08.09.14
O Purgatório existe!
The Cat Runner
Setembro é o purgatório. Ele nem é carne nem é peixe e chega até - às vezes - a ser prejudicial para a saúde!
Ele está entre o verão e o inverno, entre a primavera e o outono. Ali, no meio, a ver tudo, em trânsito.
Setembro provoca mudanças. Não pede sequer licença! Setembro é estranho!
Não se decidiu nunca, não será agora que vai decidir!
Ou por outra, setembro há muito que se terá decidido; ele tomou a decisão, desde o primeiro momento, mas nunca a conseguiu foi colocar em prática, por isso é um mês ao qual se deve dar toda a importância, mas nunca fiando...
Dizia, setembro quando se decidiu, sem comunicar a decisão a ninguém: gosto muito do sol, gosto muito da chuva, gosto muito do calor, gosto muito do frio, não gosto de andar agasalhado e ao mesmo tempo ter frio, nem de andar em tronco nu e continuar com calor, mas se é assim que tem que ser assim será!
Setembro é o purgatório, com tudo o que de bom e de mau ele encerra.
Setembro decidiu ser aquele mês que muda a vida das pessoas sem lhes dar cavaco. Limita-se a ser um factor de mudança. Unilateral!
E é quando chega setembro, este estranho setembro das vidas de cada um, que o céu e inferno se unem para o demover. Mas ele tem ideias fixas. É teimoso!
Às vezes perverso, tão perverso que se limita a observar e a processar aquilo que observa!
Ali, no meio, ele olha para a esquerda.
Neste lado está quente, há luxúria, há desejo, há gente que pensa pouco e vive muito, há um senhor de encarnado que dá as boas vindas e deseja uma boa estadia a quem chega!
Espreitando o inferno de setembro apetece entrar. Ficar. Porque não participar...porque não o inferno?!
Ali, no meio, ele olha para a direita.
Neste lado está ameno, tudo muito mais calmo, mais decidido, mais ordenado, mais azul, mais branco, como quando os aviões cruzam as nuvens. Porque não o céu?!
Num lado está o inferno da vida. No outro o Paraíso. No meio está setembro a fazer o papel de purgatório.
Ele é uma sala de espera.
Se for verdade o que contam sobre o céu e o inferno.
Sobre isso, na verdade, não meto as mãos no fogo. Em nenhum fogo, nem no apelativo fogo do inferno. Livra!
Nesta zona da vida que fica para lá da vida, há gente que cruza olhares interrogativos, gente que anda em círculos, em si mesmo, gente que tem que tomar decisões. Por aqui ou por ali?
Um lado ou o outro. O céu ou o inferno. A paz ou o prazer.
E, andam ali, em círculos como que a aguardar um sinal divino. Uma campainha que toque, um toque que os guie e os conduza até um dos dois lados. O mais certo. Mas, serão as certezas absolutas?!
Não creio!
Setembro não é o mês que divide o ano. Bem feitas as contas é junho o detentor desse feito, mas é setembro que nos senta na cadeira da reflexão.
As folhas vão começar a cair das árvores. Os pássaros vão deixar de se escutar. O sol resolve ser tímido, até desaparecer. Os dias curtos, como o tempo que temos.
Setembro prende-nos no meio dos dois lados.
Compete-nos decidir se queremos receber outubro ou se rasgamos o calendário.
Compete-nos decidir se entramos num lado ou no outro. Se saímos do purgatório.
Ou então, podemos sempre trocar as voltas ao setembro das nossas vidas.
É ir a loja dos chineses, comprar um anjo e um diabo em pvc, colocá-los um em cada ombro e escutá-los quando precisarmos de desabafar sobre a nossa indecisão.
Aviso que vai ser pior a emenda que o soneto.
Perceber qual o setembro que queremos para nós.
No ombro direito o diabo vai dizer: anda, aqui há festa. Aqui esta-se bem, aqui cumprimos os nossos desejos mais profundos!
No ombro esquerdo o anjo vai dizer, anda aqui terás o paraíso. Aqui tudo flui com tranquilidade, aqui a escolha é assumida e é assim que deve ser!
Eis quando sai a pergunta: e não dá para ter os dois?
Setembro responde: dar até dava, mas o anjo e o diabo são da loja do chinês. Não garanto, por isso, a qualidade.
Sem grandes margens fica-se nostálgico. Perdido até!
Eles não sabem, mas já lá estivemos várias vezes. Visitas tipo amigo-surpresa. Visitas rápidas ao céu e ao inferno.
O inferno não é nada mau, mas o céu garante uma vida com zero sobressaltos.
O céu e o inferno, tal como setembro, não cuidam sequer de se entender. Não têm como! Passam a vida nisto!
Estão desfasados no tempo, no espaço, na ordem das coisas!
Que se acabe com setembro mesmo que setembro insista em não ir embora! Há decisões que nem setembro consegue travar!
Que um novo mês nos leve para um dos lados.
Setembro não quer ser o céu nem o inferno. Ele gosta de ser setembro. Assim, tal e qual! É obstinado!
Embora saiba que no purgatório tudo é transitório e por isso tomar decisões custa. Tomem-se. Ponto!
Como se assim fosse mais fácil!
Pelo menos parece e o mundo também vive das aparências!
O céu e o inferno vivem lado a lado com setembro. Como o verão e o outono, mais a primavera e o inverno.
Juntam-se todos e esquecem quem precisa de decidir para onde ir quando terminar setembro.
São egoístas, as vezes! Tem boa fé, mas pensam que há sempre um caminho. Quem quiser que decida! E estão-se nas tintas. Todos juntos.
É que ao calendário ninguém escapa. Há sempre um caminho. Setembro acha que é o único. É apenas um caminho!
E, ele sabe destas coisas do purgatório! Tem a mania que sabe. Sabe nada!
Há setembros muito estranhos!
Acho que outubro é um tudo nada mais simpático.
Vou convidá-lo para um café, pode ser que vá com a minha cara e eu tenha mais sorte com o tempo. Sempre o tempo. Tempo longo que faz a história de setembro. Tempo que foge quando ele quer dizer que não é bem como o pintam!
Não gosto de chuva. Em setembro!
Simplesmente, não gosto de chuva.
Menos ainda do purgatório. Já por lá andei a ver as modas e não gostei.
Acho que vou escolher o inferno, sempre há mais festas e a gente diverte-se imenso. Tem até miniaturas, salgadinhos e coca-cola e Gin. Com muito gelo.
O inferno tem tudo aquilo que o diabo nos ensinou!
O networking depois fará o resto.
O paraíso, que estava mesmo aqui ao lado olhou, e do alto da sua superioridade, que a paz e a tranquilidade lhe conferem, olhou mas não quis saber. Também tem maus hábitos, afinal.
O inferno também deixou ao critério de cada um a decisão de escolher o caminho e o destino. O inferno tem mais hábitos, mas são públicos!
Não é como o céu que vive em indecisões sobre a quem abre as portas e manda entrar.
É esse o seu problema, o céu é indeciso e não sei se não tem o secreto desejo de ser um bocadinho de inferno.
No purgatório é que não.
Nem faz frio nem faz calor. É uma autêntica pasmaceira.
Para isso já bastam os outros meses da vida!
As escolhas somos nós quem as faz. Nenhum setembro decide nada sozinho, embora ele tenha essa mania.
Eu já lhe o disse, mas não adianta.
Setembro é obstinado.
Só o tempo o poderá ajudar.
Mal chegue outubro. O céu ou o inferno.
Ninguém gosta destas cenas dos purgatórios. Até porque purgatório é um nome feio de dizer. Céu ou inferno não!
Custa mais, mas diz-se com mais facilidade. Até nem soam mal.
O que eles não sabem é que são apenas os nossos dias!
Não passam disso e isso é a vida.
Acho que nunca se deram conta disso!
Não ser agora, na mudança da estação, que vão perceber.
É que as folhas caem das árvores a partir de setembro, mas voltam a nascer ainda mais bonitas quando chega a primavera.
Aguardemos que o legislador mande acabar com setembro.
Depois, tal como o ciclo da vida, observemos as mudanças.
Até que chegue um novo setembro e tudo volte ao princípio.
Em cada fim, na verdade, há um começo!
Na vida também!