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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

09.05.15

LET THE GAMES BEGIN


The Cat Runner

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Estou em estágio.

No exacto momento em que escrevo estas singelas e humildes linhas, estou em estágio.

Hoje, pela manhã, vou fazer uma coisa que já não faço há mais de três anos. Cheguei há conclusão que não o faço há muito mais tempo.

Levo um bocado a peito tudo o que faço.

E, faço como os profissionais.

Ou quase, não exageremos.

Hoje, pela manhã, vou fazer uma coisa que me está a deixar com borboletas na barriga.

Já não me lembrava dessa sensação boa e ansiosa, ao mesmo tempo.

Mas é assim que me sinto.

Estou em estágio.

Alguém com menos cartas no baralho do que eu decidiu convidar-me para fazer parte da equipa de futebol de 7 da TVI que se vai estrear na Media Cup, no Estádio Universitário, às 9 da manhã.

A Media Cup é um campeonato composto por equipas que representam os media portugueses.

Um campeonato feito segundo os padrões e regras dos campeonatos oficiais.

É uma coisa a sério.

Uma organização ao nível das organizações profissionais.

Mas, não é por isso que estou ansioso. É por isso que estou com a barriga cheia de borboletas.

Estou ansioso porque não sei qual vai ser o resultado final e não falo do jogo.

Há mais de três anos decidi deixar de jogar futebol.

Nunca fui grande jogador.

Joguei, como todos os putos da minha geração, em clubes do distritais. Joguei uma época no Sacavenense, na segunda divisão, mas nunca fui um jogador por aí além, se não o jornalismo não era o meu ofício e tinha uma vida muito a cima da média.

Confesso que quando o Bruno me convidou para jogar pela TVI e eu disse que sim, estava longe de pensar que ia ser o gajo mais velho da equipa, o que corre mais quilómetros e, provavelmente, o gajo com menos toque de bola. Isso não me passou pela cabeça.

Desde que o convite me foi feito, há um mês, mais ou menos, até ao momento em que escrevo este texto, treinámos uma vez. Uma única vez.

Se calhar, só com metade da equipa.

Foi só um aparte.

Fiz esse treino.

Desilusão. É por isso que temo o resultado final.

Treinei bem. Fiz quatro assistências. Não foi por aí.

Quando o treino acabou não fiquei com aquela sensação boa. Não me entusiasmei. Foi por aí.

Isso levou-me a reflectir. Não demorei muito a encontrar a resposta.

Durante grande parte da minha vida amei o futebol. Assim mesmo.

Joguei futebol federado, trabalhei com o futebol durante 15 anos - de vez em quando, raramente, faço um jogo na Playstation -, joguei com os amigos, até há três anos.

Lia livros sobre futebol, via programas internacionais, as grandes competições, falava a sério e a brincar sobre futebol.

Deixei tudo isso.

Foi pouco antes de começar a correr.

O tempo passou.

É público que a corrida transformou-se numa fatia de cada um dos meus dias. É a correr que me sinto vivo, me sinto feliz, me sinto bem. Vivo.

Nestes últimos anos, porque deixei de trabalhar no desporto há uns cinco anos, vi jogos de futebol ao vivo, na televisão, mas deixei de ter interesse em falar sobre o futebol. Aquilo que eu tanto gostei estava a ficar cada vez mais longe de mim.

Bastava-me ver.

Fui um amor que me foi fugindo, lentamente.

Vivi-o, amei-o, tratei-o (sempre) bem e saí. Pelo meu próprio pé. Para fazer outras coisas, entre elas começar a ver futebol, como qualquer pessoa. Mais pelos meus filhos até.

Há uns meses vivi uma situação, também pública, que me obrigou a pensar determinada forma de estar, pessoal e profissionalmente.

Um episódio que me marcou, mas que na verdade nada teve a ver com futebol.

Percebi, sim percebi, as reacções.

Respeitei-as, até porque muitas delas vinham de pessoas que seguem o meu trabalho, como me confessaram.

 

Nunca assumi a situação como um erro porque fui eu quem a viveu, sou eu quem me conhece e à minha honestidade intlectual e aos meus valores como homem. Assumir como um erro era concordar com o erro.

Um erro não, um momento infeliz, descuidado, infantil.

Restava-me pedir desculpa e recato e foi o que fiz, pedi desculpa e obriguei-me ao recato.

A partir desse dia o futebol morreu.

Perdi o gosto por ver os jogos, por falar sobre o jogo, as tácticas, os jogadores, as equipas e perdi parte daquilo que mais me caracteriza enquanto pessoa, fazer rir os que me rodeiam, os que sabem que sou como pessoa, os valores que defendo, os princípios que sigo. O humor.

Não vi um jogo depois disso.

Minto, vi os jogos, todos, do meu filho.

A equipa dele vai ser campeã amanhã, domingo, a quatro jogos do fim.

O meu filho joga no clube onde eu comecei a jogar.

Ainda bem que, nesse aspecto, tem nada a ver comigo.

Que jogador!

Desapaixonei-me pelo outro futebol, aquele que apaixona o mundo inteiro, mas não por este, que sempre foi o meu futebol, a minha paixão, o clube da minha terra, que este ano já foi campeão também em juniores.

Não é público, para muitas pessoas se calhar nem é entendível.

Acho que foi por isso que tive aquela não sensação depois do treino.

Nem jogar me deu prazer.

Morreu.

Mas, eu disse que sim, que o Bruno podia contar comigo.

Por isso vou jogar, sim senhor.

Por isso estou em estágio.

Já tenho o saco pronto e as borboletas dentro da barriga.

As botas são as do meu filho. Umas Puma, praticamente novas, mas ensinadas, já com uma série de golos nas biqueiras.

Levo um bocado a peito tudo o que faço.

Até mesmo aquilo que a multidão não entende. Eu não estou na multidão, lamento. Nunca estive.

Se fizer um golo não vou festejar.

Mas, uns cinco quilómetros vou correr, de certeza.

Depois, logo se vê quem ganhou.

Não gosto de perder nem a feijões.

O meu clube é o Vilafranquense.

Let the games begin!

 

 

 

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