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The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

The Cat Run

Uma cena sobre corrida em geral e running em particular e também sobre a vida que passa a correr. Aqui corre-se. Aqui só não se escreve a correr. Este não era um blog sobre gatos. A culpa é da Alice.

27.01.17

NÃO CORRO HÁ 4 DIAS, CONTANDO COM O DE HOJE


The Cat Runner

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Foto: The Cat

 

 

Aviso prévio:

Este texto deve ser lido como um desabafo, no caso de ser lido, o que eu duvido, creio que nem isso seja útil.

É um desabafo só para comigo, porque quando escrevo desabafo que nem um doido desbragado. Só isso, nem o leia, não vale a pena.

Hoje em dia penso estar na posse de todas as faculdades, que me permitem afirmar que sei o que é ter o diabo no corpo. O Santanás, chamem-me um exorcista e virem-me a cabeça ao contrário, se faz favor.

Tenho andado irritado, quase inquieto, deixei de comer com regularidade, aquela cena das três em três horas, parece que tenho o diabo no corpo, mas também dentro do corpo.

O diabo é frio. De manhã, sobretudo.

Ele prende-me com uma âncora enorme, puxa-me para baixo, tapa-me e eu cedo. Depois, é tarde. 

Tem sido assim todo este santo mês, de horários que, ao contrário do habitual, até me permitem fazer mais coisas que não dormir, ficar na cama, de manhã, porque está frio.

O ano passado não era assim.

Levantava-me, saía para correr.

Há quatro dias, contando com o de hoje, que não corro, que não treino, que não faço nada que não seja dormir, trabalhar, andar nas redes sociais, dormir, voltar a dormir, tudo porque está frio.

(Também vejo Netflix, Youtube e leio, cada vez menos, confesso).

No ano passado, e no ano anterior não era assim.

Este mês fiz dois treinos de Muay Thai, certo que há quase um mês que ando à boleia, sem carro, mas há quatro dias, contando com hoje, que não corro.

A corrida tem sido o meu factor de equilíbrio, ao longo dos últimos quatro anos.

Nos últimos dois anos encontrei o nirvana, ao misturar a corrida com o Muay Thai.

A sensação que tenho é de desconforto, apesar de estar fora de causa uma qualquer desistência da causa (risos).

Desconforto, porque não treino regularmente Muay Thai há quase dois meses, desconforto porque não corro há quatro dias, contando com o de hoje.

Desconforto ou pré-estado-de-descompensação?

É mais isso (basta ver a fotografia).

Uma espécie de ressaca, é isso que sinto, a ausência de algo que sustenta, alimenta, ajuda, transporta.

Mas, isto acaba por ser uma-quase-sessão-de-masoquismo.

Como disse, em cima, esta semana até tive um horário que me permitiu correr.

Foi opção comodista.

Ainda há bocado disse à minha senhora: “ya, ganda corredor, não corro há quatro dias, contando com o de hoje, porque fiquei na cama, enquanto os outros continuam a fazer aquilo que gostam”.

Ao que, do alto da sua infinita paciência me respondeu: “também tens direito a ficar na cama, não és nenhum profissional e se isso te dá prazer, não sei porque não o faças”.

“Porque parece que estou adormecido, dormente, lá está, com o diabo no corpo”.

Mas, como sempre, ela tem razão.

Por isso estou para aqui a desabafar. A ressacar que nem um doido.

Isto faz mal a uma pessoa.

O ressacar.

O incrível é como é que me deixei chegar a este estado;

Provocar auto-sofrimento, auto-flagelar-me, credo.

Vou preparar a vingança, que a mochila está pronta desde terça feira.

Amanhã, quando sair do trabalho entrego o carro à dona, calço os ténis e, ai cum carago se não me vingo!

Nem que faça uma meia maratona partida em quatro.

Mas, vou vingar-me, isso vou.

Como disse no início, interesse este texto tem pouco, ou praticamente nenhum, mas sinto-me muito mais leve agora.

Lá está, leve (como uma pena é impossível), leve, corrida.

Aviso póstumo, que avisos prévios é no início:

Pimba, já foste(s)!

Só espero que não esteja frio!

15.01.17

A MINHA CABEÇA A ANDAR À RODA


The Cat Runner

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“O que é que andas aqui a fazer?”.

“Existo”.

“Este pode ser o ponto de partida. Partimos sempre para chegar”.

“Existo”.

“Como qualquer um de nós, também tu já imaginaste alguma vez encontrar o Santo Graal da vida”.

“Não, como poucos de nós, limito-me a existir”.

“Existir ou viver?”.

“Uma e a mesma coisa”.

“O Santo Graal da Vida, a sua busca, é a corrente que faz o rio fluir para a sua foz. O homem busca algo, busca a vida”.

“O homem busca algo na vida, ele não busca a vida, ele é incapaz de, apenas, existir.”.

“Isso torna-o em alguma coisa?”.

“Transforma-o em um indigente da alma, num pedaço de matéria, ávida por agarrar o Graal, que ninguém jamais agarrou, nem Jesus.

Era fake news, essa coisa do Cálice”.

“Estamos na era da pós-verdade, verdade?”.

“Mentira.

Estamos na era da mentira, da crueldade intelectual, na era das fake news, que matam as real news, que se misturam, em cumplicidades obscenas, em hard news híper-reais.

Mais que a era das fake news, vivemos a era das híper-real news”.

“E, dizes apenas que existes?!”

“Viver, existir é viver.

Começaste por perguntar o que andava aqui a fazer. Respondi-te: existo!”.

“E eu questionei se existir era viver!”.

“E eu respondi afirmativamente.

Insististes em puxar-me para o banal. O Santo Graal, o mal do mundo, que o mundo julga ser o seu mais precioso bem”.

“Achas, por isso, que a maldade existe?”.

“Não é a busca que move o homem, o homem que não vive, que não se dá conta que existe, a busca pelo seu Santo Graal personalizado?”.

“E, isso torna-o mau?”.

“Isso descompensa os tempos. Desde o início do tempo.

Abriga o pior do diabo.

Passeia-te pela política, senta-te na esplanada da Justiça, na bancada do futebol, liga-te, por segundos apenas, ao mundo virtual, espreita a janela das notícias, e vê se ainda lhes descobres as diferenças. Faz tudo isso”.

“Porque cada um busca o seu Santo Graal?”.

“E, perde a capacidade de olhar, a nada, olha a nada, e pisa, e passa por cima e por baixo, e chuta para o lado, e descarta, e empurra, e violenta, e viola, e infringe, e impune, sempre impune, mesmo no dia em que é algemado”.

“Isso era uma prisão da alma, pensar que a busca do Graal é o que move cada cabeça”.

“Vivemos, por dentro. Enquanto não nos limitarmos a existir”.

“Toca a utopia!”.

“Não é o Santo Graal isso mesmo?”.

“Depende, se tiveres um Porsche, uma casa enorme, uma conta bancária sem fundo, uma vida feliz, é isso mesmo, poder, ter”.

“E, não existes.

Morres por dentro, enquanto festejas por fora”.

“No fim, morremos todos!”.

“E, não acredito que alguém se volte a lembrar do Santo Graal, puta que o pariu!”.