A MNHA PRIMEIRA MEIA MARATONA OU UM DIA DE CÃO
Diz-me a intuição que os momentos de tranquilidade não devem ser interrompidos de forma brusca.
O que não entendo é porque é que não sigo a minha intuição quando a devo seguir.
Ela também me diz que a nove dias do grande dia é agora que os frutos começam a ser colhidos.
Mentalmente existe um plano para um objectivo e, os quilómetros já corridos, garantem que tudo se conjuga. Há uma base construída.
Ter deixado de fumar - já passaram vinte e sete horas - foi uma óptima ideia. Irei fazer a meia-maratona com dez dias de "não fumador".
Acredito que irei notar a diferença. Não é a primeira vez que deixo de fumar, é só a primeira vez que deixo de fumar a uma semana de uma prova, quando tudo estava a rolar na perfeição.
Como não foi a primeira vez devia ter tido a capacidade de perceber que não ia ser fácil. Mas, hoje foi muito difícil.
Fiz o treino no ginásio, como planeado no programa de quatro semanas de preparação.
Não correu mal. Dupliquei os exercícios.
Pior foi durante a manhã.
Uma anormal aceleração mental. No mínimo.
Pensei que com o treino acalmasse e acalmei.
Comi, ao longo do dia, uma caixa de pastilhas inteira. Bebi água quase tanta quanto a que caiu há dias em Lisboa.
O fim de dia - início de noite - parecia estar a correr bem, para quem ainda há poucas horas ia à "sala de fumo" de meia em meia hora.
Nada mais errado!
Senti - inconscientemente - uma leve descompensação.
Voltei a falar muito. Agitado. Levantei-me uma meia-dúzia de vezes para ir...fumar (sentei-me na hora).
Nada do que descrevo foi abrupto. A quebra do tal estado de tranquilidade, de serenidade, isso foi abrupto. O processo não.
Ele foi sendo gradual. Retirou-me concentração.
Em dois momentos errei. Erro muito, mas é das piores coisas que me posso fazer. Errei num improviso - falhou-me a memória fruto da falta de capacidade em me concentrar - e num outro momento, inconscientemente, fugi da linha que devo manter.
O resto do tempo foi gerido com as técnicas e experiência. Não foi brilhante. Fez-se.
Foi tudo muito rápido. Não sei se alguém reparou. Eu reparei.
À vinda para casa, no momento kit-kat do dia, pensei sobre o que me estava a acontecer.
Chegado a casa continuei a pensar.
Há um antes, um agora e um depois.
Antes sentia-me óptimo, cada vez melhor.
Agora - hoje - entrei num quadro de alterações comportamentais, que, com o entrar da noite, foram saindo, gradualmente, tal como começaram.
Diziam-me que isto não é nada. Amanhã é pior. Um calvário.
Em boa hora estou de folga este fim de semana. Hoje foi um dia duro.
Amanhã não será, tenho a certeza. É que não é a primeira vez que deixo de fumar.
O depois; o depois é agora, este momento, daqui a pouco, quando acordar, o sábado. O domingo. A semana. A meia-maratona.
Passado o antes e o agora é o depois que me preocupa. Começo a ter dores num calcanhar. Já tive uma vez. No outro. Vai assim mesmo.
Diz o povo: um dia não são dias!
O povo tem sempre razão.
Hoje foi um dia mau, extraordinário e justificado. Acontece a todos.
Digamos que o céu estava limpo e de repente chegou uma tempestade que nem o IMA conseguiu antecipar.
Mas, o povo também diz que a seguir a uma tempestade vem sempre a bonança. É a lei natural das coisas e do tempo.
Foi só um dia mau.
Certo que foi o dia em que tudo mudou.
Digamos que foi um intervalo no jogo.
Agora vem a segunda parte.
A melhor parte.
Foi só um dia mau em troca de dias melhores.
É a lei natural das coisas e do tempo.
Tic-tac-tic-tac-tic-tac!