liguei para a TVI. É aqui que entra aquela parte que já ouviram falar, do jornalista vinte e quatro horas por dia.


Também era eu próprio, pasmado, um homem pasmado, quem estava a ligar.


Alguém com um canal directo com as notícias e a aproveitar-se disso. As notícias movem o mundo e o Homem.


Pouco sabiam.


Um atentado terrorista, um erro humano...e as notícias.


Corri. Entrei no carro. Liguei o rádio. As notícias. Cheguei a casa. Sentei-me, hoje, acho que no meu sofá azul, há treze anos limitei-me a sentar-me.


O treze atravessa-me. Desculpe, é a terceira vez que o digo.


O segundo avião.


O resto.


O tudo.


O tremor.


O terror.


O zero.


O Ground Zero, de que eu nunca tinha ouvido falar, a Lower Manhattan, onde eu nunca fui, o World Trade Center, onde eu nunca entrei, as Torres, que eu nunca subi. Dizem que tinha centenas de elevadores... 


Sempre quis lá ir.


Gosto muito de elevadores...


Tudo era muito familiar, naqueles instantes que se prolongam nos tempos, até que o tempo seja digno desse privilégio.


Enquanto o mundo discutia os bons e os maus, enquanto os analistas criavam cenários possíveis, enquanto poucos, muito poucos se iam dando conta de como a Humanidade é apenas uma mancha, eu mais não conseguia que olhar. Ver.


Apenas.


Só depois consegui ouvir.


Sem legendas.


Parece que esse dia não existiu, embora ele se prolongue nos tempos, até que o tempo seja digno desse privilégio.


Parece que um qualquer realizador norte-americano decidiu fazer um brutal filme sobre a ameaça negra. A Besta Negra e os Defensores do Mundo.


Eram pessoas que caíam lá de cima. Bonecos com vida, numa curta viagem para a morte. Alucinante. Eram pessoas encurraladas com a morte. Como nos filmes mais bem conseguidos.


É difícil esquecer.


Eu não esqueço os afectos. É isso que somos. Afectos. Longe ou perto.


Ainda hoje não me detenho nos bons e nos maus. Nem nos mortos nem nos vivos.


Ainda hoje parece que estou a assistir a um Truman Show, mas com mais efeitos especiais. Interminável. Assim será. "O" onze de setembro...


Não me recordo de todos os outros onze de setembro que se seguiram.


Até hoje. Recordo-me do onze de setembro de há treze anos - ainda é onze de setembro, ainda não é meia noite. E recordo-me do onze de setembro. Ponto.


Há filmes que nos marcam para sempre, nós somos os actores e somos os espectadores.


Há dias que nos marcam para sempre, num instante, num momento.


Há pessoas que nos marcam para sempre, belo, desafio.


Há feridas que nos marcam para sempre, amor, dor.


Há certezas que enfrentam incertezas.


Tenho a certeza que de hoje a um ano vou lembrar-me do onze de setembro de há treze anos.


Tenho a certeza que de hoje a um ano vou lembrar-me do dia de hoje.


Vou lembrar-me que almocei pizza com frutos do mar.


Talvez não me lembre da roupa que vesti, mas da pizza vou lembrar-me.


Tenho a certeza.


Absoluta!

11.09.14

A MINHA VIDA É TORTURA


The Cat Runner


Estou metido num sério problema.


"Nem para mim sou bom".


Devia ter sido detido quando decidi o que decidi.


Decidi ir ao encontro de quem gosta de ler os devaneios que escrevo, resultado de verdadeiros bloqueios psicológicos.


Uma espécie de chá psicoactivo.


Há quem goste destes textos, fruto de efeitos psicadélicos provocados sabe-se lá por quê. Fazer o quê...


Acho que isso é considerado completamente normal, gostar de coisas estranhas, mas avancemos na narrativa.


Basicamente, decidi brincar com algumas pessoas na minha página do Facebook. Pedi-lhes para sugerirem temas, que eu escrevia sobre eles.


Assim, libertava-me de mim e passava a ser quase eles.


Mas, era uma brincadeira. Eu raramente levo o Facebook muito a sério.


Mas isso sou eu que tenho manias estranhas.


Levaram a sério e agora estou metido num sério problema.


Depilação masculina. Escrever um texto sobre este "não-tema".


É por aqui que vamos. Sim, se parar de rir, sorrir, vá, era agradável, sinal que ia continuar a prestar atenção à prosa. Bom...


A depilação masculina remete-me sempre para a Idade das Trevas, para a Santa Inquisição.


Eu acho - confesso que não pesquisei, estes textos são de escrita corrida, saem, não há espaço para grandes pesquisas, excepção a uma palavra, uma frase, pouco mais e não gosto de acordos ortográficos, não há cá disso - que homem que se depila já foi sujeito a sessões de tortura em vidas anteriores. Ele sabe ao que vai.


Sim senhor; já vivemos outras vidas ou achava que só havia esta vida (não sei se reparou no detalhe de o (a) tratar por você)?


É fácil fazer a analogia entre a depilação masculina e a tortura que a Inquisição tão bem aplicava. Daí aquela situação das vidas passadas. Eu sei que entendeu, apenas reforcei a ideia, nada de ressentimentos!


Bom, antes que deitem as garras de fora, minhas senhoras, de-pi-la-ção mas-cu-li-na. Apanharam?


Nem pensem. Não vão deixar de ler - já falta pouco para acabar - porque este assunto também vos diz respeito. Somos machistas neste aspecto e só neste. Neste texto, mas ele também vos diz respeito, mais que não seja porque algumas de vós também fazem a depilação.


A razão é simples, redutora, clarinha: nós, homens, nunca fomos mulheres. Mais que justificado o facto de não termos termo de comparação, ao contrário da depilação masculina que sempre podemos comparar com a tortura da Inquisição.


Vá, continue(m) a ler que este texto que, em boa verdade, também tem o seu toque feminino. Isso agora...


Posto isto: homem que é homem não se depila, homem que é homem muda de pele com cera quente - podia ser azeite a ferver.


Quem nunca se depilou que atire a primeira pedra.


Serve também para os Machos-Alfa.


Sim, meus caros, fazer a barba ( ou desfazer ) é depilar. É, garanto. Portanto, este texto - que está mesmo mesmo a acabar - pode continuar. Estamos no mesmo comprimento de onda.


Eu costumo retirar alguns pelos de algumas zonas do corpo em função de determinados objectivos.


Se vou de férias. Por causa da corrida - muito mais higiénico, giro e sexy. porque acho que me dá um ar mais saudável, mais limpinho. Porque sim.


Ainda assim, passo temporadas em que me lembro de Tony Ramos na novela da Escrava Isaura, acho que era essa, vi uma série delas, era puto, lembro-me mal.


Há temporadas em que a Amazónia não passa de um pequeno jardim comparado com a minha vegetação negra, seja em espessura seja em área abrangida.


(Que exagero, não é  nada disto,  exagero, negetaça~parado com a minha vegetaçaa Escrava Isaura, acho que era essa, vi uma spsicolnada disto, mas ficou a imagem, não ficou?)


Muito bem, há quase dois meses decidi fazer a depilação com cera quente.


Foi engraçado, até meti uma foto no Facebook.


Que pedante, eu sei, eu gosto.


Quase dois meses depois ainda sinto o quente da cera, a tocar no muito quente, na pele, no peito, nas pernas, nas costas, nos braços, a espátula em aço inox (acho eu, se não é fica assim que dá jeito ao texto) que parecia mais uma espada. Não sabia se cortava se queimava. Apenas lhe via o brilho enquanto não cerrava os olhos de dor e, que estranho, algum prazer à mistura.


A cara dela. As vestes longas. A marquesa. As luzes.


Jamais esquecerei.


A espátula toca-me a zona da barriga, sobe até ao pescoço, espaço a espaço. Uma, duas e uma terceira vez. Quente. Fecho as mãos. A cara fica tensa. Olho fixamente.


Entre o peito é horrível.


A tortura atinge o ponto mais sádico, até ao momento, no momento em que ela, com luvas a lembrar pelica, pega na ponta de um pedaço de cera, mesmo numa ponta, entretanto fria, e puxa, de baixo para cima. Num repente, e outra vez e uma outra. E sorri!


A cada puxão os meus olhos revoltam-se e reviram-se. Chegam a ver o cérebro, nesse rodar louco. Não esqueça que isto é uma espécie de chá psicoactivo. Eu avisei.


São sensações que nenhum ser humano esquecerá, depois de as sentir (redundância assumida). Horrível!


Na masmorra senti-me um masoquista puro. Dor e prazer. A pele arrancada. O quente. O frio. Coragem - não venham com argumentos.


Vem isto a propósito da Inquisição. Da Santa Inquisição.


Passados todos estes séculos já alguém pensou que naquele tempo houve carrascos enganados em toda a linha?


E não resulta, uma vez mais, de nenhuma pesquisa. Diz-me a intuição.


Sei lá eu se a própria Joana d´Arc terá alguma vez reflectido nisto!


Então, imagine que um masoquista puro, como eu fui naquela masmorra branca, era detido e torturado - não vem ao caso se depois era queimado ou enforcado, raramente saiam de lá com vida e eu saí vivinho -.


Havia algo melhor que uma masmorra escura e carrascos maus - eu conheci um Carrasco bom, era o senhor Artur Carrasco, tinha uma mercearia na rua da minha avó - para um masoquista, puro, tem que ser puro, que uma tortura, com pés e cabeça e porque não com bracinhos e mãozinhas. Tudo misturado.


Não será isto o paraíso!


É por isso que esta história da depilação masculina me faz acreditar, ainda mais, que um dia, um dia longe no tempo, eu fui prisioneiro nas mãos da Santa Inquisição.


Agora sim, acredito que em outra vida fui torturado e só agora é que estou a pagar pelos males dos meus pecados.


Vivemos tempos de Pecado, tempos de Inquisição. Vivemos sim. Toda a vida. Uma vida inteira. Do princípio até ao fim.


Um dia conto o segredo. Sou um gajo de afectos e fiquei afectado com aquilo que me aconteceu.


Ainda sinto a dor...


O prazer!


Na próxima vez podiam sugerir temas menos dolorosos.


Bem sei que depois fica bonito, mas é doloroso.


Ninguém gosta de ser torturado. Depilado, perdão!