195 METROS "O FIM" - O SENTIDO DA VIDA - (DIA 100 DA MARATONA)
Chegámos ao fim.
Cumpriu-se o sonho.
A missão foi concluída.
Nunca deixei nada por fazer, nesta vida, nem por dizer, nem por pensar, não ia ser agora.
A viagem foi marcante.
Cravou-se-me na pele, na alma e no coração, naquilo que é o mais íntimo e profundo, em mim.
Desgastante.
Transformadora.
Espiritual, física, emocional, emotiva, feliz, bela, para além dos limites de tudo aquilo que eu alguma vez poderia pensar.
Um poema.
É isso que isto tudo foi, um poema bonito.
Um longo poema, escrito por mim mas, sobretudo, escrito por tanta gente, toda esta gente que, à sua maneira me acompanhou, desde o primeiro momento em que tornei pública esta insana aventura, até este momento em que, finalmente, cortei a meta. Esta meta, hoje!
Porque tudo isto foi um bocado insano. E, ainda bem.
Foi ali, a 195 metros da meta, junto às Portas de Brandeburgo que tudo passou a fazer sentido, na minha vida, o amor, a amizade, a coragem, a solidariedade, o respeito, o afecto, os abraços, os sorrisos, as lágrimas, as dores, as dores desapareceram naquele instante.
Tudo passou a fazer sentido.
O sentido da vida.
Tudo aquilo que eu fui à procura e encontrei.
Estes últimos metros são felizes, são metros em que agradeço, passo-a-passo.
As palmas.
Escuto-as, ainda.
As bandeiras de Portugal que carregávamos nas mãos, ao pescoço, à cintura, que a Carla Fernandes, como combinado, nos entregou, em mão, enquanto corriamos, como se fossemos os campeões do universo e, sabem, naqueles metros finais foi isso mesmo que fomos, os campeões do universo.
Passaram seis meses, desde esse domingo mágico que eu não quero repetir.
Não quero repetir, não que não conseguisse correr outra maratona, não quero repetir porque mais nenhuma maratona que eu corra será o que esta foi.
Um poema.
Ali mesmo, no meio da multidão, corria a chorar, direito a ti, com a Alice e o Francisco, cada um a meu lado, os meus “wingmen”. Acho que até eles iam a chorar de alegria.
Porque um homem também chora!
Estávamos todos altamente contagiados.
A tua preocupação acabava ali.
Eu sei, depois de passadas as quatro horas e meia, o tempo que eu queria cumprir, começaste a preocupar-te, talvez, como nunca, porque sabes que eu vergo, mas não parto.
Mas vias o estado em que algumas pessoas iam chegando, arrastando-se, tentando tudo, no limite e tu, sem saberes nada de mim.
Passava o tempo, os segundos, as horas e eu sentia que a tua preocupação comigo, a preocupação de uma vida e de uma bela história de amor ia aumentando, sem saberes o que estava a acontecer.
Pensei tanto nisso, na tua preocupação, quando passámos o quilómetro 41 e entrámos no 42.
Só que aí eu já ia certo que te iria encontrar e abraçar-te.
Mas, também sabes que eu gosto de fazer surpresas e gosto de sorrir quando surpreendo alguém.
Foi a primeira vez que não me lembrei de sorrir.
Tinha sofrido tanto, que me esqueci.
Só consegui chorar, de alegria, quando te vi, no meio daquela multidão imensa.
E, ganhei forças, gigantes, brutais, para correr até ti.
Nunca, nestes mais de 30 anos nos tínhamos abraçado como naquele fim de manhã de domingo.
Sinto os teus braços à volta do meu pescoço, o meu suor colado no teu corpo, as tuas lágrimas e a tua alegria.
A tua tranquilidade.
A tranquilidade que me transmites durante este nosso poema, que tem sido a nossa história, desde miúdos.
Tinha acabado a tua preocupação.
Como eu te amo!
Só chorei uma vez mais depois de ter cortado a meta.
Foi dias depois, quando visitei o teu Instagram.
Não faz parte de ti expôr a tua vida privada, acho até que nunca tornaste público qualquer afecto, ou se o fizeste foi discretamente, para que a multidão não se apercebesse.
Até isso admiro em ti. Admiro tudo em ti.
Tu és o meu poema.
Fizeste-o, pela primeira e única vez por causa da minha maratona, porque sabes o que ela significou, para mim, para ti, para nós.
Foi a tua tranquilidade, o teu apoio, o teu colo, a verdade com que acreditaste em mim que me fez ir e conseguir.
Escreveste no teu Instagram, para que toda a gente pudesse ler, na legenda da fotografia: “ Tu dizes que foi neste momento que tudo valeu a pena…
E eu acredito”.
E, senti, genuinamente, o teu orgulho em mim.
Foi nesse momento que voltei a chorar, desta vez, sozinho, outra vez, de felicidade.
Foi, sim, foi nesta fracção de tempo que tudo valeu a pena.
Foi aqui que descobri o sentido da vida.
Um dia hei-de tirar te uma foto com a minha medalha, porque ela é tua, é de muita gente, mas é tua, mais do que de alguém.
Muito mais tua que minha.
Nela está representada toda a nossa vida.
Era isso, era isso que eu queria mostrar-te, provar-te, a nossa vida, ali, naquele momento, naquela medalha.
Um poema.
Acabámos a maratona.
Cortei a meta.
(Dedico este texto e esta música a todos(as) vocês)
( Agora chegou a parte dos agradecimentos. Peço que a leia. São nomes.
São os nomes de todos aqueles que me levaram pelas ruas de Berlim, naquela que foi a aventura mais brutal da minha própria existência.
Sem eles até podia ter acontecido, mas nunca tería sido o que foi, um poema eterno)
Obrigado, meu querido, Luis Grilo, meu querido João Paulo Vargas.
Tenho tanta pena que não tenham estado aqui, para terem visto esta aventura.
Sei que, onde estão, puxaram por mim, sorriram e sofreram comigo.
Sei que em abraçaram.
Obrigado.
Obrigado,
Carla Moita.
Maria Quaresma
Rodrigo Quaresma.
Adelaide Quaresma.
Helder Quaresma.
Ricardo Quaresma.
José Carlos Santos.
Pedro Mimoso.
José Fortes.
Rui Dias.
Petra Sauer.
Ricardo Areias.
Jorge Quaresma.
Stephane Jorge.
Clara Oliveira.
Sandrina Cardoso.
Diogo Duarte.
Carla Fernandes.
Carlos Samora.
Pedro Samora.
José Duarte.
Alexandre Perleques
Lara Esfola.
Ricardo Silva.
Pedro Pato.
Ana Paula Santos.
João Campos.
Alfredo Augusto Costa.
Paulo Vieira da Silva.
Verónica Ferreira.
Hamilton Guedes.
José Massuça.
Carlos Ferreira Alves.
Jorge Manuel Mendes.
Henrique Reck Farias.
Sílvia Peixoto.
Carla Martinho.
Carlos Cardoso.
Dora Dias.
Art Torres.
Bea Torres.
Inês Amado.
Obrigado.
Obrigado, a todos aqueles que treinaram comigo.
Obrigado, a todos - e, por incrível que pareça foram centenas e centenas - que durante 9 meses e um domingo inteiro me mostraram o seu apoio, a sua energia e a sua confiança, no meu facebook, no meu instaram e no meu blog.
A todos os que telefonaram durante a maratona.
Todos aqueles que eu levei nas asas das minhas sapatilhas.
São todos vocês.
Obrigado, também àqueles que a minha memória não permite recordar os seus nomes, obrigado e desculpem-me, por isso.
E, por fim, aqueles que me levaram do princípio até aqui, os meus dois “wingmen”,
Francisco Cunha Cerca e Alice Vilaça.
Agora, sim, posso dizer, bem alto:
Eu sou um Maratonista.
FIM