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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

20.12.15

HATE ME BECAUSE I LIKE IT


The Cat Runner

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Uma coisa é correr dez quilómetros em menos de uma hora, outra coisa é chegar meia hora atrasado à Póvoa de Santa Íria e depois chegar a Lisboa em meia hora, de carro, estacionar a viatura, encontrar a linha de partida e começar a correr às dez e meia.

Às dez estava eu a apanhar o Bruno. Ele já não acreditava ser possível.

Às dez e meia estava com ele na linha de partida.

Milagres acontecem, quem disse que não? (Yeah)

Assim dá mais adrenalina à coisa - confesso que por breves momentos achei que tinha comprometido a estreia do Bruno em corridas oficiais, mas não dei parte fraca, como é óbvio.

Combinei com ele partirmos juntos que depois logo se via o andamento (treinei Muay Thai na véspera e estava, digamos, um tudo nada moído).

Certo é que, como sempre, tudo ficou preparado de véspera, calçoes, camisola "da escola", meias, ténis, luvas sem dedos, muda de roupa e a L-carnitina, que isto agora só vai lá assim.

Acordei duas horas antes e é aqui que cometo sempre o mesmo pecado.

Com tempo suficiente vou-me deixando estar, tudo nas calmas, até que, de repente, já fui. Nem tempo dá para tomar outro café. Tomo sempre um em jejum, mal acordo, eu sei, podia ser pior.

Arrisquei.

Meti gásoleo, bebi mesmo o segundo café e já ia atrasado uns quinze minutos.

Um acidente na entrada da auto-estrada e mais dez minutos de atraso. Bom!

A coisa estava a ficar apertada.

Apanhei o Bruno, voei (não queimei o limite de velocidade, ao domingo de manhã não há trânsito, para que conste) e chegámos a tempo, mesmo.

Estacionei junto à partida e lá fomos.

No fim da corrida todos comentavam os túneis de Entrecampos.

Uma mão cheia deles, subir, descer, subir, descer. Aguenta!

De carro nem se dá por eles, por isso a vantagem jogou a meu favor, não os levei na cabeça, na corrida, ainda assim senti-os nas pernas, adaptei-me e andor. Nunca por lá tinha passado a pé, portanto tanto se me dava, era para correr.

Entrecampos, Avenida da República, Saldanha, voltar até ao viaduto de Entrecampos, fazer o percurso de novo até ao Marquês de Pombal, descer a Avenida da Liberdade, meta nos Restauradores.

Na volta da corrida, junto ao Saldanha, lado-a-lado com o Bruno, com um tempo bacano para os dois, eis que se-me-nos depara um pirilampo ao caminho.

Senhoras e senhores, Mister Faísca. A caminhar.

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Agarrei-lhe a camisola pelo ombro, puxei-o:

"Bruno, o Faísca, mano andar é para meninas, vamos lá correr mas é".

Fizemos uns metros os três, uns duzentos.

Respeitar o esforço do Faísca - que terminou a prova - obrigava, a mim e ao Bruno a continuar a correr, estavamos com um bom tempo, dentro do que definimos. Benditos cinco minutos de tempo "gasto" ao lado do Faísca.

Acontece que, quando a dado momento, a passar (de novo) o ponto de partida, para seguir mais uns sete quilómetros até ao fim dei conta que precisava abrandar para reservar e gerir as forças.

Pensei como ia ser descer a Avenida da Liberdade.

Senti umas reservas e por isso disse ao Bruno para seguir sózinho.

Abstraí-me da corrida e imaginei o aquecimento do treino de Muay Thai.

É meia hora sem parar.

Faltava-me menos do que isso, ia correr bem, no final.

No aquecimento do Muay Thai os gémeos também gritam, portanto!

Portanto, até chegar ao Marquês de Pombal (grande sensação, correr ali) fui encontrando gente conhecida pelo caminho, nunca corri sózinho, ou quando o fiz foi por opção, a Natália, a Ana, a Susana, o senhor que há dois anos cortou a meta comigo na corrida do Benfica, mesmo sem saber o nome dele, no domingo corremos de novo juntos.

Mais uma meia-dúzia que já conheço das corridas, como este senhor que fez uma corrida de dez quilómetros comigo, há dois anos. Voltei a vê-lo em Lisboa.

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O Bruno não o vi mais, a Rita só a vi no fim, vi o Quá e o Rosmaninho e o Ricardo que estavam a trabalhar, vi gente que nunca mais acaba. Assim até distrai da corrida e do esforço, sobretudo.

Por esta altura já corria numa das avenidas mais caras (e poluídas) da Europa.

Lá em baixo, ao fundo, a meta.

De um lado e do outro da avenida, os hotéis de luxo, as lojas de luxo e pessoas. Muitas.

As árvores debruçadas sobre a avenida conferem-lhe um ar de túnel encantado.

Mas não é.

Tem só a ver com o facto de a meta estar vísivel.

Que mais se pode querer, o último quilómetro a descer!

Um quilómetro para tentar justificar e encurtar os cinco minutos de diferença entre o tempo oficial e o tempo da minha app.

A reserva de energia e os ténis novos - sim, eu estreio ténis nas corridas, contra a maioria das opiniões - deram a ajuda que faltava.

Cortei a meta com 58 minutos. Muito?

Muito.

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Experimentem correr dez quilómetros em 58 minutos.

Também nunca os tentei correr em 30 minutos.

Sim, é isso que está a pensar...

A meta.

Lá estava o meu fiel amigo Fernando.

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A Rita, a Ana Filipa, a Cláudia, o Bruno, a Susana, a Joana, o Jorge, o Paulo, o Pedro, a foto, como sempre. Isto também vale por isso.

O omnipresente Fernando, que se levantou às seis da manhã, foi à missa e depois foi esperar-me à meta - nunca tenho ninguém na meta à minha espera, foi a primeira vez, sou um corredor solitário e gosto - já nos acompanhava a todos em direcção ao Metro.

É quando a produtora da TVI Ana Veloso liga para irmos ao estúdio, junto à meta.

Fomos lá, fizemos a nossa parte e fomos apanhar o Metro, com mais uma medalha ao peito.

É aqui que entra a parte mais séria disto.

Nenhuma das medalhas que tenho - e já tenho muitas - me foi oferecida.

Todas elas foram conquistadas. Com mais, com menos tempo, todas elas foram conquistadas, nenhuma foi dada. Nem a ninguém que corre.

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Conquista.

Uma palavra desconhecida de muitas pessoas.

Eu explico porque é que o registo do texto mudou.

Recentemente aderi a vários grupos de corrida, nas redes sociais.

Quero ter uma visão mais abrangente.

É quando percebo que existem pessoas que correm, que sentem deter o direito exclusivo da corrida, só porque sim.

Fui lendo aqui e ali críticas às figuras públicas que correm (e que dão muita visibilidade ao desporto, desta forma, mas isso não lhes importa muito, aos críticos de manga de cava).

Críticas violentas, algumas.

Posso falar sobre este tema porque quem me conhece sabe, e bem, que não visto esse fato.

 Nem entendo o conceito de Figura Pública.

Na verdade até fiz a apologia do desporto, no geral, da corrida e do Muay Thai, no detalhe, porque fui falar à televisão.

Crime, disse eu!

Vou às provas porque aprendi a gostar das provas, do ambiente, das pessoas, tiro fotos porque gosto de ter as minhas memórias e de mostrar algumas delas, vou porque gosto das manhãs de domingo, vou porque gosto do que sinto quando vou, vou porque gosto de correr. 

Acho que é assim com todos os que correm.

As figuras públicas que correm, correm por isto, penso eu, pelo mesmo motivo que correm os senhores donos da corrida. Só que as pessoas conhecem essas figuras. Mas não, isso agora, pessoas conhecidas a correr, ao que isto chegou, pensam eles e dizem-no publicamente.

Errado.

Ninguém é dono da corrida.

De tal modo assim é que eu, não sendo figura pública, no fim, até tiro fotos com as meninas vencedoras.

Do Sporting e do Benfica.

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Parece um bocado fora do nexo chamar nomes às pessoas - a mim não chamaram, lá está, figuras públicas... - só porque gostam de correr.

Não faz sentido criticar quem pode dar mais visibilidade aquilo que os que criticam tanto gostam de fazer.

Sempre ouvi dizer que a corrida era o mais democrático dos desportos.

Bem sei que aquilo dos VIP irrita algumas pessoas, mas não faz sentido. É de correr que se trata, porque as medalhas que essas pessoas conquistam não valem nem mais nem menos que as outras medalhas.

Pensar que alguma coisa é dada de mão beijada é não da valor à medalha que mete ao peito.

Maus fígados.

Uma corridinha, que isso passa.

Neste meio tempo o Faísca cortou a meta, o Bruno foi convidado para escrever o "texto do mês" aqui no blog, porque correu a sua primeira prova e a Sara disse-me que dou montes de erros a escrever.

Se calhar dou!